Guerra cultural à italiana
Giorgia Meloni e seus aliados querem acabar com a suposta hegemonia cultural da esquerda, um projeto sempre querido pelo populismo reacionário. Mudar os dirigentes políticos e reduzir os (já escassos) orçamentos não é suficiente. É necessário impor uma “nova narrativa”, celebrando os valores nacionalistas e neofascistas – uma empreitada a longo prazo, que passa pela reescrita da história
Um dos membros mais próximos do governo da presidenta do Conselho de Ministros da Itália, Giorgia Meloni, é Gennaro Sangiuliano. Ex-militante de várias organizações neofascistas, incluindo o Movimento Social Italiano (MSI), jornalista e diretor de meios de comunicação, Sangiuliano sempre sustentou uma linha conservadora. Atualmente, conforme suas atribuições, ele pretende desenvolver uma cultura de extrema direita.1 Em 17 de março, o agora ministro da Cultura voltou à sua cidade natal. Nápoles comemorava a unificação italiana naquele dia. No entanto, Sangiuliano foi lá para celebrar o lançamento de uma retrospectiva do escritor britânico J. R. R. Tolkien no Palácio Real. Seu governo promoveu o evento em todo o país. Em novembro, em Roma, Meloni – uma grande admiradora do escritor – inaugurou a exposição, que não tem nada de espetacular. O essencial está nos textos que a acompanham e exaltam “a beleza de O Senhor dos Anéis, enraizada na fé cristã”.…