Feminicídio, o itinerário de uma palavra
Em poucos anos, a palavra “feminicídio” cavou seu espaço na imprensa e nos discursos dos políticos. Porém, antes de se firmar no vocabulário comum, ela percorreu uma longa trajetória entre a militância de ambos os lados do Atlântico. Retomar suas origens e suas escalas permite contar a história de um sucesso político, bem como o risco de sua diluição de sentido
Designando um assassinato misógino, a palavra “feminicídio” surgiu nos países anglo-saxões. Posteriormente, o pensamento feminista e acadêmico latino-americano lhe deu uma amplitude maior. Sua chegada à França nos últimos anos veio enclausurada à esfera conjugal, algo que uma parte do movimento feminista hoje questiona. “Mal-entendido da paixão” (revista Rock & Folk, out. 2003). “Eles se amavam loucamente” (Paris Match, 31 jul. 2003). Após duas décadas, revisitar os artigos dedicados ao célebre assassinato de Marie Trintignant por Bertrand Cantat dá a medida das mudanças no tratamento midiático da violência masculina contra as mulheres. Falecida em razão de um edema cerebral em 1º de agosto de 2003, a atriz havia sido espancada até a morte pelo músico, que era seu companheiro havia cerca de um ano. A maioria dos jornalistas ignorou o histórico de violências perpetradas pelo criminoso. Por outro lado, a vida amorosa da falecida foi esmiuçada, como se fosse uma…