Argélia, sessenta anos da Independência
Em 5 de junho de 1962, a França deixava a Argélia após mais de um século de dominação colonial. As comemorações, contudo, chegam em um clima social morno. A emigração clandestina piora, enquanto o regime, fortalecido financeiramente pelo aumento dos combustíveis, mantém a repressão para impedir o retorno das manifestações populares de 2019
“Como dizer ao mar que nos afogamos na terra?” Escrita num árabe castigado numa parede do bairro de Ain Naâdja, em Argel, e reproduzida numa página do Facebook intitulada “Através do lahyout (as paredes)”, a frase resume um estado de espírito feito de amargura, cansaço e falta de esperança diante do futuro. À medida que o 5 de Julho se aproxima, data do sexagésimo aniversário da independência, os argelinos são regularmente confrontados à contagem macabra dos que perecem em busca de deixar seu país, custe o que custar. Em meados de maio, dezenove pessoas se afogaram depois do naufrágio de sua embarcação ao longo da costa de Fouka, 55 quilômetros a oeste da capital.1 Em 4 de junho, a morte de dois amigos que tinham escapado da vigilância do aeroporto Houari Boumediene, de Argel, para se esconder no bagageiro de um avião da Air Algérie provocou comoção geral. Os dois…