A religião securitária
Pelas reações que suscitam, os repetidos tumultos urbanos refletem a evolução da paisagem política francesa, que passou pelo rolo compressor da segurança e da identidade
Vaulx-en-Velin, 6 de outubro de 1990. Thomas Claudio, 21 anos, circula de moto quando é atropelado por uma viatura da polícia. Ele morre na hora. Durante quatro dias, a cidade fica em chamas. Lojas são saqueadas, veículos incendiados, escolas depredadas, bombeiros feridos, jornalistas atacados. “O desemprego e a ausência de formação dos jovens são responsáveis por esses acontecimentos”, analisou na ocasião um deputado-presidente de direita da Câmara Municipal, Nicolas Sarkozy.1 Clichy-sous-Bois, 27 de outubro de 2005. Perseguidos pelas forças de segurança, dois adolescentes, Zyed Benna e Bouna Troaré, se refugiam em uma central de energia e morrem eletrocutados. Explodem conflitos em Seine-Saint-Denis, que logo se estendem ao conjunto do país. Após três semanas de revolta, o presidente Jacques Chirac lamenta que “alguns territórios acumulem desvantagens e dificuldades em demasia” e conclama a combater “esse veneno para a sociedade que são as discriminações”. Fustiga igualmente “a imigração irregular e os tráficos…
A estupidez humana é realmente imensurável. É certo que todo ser vivo merece respeito. Entretanto, milhões de seres vivos são sacrificados por conta da plutocracia que ocupou o lugar da democracia e, no entanto, ninguém se incomoda com isso. Na página 126 do livro Capitalismo Criminoso, de Stephen Platt, um verdadeiro absurdo a fortuna roubada de um povo pobre pelo filho do presidente da Guiné Equatorial. Ouvi que o escoiceador de bola Neymar ganha dois milhões de reais por dia. Sobre isso, não se move uma palha.