As dificuldades de aprender armênio na Turquia
Quase um século depois do genocídio (1915-1916), 60 mil armênios vivem na Turquia. Em Istambul, essa comunidade dispõe de uma rede de escolas: dezesseis estabelecimentos que educam cerca de 3 mil alunosAziz Oguz
“Não feche a porta do escritório.” Mari Nalci está de cara fechada e olhar desconfiado. Com suas roupas escuras e rígidas, a diretora da escola Tarmanças, no cargo há 25 anos, tem ares de “dama de ferro”. “Por que você se interessa por esse assunto?”, pergunta. Os armênios da Turquia são prudentes, sobretudo quando se aborda a questão das escolas. “O problema da segurança dos estabelecimentos escolares tomou uma grande importância, em particular desde o assassinato de Hrant Dink”, nos tinha avisado Garo Paylan, o responsável pelas escolas armênias na Turquia. O assassinato do jornalista por um nacionalista turco em 2007 de fato reviveu os medos.
Na escola de Mari, essa desconfiança se materializa em todo lugar: arsenal de câmeras de vigilância, barras nas janelas e até vigia na porta. Sorridente e aberto, Attila Sen parece, contudo, tão intransigente quanto um guarda de prisão: sem hora marcada, impossível entrar. “Nunca houve problema, mas alguns moradores do bairro veem a escola com maus olhos. Felizmente, o preconceito dessas pessoas desaparece no momento em que vêm nos ver.”
O estabelecimento se situa em Ortaköy, perto da ponte sobre o Bósforo que liga as duas costas de Istambul. Era um dos bairros mais cosmopolitas da antiga capital do Império Otomano: vários judeus, gregos e armênios viviam ali. Além de duas mesquitas, encontramos no local quatro igrejas e duas sinagogas. Hoje, os curdos substituíram os armênios; apenas um punhado de famílias ficou. Além disso, 150 alunos da escola vêm de outras partes da megalópole, graças ao transporte escolar assegurado por micro-ônibus.
Existem dezesseis escolas armênias na Turquia – das quais cinco são colégios –, nas quais estudam cerca de 3 mil alunos. Todas foram introduzidas em Istambul, onde vive a quase totalidade dos 60 mil armênios do país. A única condição de admissão: ter ao menos pai ou mãe de origem armênia.
A história dessas escolas começa no Império Otomano. No antigo regime imperial, cada comunidade tinha a responsabilidade de organizar seu sistema educativo. Havia milhares de estabelecimentos. Hoje, não sobrou mais nada: o genocídio armênio de 1915-1916 (entre 1 milhão e 1,5 milhão de mortos, ou seja, quase dois terços da população armênia do Império Otomano) e, depois, os massacres e êxodos sucessivos esvaziaram as escolas.
A República turca, criada por Mustafá Kemal em 1923, não questionou a existência dessas instituições de comunidades étnicas, preferindo instaurar um sistema híbrido: o Estado introduziu as escolas sob sua tutela, mas sem torná-las públicas. Ele impôs a cada estabelecimento um diretor adjunto turco, nomeado pelo Ministério da Educação. Os professores remunerados pelo Estado asseguravam os cursos de cultura turca (língua, história e geografia); as outras matérias eram ensinadas em armênio por professores pagos pelas próprias escolas por meio de suas fundações.
Em 1974, ano da intervenção militar turca no Chipre, medidas foram tomadas contra as comunidades cristãs. “Antes, o Estado financiava as escolas, mesmo que de maneira muito fraca, em virtude do Tratado de Lausanne [assinado em 1923 com as potências europeias]. Mas, desde 1974, não aporta nenhum tipo de ajuda”, lamenta Paylan. As escolas são ligadas a fundações. Se estas tiverem um patrimônio, as rendas geradas permitem o financiamento; caso contrário, elas só podem contar com a caridade de sua comunidade, pois, ainda que privadas, essas escolas não são pagas. Os pais não arcam com a escolarização dos filhos. Se lhes é solicitado, o pedido é para depositar uma contribuição que varia segundo a renda da família.
Dois grandes obstáculos
A missão dessas escolas de comunidades étnicas é importante: elas devem manter vivas uma língua e uma cultura. Mas enfrentam dois grandes obstáculos: o Estado turco e o passar do tempo. O armênio não é ensinado em mais nenhum outro lugar do território turco. Nenhuma universidade oferece curso de língua nem de civilização armênia; e a Turquia não forma nenhum professor. Selecionados pela fundação da escola – cuja escolha é em seguida validada pelo Ministério da Educação –, os professores apresentam perfis sociais muito diversos. Todos armênios, eles aprenderam a língua no seio familiar antes de aperfeiçoá-la de maneira autodidata.
Mari Kalayaci veio à docência por acaso. Diploma de Administração no bolso, ela não encontrava trabalho no seu setor. Foi então aconselhada a se reorientar. Há sete anos, ela dá aula de línguas. Mari está em Ortaköy faz dois anos e não esconde que, sem esse trabalho, jamais poderia ter conhecido tão bem sua língua materna: “Aprendi muitíssimo quando comecei a ensinar. E isso continua”, sorri. Seus estudantes são menos receptivos: “O armênio é uma língua difícil. Alguns alunos não têm dificuldades, mas outros sofrem um pouco”. Os alunos de Ortaköy falam na maior parte do tempo em turco entre eles, mesmo na escola. “Eles vivem na Turquia. É normal que falem melhor turco que armênio”, afirma a diretora.
Mas a dificuldade da língua não é a única questão. O sistema educativo turco não favorece em nada sua aprendizagem. “No colégio, alguns de meus amigos iam pouco às aulas de armênio”, conta Murat Gozoglu, que fez toda sua formação escolar em escolas armênias. De fato, os exames dos grandes vestibulares nacionais para entrar em colégios e em universidades são em turco.
Nenhum dos pais matricula os filhos em uma escola da comunidade. E os que são enviados para lá não fazem toda sua formação escolar: a maior parte para no fim do primário ou do colegial. “Os estabelecimentos armênios, sobretudo os colégios, não têm muito boa reputação. Às vezes, eles são vistos como estepes. Os pais preferem enviar os filhos a um estabelecimento francês, inglês, alemão etc.”, explica Nora Mildanoglu, que estudou em uma escola primária armênia, antes de mudar para a escola norte-americana Robert de Istambul, uma das mais prestigiosas da Turquia.
As mentalidades evoluíram na Turquia. O país se abriu a suas minorias, que afirmam mais facilmente suas identidades. “Hoje, eu não tenho mais medo de falar armênio lá fora”, constata Mari Kalayaci. “Quando pequena, eu nunca dizia ‘mamãe’ à minha mãe, mas sim ‘anne’ [em turco], para que não soubessem que éramos cristãos.” No entanto, lentamente, essa língua desapareceu da Turquia e, com ela, sua cultura. Os armênios ficaram preocupados com isso. “Nas famílias se fala muito pouco o armênio. Não há mais cultura popular armênia”, assusta-se Paylan. “Aos filhos, contenta-se em ensinar os rudimentos, para que eles possam se virar no dia a dia.”
Uma constatação que quase não surpreende Sarkis Seropyan, cofundador do Agos, o principal veículo de imprensa da comunidade: “Poucos armênios da Turquia falam a língua. A prova é que a maioria dos artigos do Agosé em turco”. Apenas quatro das 24 páginas são redigidas em armênio. “Caso contrário, ninguém iria comprar o jornal”, constata, lúcido, Seropyan.
A comunidade armênia compreendeu que suas escolas não podem sozinhas fazer reviver sua língua. Mas tirá-la de seu cerco será uma tarefa complicada: quando da última grande reforma do ensino, adotada este ano, o ensino do armênio foi recusado nas escolas públicas. Será preciso, então, se contentar com o sistema atual.
Aziz Oguz é estudante de jornalismo da Universidade François-Rabelais (Tours).