Como as cidades do estado de São Paulo se destacam no ranking do bem-estar?
Investir em políticas públicas que integram desenvolvimento urbano e conexão social é apenas uma questão de qualidade de vida ou uma necessidade estratégica para o futuro das cidades?
Ao refletir sobre a felicidade urbana, percebo que essa busca exige um olhar atento para políticas públicas que garantam moradia acessível, infraestrutura sustentável e áreas verdes. Um estudo realizado pela Revista Bula, que avaliou o ranking da felicidade entre cidades paulistas, revelou que, mesmo com investimentos significativos, a riqueza econômica por si só não garante a felicidade dos cidadãos.
A cidade de São Paulo é um exemplo claro dessa contradição. Apesar de ser o município mais rico do país e da América Latina, ocupa o 50º lugar ou última posição no ranking. Isso me faz pensar no quanto a proximidade com a natureza, as conexões autênticas e um forte senso de comunidade podem pesar mais do que apenas riqueza econômica.
Essa reflexão nos leva a perceber que a felicidade urbana não pode ser atribuída a uma única cidade. É preciso valorizar um conjunto de municípios que promovem o bem-estar e suas características particulares, assim como o investindo em educação, políticas inclusivas, economia, mobilidade, preservação ambiental e inovação. Esses aspectos precisam ser não só prioritários nos planos governamentais, mas também perceptíveis no cotidiano dos cidadãos.
O levantamento da Revista Bula destaca cidades que se sobressaem em infraestrutura, segurança, sustentabilidade e qualidade de vida, sendo a maioria delas do estado de São Paulo. Diante desse panorama, algumas cidades se destacam por suas características únicas, garantindo melhores condições de vida para seus habitantes. Um exemplo claro é São José dos Campos, que ocupa a segunda posição no ranking, impulsionada por seu polo tecnológico e iniciativas sustentáveis. Gavião Peixoto, em 4º lugar (8,79), combina desenvolvimento industrial com segurança e serviços públicos eficientes. Campinas também se destaca, ficando na 7ª posição com 8,77, por investir em inovação.

Outras cidades que me chamam a atenção são Vinhedo (6ª), São Caetano do Sul (10ª), Valinhos (11ª) e Araraquara (12ª). Elas equilibram desenvolvimento urbano com qualidade de vida, preservação ambiental e atividades culturais que fortalecem o bem-estar coletivo. Sorocaba (15ª), Jaguariúna (16ª) e Gabriel Monteiro (21ª) também têm em comum a combinação de infraestrutura robusta com políticas públicas voltadas para a comunidade.
Já entre as últimas posições, vemos grandes cidades como São Bernardo do Campo (27ª), Paulínia (28ª) e, na última posição do estado, São Paulo (50ª). Isso mostra o grande desafio que é equilibrar desenvolvimento econômico e qualidade de vida em metrópoles complexas.
Penso que a verdadeira transformação para cidades mais felizes depende de políticas públicas que integrem desenvolvimento econômico com práticas que priorizem o cuidado com as pessoas, promovendo qualidade de vida e o fortalecimento dos vínculos comunitários. Para isso, é essencial investir não só na infraestrutura — como moradia, transporte, áreas verdes, saúde e educação — mas também em espaços e iniciativas que incentivem a convivência, o senso de pertencimento e as relações humanas, que são fundamentais para o bem-estar coletivo.
Esse cuidado com as relações humanas torna-se ainda mais urgente diante do crescimento da solidão, uma das principais ameaças à saúde pública global. Em 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu oficialmente a solidão como prioridade de saúde pública, destacando que seus efeitos são comparáveis aos de fatores de risco como tabagismo e obesidade. No Brasil, pesquisas indicam que 15% da população se sente muito solitária, enquanto 38% relatam sentir-se razoavelmente solitários.
Esse crescente isolamento social se manifesta em fenômenos contemporâneos, como o interesse pelo mercado dos bebês reborn. Dados do Google Trends revelam que o Brasil lidera o ranking global de buscas por esses bonecos hiper-realistas. De maneira semelhante, muitos jovens tentam preencher esse vazio emocional dedicando horas aos dispositivos digitais, seja imerso em jogos online, apostas como as Bets ou em interações superficiais nas redes sociais. A promessa de lucro rápido e a fuga da realidade oferecida pelos jogos de aposta, por exemplo, podem gerar ciclos de vício e isolamento, especialmente quando a busca por pertencimento e conexão social não é satisfeita no dia a dia.
Essa realidade reforça a urgência de estratégias que combatam o isolamento e promovam o bem-estar social. Nesse sentido, os polos de felicidade urbana emergem como iniciativas essenciais, oferecendo espaços de convivência, atividades culturais e esportivas, e suporte emocional, esses polos têm o potencial de reconstruir o tecido social, promovendo o bem-estar coletivo e combatendo a epidemia de solidão. Iniciativas que incentivam a interação comunitária e o fortalecimento dos laços sociais são fundamentais para transformar as cidades em ambientes mais acolhedores e saudáveis.
Frente a esses desafios, investir em políticas públicas que integram desenvolvimento urbano e conexão social torna-se não apenas uma questão de qualidade de vida, mas uma necessidade estratégica para o futuro das cidades.
Priorizar a saúde mental e a conexão social não é apenas uma medida de bem-estar, mas uma estratégia essencial para o desenvolvimento sustentável e harmonioso das cidades e da sua população. Afinal, como afirmou Platão, ‘Esta cidade é o que é porque nossos cidadãos são o que são.’
Ranking das cidades mais felizes de São Paulo
O estudo destaca municípios que se sobressaem em infraestrutura, segurança, sustentabilidade e qualidade de vida. Entre os destaques estão:
(2ª) São José dos Campos (8,85) – Polo tecnológico e industrial, abriga centros de pesquisa e empresas de alta tecnologia. Sua infraestrutura urbana e iniciativas voltadas para a sustentabilidade garantem uma elevada qualidade de vida.
(4ª) Gavião Peixoto (8,79) – Com uma população de cerca de 5 mil habitantes, destaca-se pela presença da Embraer, baixos índices de violência e serviços públicos eficientes.
(6) Vinhedo (8,68) – Vinhedo oferece um equilíbrio entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental. A cidade destaca-se pela presença de áreas verdes, eventos culturais como a Festa da Uva e um ambiente propício para o turismo rural e enoturismo.
(7) Campinas (8,77) – Um dos principais polos tecnológicos do Brasil, investe em inovação e sustentabilidade, exemplificado pelo Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (HIDS).
(10) São Caetano do Sul (8,75) – Reconhecida por seu alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e infraestrutura urbana de qualidade, além de baixos índices de violência.
(11) Valinhos (8,73) – Combina desenvolvimento urbano com tradição cultural, destacando-se pela Festa do Figo e Expogoiaba e infraestrutura de saúde robusta.
(12) Araraquara (8,71) – Conhecida como “Morada do Sol”, tem um PIB per capita elevado e abriga grandes empresas como Lupo e Cutrale, além de investimentos em infraestrutura e educação.
(15) Sorocaba (8,70) – Equilibra desenvolvimento industrial com qualidade de vida, investindo em mobilidade urbana, sustentabilidade e preservação ambiental.
(16) Jaguariúna (8,69) – Líder em qualidade de vida entre municípios de médio porte, destacando-se em educação, urbanismo e economia.
(21) Gabriel Monteiro (8,68) – Pequena e tranquila, tem políticas eficazes em saúde, educação e segurança, além de uma comunidade unida.
(25) Itatiba (8,67) – Reconhecida por sua infraestrutura urbana e opções de lazer, como o Zooparque e o spa Sete Voltas.
Na sequência temos São Bernardo do Campo (27º), Paulínia (28º), Americana (30º), Pirassununga (31º), Jundiaí (31º), Piracicaba (32º), Hortolândia (34º), Taubaté (35º), Pompeia (38º), Indaiatuba (40º), Nuporanga (41º), Santo André (43º), Águas de São Pedro (44º), São José do Rio Preto (46º), São Carlos (47º), Barueri (49º) e São Paulo (50º).
Rodrigo de Aquino é comunicólogo e executivo na área do bem-estar, felicidade e entretenimento com impacto social. É embaixador em São Paulo da ONG Doe Sentimentos Positivos, Climate Reality Leadership Corp 22 e fundador do Instituto DignaMente.