As duas mortes de Aldo Moro
Que caminho pode seguir a ficção quando se trata de abordar o sequestro e a morte, pelas Brigadas Vermelhas, de um dos mais ilustres políticos da Itália do pós-guerra? Há cerca de vinte anos, o cineasta Marco Bellocchio optou por uma narrativa mais próxima do sequestro. Com o cinema, a realidade é restituída pelo que ela é: uma sucessão de ilusões e loucuras
O que têm em comum o cineasta Marco Bellocchio e o político Aldo Moro? Moro foi um dos políticos mais influentes do pós-guerra. Bellocchio fez a ponte entre o neorrealismo e a Nouvelle Vague, inventando um cinema moderno cuja evolução ele acompanhou através das mil e uma crises da indústria, reinventando-o e ao mesmo tempo permanecendo fiel à sua trindade particular: família, religião e doença mental. Moro era católico; Bellocchio, mais anticlerical. Um era político; o outro participou de manifestações com os que queriam derrubar o sistema. Eles pertencem a duas gerações diferentes, mas, em certo sentido, nasceram com dois anos de diferença. Moro, dirigente da Democracia Cristã, nasceu politicamente em 1963, com o Parlamento que ele presidia, o primeiro desde o pós-guerra a fazer a integração dos ministros socialistas – obra-prima política graças à qual conseguiu romper a unidade da esquerda, marginalizar a extrema direita e garantir, para si…