Contra a pobreza e a violência
Para as organizadoras da marcha trata-se de uma iniciativa ampla que envolve educação, cidadania, criatividade e a constituição de uma rede mundial. Previsto para o outono do ano 2000, o evento mobiliza mais de quatro mil grupos de mulheres em 153 paísesFrançoise David
Em 1995, a Federação das Mulheres do Quebec, organizou uma marcha de 200 quilômetros por “pão e rosas”, uma marcha de mulheres contra a pobreza. Estimulada pelo sucesso, decidiu voltar à carga e propor aos movimentos feministas de todos os cantos do mundo uma Marcha de Mulheres contra a Pobreza e as Violências de que são vítimas. Previsto para o outono do ano 2000, o evento mobiliza mais de quatro mil grupos de mulheres em 153 países.
Para as organizadoras da marcha trata-se de uma iniciativa ampla que envolve educação e cidadania, de um exercício de criatividade sem precedentes e da constituição de uma rede mundial. As feministas engajadas neste movimento são oriundas, na sua maioria, de grupos implantados nas realidades cotidianas, da defesa dos direitos humanos, passando pelo sindicalismo e a cooperação internacional. Mulheres das cidades e do campo, jovens de idade e de espírito, de todas origens e crenças, misturadas mas com uma esperança no coração: fazer com que o mundo seja melhor.
Uma globalização de efeitos devastadores
Elas sabem que a globalização desenfreada dos mercados, conjugada às idéias patriarcais presentes em diversos graus em todos os países, levou ao empobrecimento e a uma crescente submissão de milhões de mulheres através do mundo. Que um dos sinais é o aumento incessante do tráfico de mulheres para uma indústria do sexo bilionária. Ou a persistência de costumes bárbaros, como a castração feminina. Ou, nos países do Norte, os claros cortes nos programas sociais, que fazem pesar sobre as mulheres a sorte de todos aqueles ou aquelas que o Estado passa a deixar de cuidar.
São inúmeras as razões para realizar a marcha, as mulheres têm pelo menos duas mil, como expressam suas palavras de ordem. A Marcha Mundial do ano 2000 desafia, com um grito de revolta e exigências precisas para o novo milênio, todos os que têm poder . As mulheres se armaram com uma plataforma de reivindicações dirigidas às Nações Unidas, ao Fundo Monetário Internacional, ao Banco Mundial. [1] Suas reivindicações vão de encontro às dos militantes e das militantes engajados na luta contra uma globalização com efeitos devastadores, às das pessoas que se encontram no primeiro plano da defesa dos direitos humanos, em suma, às propostas de todos e todas que trabalham para que este mundo seja mais justo.
Mobilizações regionais e nacionais
As mulheres também elaboraram plataformas nacionais e apresentarão reivindicações muito concretas aos seus governos. Assim será, por exemplo, na França, por ocasião da grande manifestação nacional que ocorrerá no dia 17 de junho, para reivindicar empregos estáveis e decentemente remunerados, a estrita aplicação das leis existentes reprimindo as violências contra as mulheres e menores, ou garantindo direitos iguais para mulheres estrangeiras. Finalmente, elas se juntarão às mulheres do mundo para reivindicar a aplicação de uma taxa sobre as transações financeiras internacionais e a abolição das dívidas dos países pobres.
No outono, os outros países verão milhares de mulheres — e homens — se mobilizar nas marchas nacionais e até, em alguns casos, nestes encontros regionais. Na Europa, por exemplo, eles se encontrarão em Bruxelas no dia 14 de outubro. No dia 15 de outubro, uma delegação internacional abrirá a marcha nos Estados Unidos e passará diante do Banco mundial e do FMI, em Washington. Finalmente, no dia 17 do mesmo mês, um encontro mundial de mulheres acontecerá em Nova York e elas depositarão nas Nações Unidas milhões de cartas de apoio à Marcha recolhidas por militantes de todos os países participantes. Duzentas delas se encontrarão com o secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan.
No dia 18 de outubro do ano 2000, todas estas feministas de coração e de ação não terão ainda resolvido a totalidade dos problemas. Mas terão feito compreender às populações e aos governantes que acabou o tempo em que tudo isso ficava oculto! As mulheres não aceitarão nunca mais o papel secundário, o desprezo velado das instituições, a