Dois espectros assombram o Chile
De um lado, um antigo médico, as urnas e a democracia. Do outro, um general golpista, metralhadoras e a ditadura. Entre os protagonistas de 11 de setembro de 1973, a memória chilena deveria ser capaz de escolher facilmente um dos lados. No entanto…
“Saibam que, muito antes do que se pensa, de novo se abrirão as grandes alamedas por onde passará o homem livre, para construir uma sociedade melhor.” Em todos os lados do espectro político, quase todos os chilenos conhecem o último discurso de Salvador Allende, chamado de “discurso das grandes alamedas”, do qual foi retirada essa citação. Foi proferido em 11 de setembro de 1973, durante o golpe de Estado fomentado pelo general Augusto Pinochet. Allende, eleito presidente do Chile em 1970, estava trancado no palácio presidencial de La Moneda com algumas pessoas próximas e armas nas mãos. Sabia que não sairia vivo do edifício presidencial. Nesse último enunciado à população, ele pretendia deixar “uma lição de moral contra o crime, a covardia e a traição”, assim como o testemunho de um “homem digno, que foi fiel à lealdade dos trabalhadores”. Cinquenta anos depois, como ele previu, o “metal tranquilo” de…