Gestão da segurança pública e florescimento da força policial
O alto comando das polícias está preparado para promover uma gestão positiva e humanizada, ou ainda perpetuam modelos autoritários de um passado militarizado?
A segurança pública é uma das maiores preocupações da sociedade brasileira. De acordo com pesquisas realizadas pela IPSOS, 41% dos brasileiros apontaram o crime e a violência como uma de suas principais inquietações, enquanto 38% demonstraram preocupação com a criminalidade, um aumento em relação aos 34% registrados em janeiro do mesmo ano. No entanto, a abordagem tradicional a esse desafio, ainda centrada na repressão à criminalidade e à corrupção, mostra-se insuficiente
Precisamos ir além.
Para construir uma sociedade com uma verdadeira cultura de paz, é fundamental compreender que a violência no Brasil é um problema estrutural e sistêmico, que vai muito além das instituições policiais. A violência permeia diferentes áreas da vida social e é agravada por desigualdades sociais, falta de oportunidades e deficiências nas políticas públicas.
Dados recentes reforçam a urgência desse debate: nos últimos anos, a letalidade policial no estado de São Paulo apresentou um preocupante aumento. Em 2024, foram registradas 760 mortes cometidas por policiais militares, um crescimento de 65% em relação a 2023, quando ocorreram 460 mortes. Desse total, 640 mortes foram praticadas por policiais em serviço e 120 por agentes de folga, configurando uma média de duas pessoas mortas por dia, consolidando o estado como o segundo no ranking nacional de letalidade policial, atrás apenas da Bahia. Esses números ilustram a gravidade do problema e reforçam a necessidade de reformular o modelo de segurança pública no país.

Mas é importante reconhecer que a polícia também enfrenta desafios imensos. Os agentes lidam diariamente com situações de extrema violência, muitas vezes comparáveis a cenários de guerra, além de vivenciarem desgastes emocionais e pressões que impactam diretamente sua saúde mental e desempenho profissional. Assim, abordar a segurança pública de forma eficiente requer uma perspectiva balanceada, que reconheça os problemas estruturais da violência enquanto promove soluções integradas e humanizadas.
Uma das chaves para transformar a segurança pública é investir na saúde mental dos agentes. Pesquisas mostram que condições de trabalho saudáveis, suporte psicológico contínuo e treinamentos voltados à inteligência emocional podem impactar positivamente o desempenho policial, reduzindo a truculência e aumentando a eficácia na prevenção e no combate ao crime. Esses elementos ajudam a construir um ambiente de trabalho mais positivo, fortalecendo a resiliência e a ética dos profissionais de segurança.
Para construir uma sociedade mais segura, é preciso equilibrar a repressão à criminalidade com políticas robustas de prevenção à violência. Uma polícia tecnicamente, emocionalmente e mentalmente preparada não apenas protege a sociedade, mas também se torna um agente de confiança e dignidade, promovendo relações mais colaborativas entre as instituições de segurança e as comunidades em que atuam.
Lideranças policiais também desempenham um papel crucial nessa transformação. Pergunto: o alto comando das polícias está preparado para promover uma gestão positiva e humanizada, ou ainda perpetuam modelos autoritários de um passado militarizado? Para mudar essa realidade, precisamos de gestores comprometidos com a empatia, com a escuta ativa e com o bem-estar emocional de suas equipes. Essa nova geração de líderes deve valorizar as virtudes humanas, como sabedoria, humanidade, coragem e temperança — conceitos estudados por Martin Seligman e Christopher Peterson — como fundamentos para uma atuação mais ética e eficiente.
O desenvolvimento dessas virtudes ajuda os policiais a enfrentar os desafios com moderação, compaixão e justiça, criando um ambiente de confiança e respeito nas comunidades. Além disso, fortalecer a resiliência dos agentes por meio do suporte psicológico e de condições de trabalho dignas, é essencial para prevenir o desgaste emocional e promover a saúde mental.
Outro aspecto fundamental é a conexão entre segurança pública e bem-estar coletivo, através do poder público. Investir em educação, cultura, saúde e espaços públicos que promovam lazer e convivência pacífica é uma estratégia poderosa para reduzir a violência estrutural. Esses elementos criam as bases para uma trama social mais equilibrada, onde a felicidade e o florescimento humano possam emergir como objetivos compartilhados.
A pergunta que fica é: existe espaço para a felicidade e o bem-estar dentro das corporações responsáveis pela segurança pública no Brasil?
Ao refletirmos sobre isso, mesmo que de forma utópica, abrimos caminho para um modelo de policiamento mais humanizado, que se afaste da truculência e se torne um verdadeiro guardião do florescimento humano. Policiais emocionalmente preparados, valorizados e bem liderados podem transformar não apenas suas próprias vidas, mas também as comunidades que juraram proteger.
Rodrigo de Aquino é executivo na área do bem-estar, felicidade e entretenimento com impacto social. Estuda o desenvolvimento humano desde os 14 anos. Com formação em Psicologia Positiva, Planejamento estratégico e Coolhunting, se dedica integralmente a mentorias, palestras e consultorias na área de florescimento humano e felicidade corporativa, incluindo FIB (Felicidade Interna Bruta). É embaixador em São Paulo da ONG Doe Sentimentos Positivos, Climate Reality Leadership Corp 22 e fundador do Instituto DignaMente.