Fundamentalistas da Ásia Central
Desde 1996, para evitar que a dissolução da URSS e a criação de novas repúblicas na Ásia central envolvessem o Sinkiang num efeito-dominó, Pequim redobrou as iniciativas diplomáticas em relação a seus vizinhos para conter a ameaça islâmicaIlaria Maria Sala
Nos últimos anos, militantes islamistas uigures estabeleceram contatos estreitos com seus companheiros ideológicos na ex-União Soviética. Também mantêm laços com o Paquistão e a Arábia Saudita e inspiram-se nos rebeldes afegãos, ao lado dos quais alguns combateram desde 1986. Inúmeros uigures chineses estudaram nas madrasas (escolas islâmicas) e duas de suas organizações estão (ou estiveram), segundo Pequim, presentes no Afeganistão: o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental e o Partido Uigur da Ásia Central. Por outro lado, na mesma época, os taliban exportavam para a China, especialmente para o Sinkiang, duas de suas especialidades: o fundamentalismo religioso e, através do corredor de Wakhan, no extremo oriental do Afeganistão, a heroína a baixo preço.
Os taliban exportavam para a China, especialmente para o Sinkiang, duas de suas especialidades: o fundamentalismo religioso e a heroína a baixo preço
A província muçulmana no extremo ocidental da China está, portanto, diretamente relacionada às convulsões da Ásia central. Desde 1996, para evitar que a dissolução da União Soviética e a criação das novas repúblicas na Ásia central – mais suscetíveis de fornecer uma retaguarda aos movimentos pela independência – envolvessem o Sinkiang num efeito-dominó, Pequim redobrou as iniciativas diplomáticas em relação a seus vizinhos. Nasceu, por exemplo, o Grupo de Cooperação de Xangai (China, Rússia, Cazaquistão, Quirguízia e Tadjiquistão) que, com a inclusão do Uzbequistão em junho de 2001, foi rebatizado como Organização de Cooperação de Xangai. Além da promoção das relações econômicas entre os membros, trata-se, oficialmente, de conter a ameaça islâmica.
“Dois pesos e duas medidas”
Apenas dois meses antes dos acontecimentos de 11 de setembro de 2001, os seis países haviam assinado um documento de luta contra o terrorismo, visando, particularmente, a evitar a possibilidade dos militantes pró-independência uigures encontrarem asilo em qualquer dos países signatários. Até então, a chegada dos Estados Unidos à cena regional havia perturbado bastante os desejos de Pequim, chegando-se a responsabilizar Washington por jogar lenha na fogueira: os combatentes uigures capturados pelos russos na Chechênia, na primavera de 2000, haviam recebido formação na Turquia, país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) 1
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Após um momento de hesitação, a China, no entanto, tentou tirar proveito da situação criada pelos atentados de 11 de setembro. Ao denunciar os ativistas pró-independência uigures como “terroristas separatistas”, pediu que fossem inseridos na lista dos “terroristas” elaborada pela coalizão internacional. Não fazê-lo – frisou o porta-voz do ministério das Relações Exteriores da China, Sun Yuxi – equivaleria a aplicar “dois pesos e duas medidas”. Na Rússia, Vladimir Putin fez exatamente o mesmo jogo ao qualificar os chechenos como “terroristas islâmicos”.
(Trad.: