Escudos humanos
Para justificar o alto número de vítimas palestinas, Israel afirma que a responsabilidade é dos membros do Hamas, que operariam sem considerar a vida de seus compatriotas. De fato, o direito internacional considera crime de guerra proteger-se atrás de não combatentes. Mas uma questão permanece: quantos civis podem ser mortos para eliminar um único inimigo?
A expressão “escudo humano” é relativamente recente, mas a prática é tão antiga quanto a guerra. “No século VII”, observam os cientistas políticos Neve Gordon e Nicola Perugini, “os chineses usaram tribos ‘bárbaras’ na fronteira turco-mongol como ‘tamponamento’, enquanto os mongóis empregaram prisioneiros como escudos durante suas conquistas.”[1] O direito internacional hoje proíbe essa prática. O artigo 8º do Estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI) estipula que, em conflitos entre Estados, os beligerantes não podem “usar a presença de um civil ou de outra pessoa protegida para evitar que determinados pontos, áreas ou forças militares sejam alvo de operações militares”, pois se trata de crime de guerra. O direito consuetudinário amplia essa proibição para conflitos armados não internacionais.[2] No entanto, as guerras no Oriente Médio reacenderam essa instrumentalização das populações. Segundo Tel Aviv, a decisão do Hamas de se abrigar maciçamente atrás de escudos humanos justificaria a mortalidade dos civis…