Em meio ao fake history e fake news, é tudo verdade
O governo tem proposto, como prioridade, acabar com o dinheiro fácil para os partidos políticos, habitados por pessoas absolutamente honestas e preocupadas com o bem público. Tenho certeza, se os governados, na nossa democracia real, soubessem como interferir nos fundos partidários e eleitorais resolveriam aumentá-los para que os nossos coitados políticos tivessem mais verbas.
Como professor de uma universidade pública, fui insultado por defensores do governo como um privilegiado, vagabundo, que não produz nada para a sociedade. Então, apresento algumas percepções preliminares das minhas pesquisas sobre os benefícios que o governo tem feito para indígenas, pobres, favelados, negros, trabalhadores, aposentados, mulheres, LGBTs, estudantes, artistas, garantindo-lhes a mais ampla liberdade e respeito.
Com dez meses de mandato, já podemos identificar mudanças absolutamente significativas. Como um militar no governo, ele pode ser nacionalista ou “entreguista” – subserviente. Sem dúvida, a privatização da Petrobras e a entrega das reservas do pré-sal para empresas internacionais é algo categoricamente patriótico. Assim, como a clara exaltação dos EUA, de seu governo e até da sua bandeira.
A demissão de funcionários do IBAMA foi fundamental para uma das nossas pautas prioritárias: garantir as reservas indígenas, com a autonomia dos povos originários, e a preservação da fauna e da flora da floresta amazônica. Essa é a pauta humanística do governo que corretamente impede o curso de extermínio de nativos que ocorria há mais de 500 anos. A negação da demarcação de quilombos para negros, os quais nunca trabalharam, nem foram escravizados, nem construíram nada nesse país, constitui-se como uma prova de amor e a consequente negação do racismo.
A liberação das armas tem cumprido seu papel já dito na campanha eleitoral, acabando com a violência no Brasil. É motivador… Justamente nesse primeiro ano do governo não temos um recorde histórico de pessoas assassinadas pela polícia. Isso seria verdade se no Rio de Janeiro, entre janeiro e agosto de 2019, por exemplo, 1.249 pessoas tivessem sido assassinadas pela polícia, média de cinco por dia, apresentando um crescimento de 16% na comparação com o mesmo período de 2018. O combate ao poder paralelo das milícias e a cobrança nos quartéis para não matar tem sido exemplar. Fato é que as milícias nunca foram aliadas do governo, nem jamais serão. As opções por dificultar o acesso a armas têm minado o seu poder. Aliás, negros e pobres não são mais exterminados, nem presos. Essa foi uma mudança significativa para a inclusão social.
Por outro lado, como reflexo do não alinhamento conservador entre militares e igrejistas, estes têm defendido com toda força os valores cristãos de repartir do pão, de amor ao próximo, garantia da vida e respeito ao diferente. A defesa de um dos mandamentos bíblicos: “não matarás” tem sido a tônica. Como consequência, é muito salutar ver pastores virem à TV criticarem o extermínio de pobres e negros, que outrora acontecia.
A pronta ação na defesa da retirada do petróleo das praias do nordeste, bem como a rápida descoberta dos responsáveis pelos crimes ambientais, assim como a proibição de diversos agrotóxicos configura em exemplo de ação e de preocupação com a natureza e com a saúde da população. A negação do aumento do salário mínimo com relação aos índices praticados anteriormente foi ótimo para os que dependem dele para sobreviver, aproximadamente 67 milhões de brasileiros.
O Chile, outrora principal referência para o atual governo, está de vento em polpa, tal como o Equador e os EUA. Não existem protestos populares por lá. Mas se existissem, os governistas diriam que são pessoas manipuladas indo para as ruas. Na Argentina, os manipulados fizeram perder o candidato neoliberal aliado do governo brasileiro.
Segundo a imprensa comercial, o partido do presidente receberá 110 milhões em 2019 – e a expectativa é que, em 2020, o valor fique entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. Além do fundo partidário existe ainda o fundo eleitoral, cuja previsão para 2020 é que seja superior a R$ 200 milhões. Houve em 2019 um aumento de 48% do valor desse fundo implementado pelo governo federal. Mas com certeza o presidente não soube disso, pois se soubesse não permitiria tal absurdo. Tudo só pode ter sido feito a sua revelia.
Seria muita avareza se a família do presidente lutasse por esses valores no interior do partido e isso fizesse com que ele rachasse. Algum intelectual “esquerdopata” poderia dizer que esses valores seriam bem-vindos para escolas e hospitais públicos, mas certamente não são necessários nessas instituições. Seguramente, o partido do presidente rachou por terem diferenças sobre desemprego que atinge 12 milhões de pessoas, sobre como diminuir as desigualdades no país, ou mesmo acabar com a fome e a miséria que já atingem 32 milhões de brasileiros. Essas são suas principais pautas. De maneira alguma se prioriza dar um golpe no governo da Venezuela. Aliás, esses milhões de miseráveis brasileiros devem ser fruto da ação do governo Maduro, pois no Brasil não existe nenhuma pessoa abaixo da linha da miséria.
Em resumo, o governo tem proposto, como prioridade, acabar com o dinheiro fácil para os partidos políticos, habitados por pessoas absolutamente honestas e preocupadas com o bem público. Tenho certeza, se os governados, na nossa democracia real, soubessem como interferir nos fundos partidários e eleitorais resolveriam aumentá-los para que os nossos coitados políticos tivessem mais verbas.
A melhor de todas as medidas foi a criação do décimo terceiro para o bolsa família. De maneira alguma, foi uma medida eleitoreira, pois os atuais governantes jamais criticaram e sempre defenderam o programa para os pobres.
A retirada dos direitos para aposentados não só serviu para os civis. Os militares e os próprios políticos foram incluídos. Seria um absurdo se os civis tivessem uma regra e os militares e políticos tivessem outras, inclusive com reordenação da carreira militar, aumentando o salário para os homens de farda.
As medidas liberalizantes na economia de tão urgentes que eram já apontam para um crescimento econômico em níveis altíssimos. Aprendendo com a História, adorada pelos militantes de extrema direita, diga-se de passagem, o governo tem feito o mesmo que realizado no pós 1930 em praticamente todo o mundo, adotando políticas keynesianas, cujo investimento público em obras e estatais foi a tônica para reaquecer a economia capitalista.
O Iluminismo surgiu como reflexo de uma nova Era, baseada na razão e na ciência, e o governo segue à risca seus preceitos, impedindo que sejam atacadas em favor de um obscurantismo, típico da Idade Média, quando religião e política se misturavam. A liberdade que tem vigorado nos meios culturais para artistas, cineastas e intelectuais de modo geral; é seu maior exemplo. Trata-se definitivamente do fim da censura e da perseguição. É notável a intervenção na polícia federal, no ministério público, na procuradoria geral da república e até nas Universidades ao respeitar os escolhidos para esses cargos. Ninguém foi assediado, demitido ou ameaçado por razões ditas ideológicas em nenhuma instituição federal. Na ciência política, chamamos essas medidas de republicanismo clássico.
Como educador, fico muitíssimo feliz em ver a implementação de projetos educacionais que priorizam a escola integral. A criança entra na escola pela manhã, recebe acolhida e uma boa refeição, depois vai assistir aulas. No início da tarde, desce para o almoço. Depois faz atividades físicas, aprende informática e ainda tem um leque de disciplinas eletivas que possa escolher. No final do dia, esse aluno janta e vai para casa encontrar seus pais que tiveram um dia de trabalho sem se preocupar com o filho. Toda essa educação é realizada com muito amor e carinho, sem coerções típicas de uma sociedade autoritária, hierárquica, igrejistas e militarista, pois sabemos que, para a construção de crianças criativas, o ambiente de cooperação e de liberdade é o mais apropriado.
Parabéns ao governo por estabelecer essas metas como prioridade máxima, evitando a repressão como política escolar.
A saúde pública é outra prioridade do governo. As mudanças têm sido bastante significativas. O médico de família está funcionando a pleno vapor. As pessoas são acompanhadas por profissionais de saúde em suas casas. Assim, os índices de morbidade e mortalidade estão controlados e muitas enfermidades estão sendo evitadas. Tudo em um cenário de equidade e universalidade. Como é prioridade do governo, ele já encaminhou para aprovação do Congresso a implantação desse modelo em todo o país. Por enquanto, apenas as capitais estão contempladas.
Os detratores vão dizer que ainda temos pouco tempo para fazer uma análise mais apurada, mas isso é para um governo normal, para o nosso, é tempo até demais. Fica claro que com esses dez meses, já podemos fazer projeções absolutamente encantadoras.
Há rumores de que no Brasil, 1% dos mais ricos ganha mais do que os 50% mais pobres. Todavia, só seria um grande absurdo se 1% dos mais ricos ganhasse 32 vezes mais que os 50% mais pobres. Se chegássemos a esse patamar de aberração de desigualdade tenho certeza que o nosso governo já estaria se mexendo para vislumbrar taxar as grandes fortunas. Mas essas pesquisas devem ser invenções de cientistas “esquerdistas”, de professores universitários com doutorado, que devem ter o nosso desprezo.
Indubitavelmente, o governo jamais deixaria que valores fascistas, que nunca foram extintos, voltassem à superfície para amedrontar os que defendem igualdade, liberdade e fraternidade (lema da Revolução Francesa) atualizada em 1948, após a Segunda Guerra, como Direitos Humanos. Aliás, defender os direitos humanos é o dever de qualquer governo que não comungue das ideias de Hitler, como o caso do nosso.
Em resumo, cada dia podemos ver os novos benefícios. Não existe oportunismo eleitoreiro, nem privilégios para ricos e aliados. É por isso que o governo faz uma campanha para valorizar os professores e a ciência.
Para você que é defensor do governo, saiba que a profissão de historiador foi criada com o propósito de legitimar os governantes. Maquiavel, como pai da ciência política moderna, também nos ensinou a idolatrar o príncipe. Por fim, espero que tenha ficado claro que, em tempos de ausência de censura, perseguição e de plena garantia de direitos humanos, defender o governo, como você faz, é quase um dever. Seria absurdo se você fosse conivente com as políticas, ou ausência delas, que proporcionassem o extermínio de indígenas, negros, LGBTs, Marieles e Claudias, perseguição de adeptos de outras religiões que não as judaico-cristãs, misoginia, aposentados que perderam direitos, crescimento de milícias, liberação de agrotóxicos proibidos em outros países, laranjas na política, perseguição a quem pensa diferente. Se fosse assim, você não apoiaria. Mas em tempos de fake News e fake History, você dificilmente saberá a verdade. Termino citando a letra da música “Comportamento geral” de Gonzaguinha. Brasil acima de tudo!!
Você deve notar que não tem mais tutu
E dizer que não está preocupado
Você deve lutar pela xepa da feira
E dizer que está recompensado
Você deve estampar sempre um ar de alegria
E dizer: tudo tem melhorado
Você deve rezar pelo bem do patrão
E esquecer que está desempregado
Você merece
Você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba e amanhã, seu Zé
Se acabarem teu carnaval
Você merece
Você merece
Tudo vai bem, tudo legal
Cerveja, samba e amanhã, seu Zé
Se acabarem teu carnaval
Você deve aprender a baixar a cabeça
E dizer sempre: muito obrigado
São palavras que ainda te deixam dizer
Por ser homem bem disciplinado
Deve pois só fazer pelo bem da nação
Tudo aquilo que for ordenado
Pra ganhar um fuscão no juízo final
E diploma de bem-comportado
Você merece
Você merece…
Wallace de Moraes é professor da UFRJ. Doutor em Ciência Política. Autor dos livros: 1) “2013 – Revolta dos Governados ou, para quem esteve presente, Revolta do Vinagre”; 2) História das Plutocracias no Brasil; 3) A História da Venezuela que não te contaram na TV”; 4) “Governados por quem? História das plutocracias no Brasil e na Venezuela”. Bolsista da FAPERJ.