Instituições francesas doentes
Constitucionalistas ocupam os programas de televisão e as sessões de debate dos jornais para analisar a crise do regime que se instala na França desde as eleições legislativas. Propostas surgem; no entanto, a maioria das ideias esquece o ponto fundamental: as instituições são, antes de tudo, um bem público e um contrato social a ser reconstruído
A física conhece um fenômeno curioso da natureza chamado sobrefusão. É o caso de um lago cuja água está abaixo de zero grau, mas não está congelada. Contudo, se jogarmos nele um pequeno cristal de gelo, o lago congela completamente. É possível imaginar que uma situação semelhante ocorra na política? Por exemplo, que uma organização institucional seja metastável e esteja à espera de seu “cristal de gelo”? Há muito tempo o sistema político francês está congelado. Comentaristas frequentemente culpam apenas os políticos eleitos, em especial o comportamento do presidente da República. Dessa forma, evitam aceitar um fato fundamental, como lembrava o historiador Marc Bloch: “As instituições políticas, em geral, só podem ser verdadeiramente compreendidas quando suas ligações com as profundas correntes de ideias – e também de sentimentos – que as sustentam forem restabelecidas”.1 Ou seja, aquilo que constitui os fundamentos de uma “comunidade política”. O artigo 3º da Constituição…