Juventude palestina não se vê como vencida
A decisão de Donald Trump de reconhecer Jerusalém como capital de Israel agravou o fracasso do “processo de paz” e provocou grandes protestos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza – uma contestação duramente reprimida pelos israelenses. Os jovens palestinos, inclusive os menores de idade, são os mais visados. Vários deles rompem com as velhas fórmulas de militância
As bandeiras palestinas se agitam ao vento no corredor principal da Universidade Birzeit, na periferia de Ramallah, cidade que é a sede da Autoridade Palestina. Não muito longe da estrela que homenageia os 28 estudantes “mártires” da instituição, todos mortos pelo Exército israelense, um cortejo começa. Um responsável pela organização vai de uma ponta a outra. Encapuzado e sob um capacete de assalto, vestindo traje de combate camuflado com granadas e cinto de explosivos, ele dita o ritmo para moças e rapazes de uniforme verde-oliva, o rosto oculto por um keffiyeh. Todos gritam slogans em louvor da resistência armada. Agitam bandeiras coloridas do Fatah em homenagem ao falecido presidente Yasser Arafat (1929-2004), e bandeirolas que saúdam a memória do xeque Ahmed Yassine (1937-2004), o fundador do Movimento da Resistência Islâmica (Hamas). Os organizadores desse desfile pertencem ao Movimento da Juventude do Fatah (Chabiba), o partido do presidente Mahmoud Abbas. Eles tomaram cuidado para que a reunião celebrasse as duas grandes facções políticas palestinas, que têm dificuldade para pôr em prática seu acordo de “reconciliação”, assinado em outubro de 2017. Espera-se que ele vire a página de mais de dez anos de rivalidade e enfrentamentos fratricidas.
De fora, os estudantes de Sociologia observam a cena com ar de reprovação. “Isso é só folclore”, dispara Rami T.,1 de 20 anos. “Eis o que o Fatah e a Autoridade Palestina oferecem à juventude: gestos simbólicos. Isso é tudo menos ação política séria. O regime não pretende promover uma mobilização coletiva que possa realmente dar frutos. Teme que uma politização dos jovens conduza a uma revolta contra ele.” Como 70% da população tem menos de 30 anos, a politização da juventude constitui tema muito delicado para líderes palestinos, com a legitimidade cada vez mais contestada. Antes dos Acordos de Oslo, em 1993, e da criação da Autoridade Palestina, era o Alto Conselho para a Juventude e os Esportes, uma instância ligada à Organização de Libertação da Palestina (OLP), que garantia a formação ideológica, sobretudo por meio da organização de campos de férias e de voluntariado. Em 1993, um Ministério da Juventude e dos Esportes surgiu para “dar aos jovens o poder de agir no plano econômico, social e político”. Ao longo do tempo, as ações de enquadramento foram abandonadas e, em 2013, o ministério foi suspenso, com o Alto Conselho tendo retomado o serviço sob a égide de Abbas.
Para Youssef, de 22 anos, também estudante de Sociologia, “a Autoridade Palestina quer distanciar os jovens de um ativismo autêntico, presente no campo, e impedi-los de elaborar novas maneiras de agir no plano político. Ora, desde o início dos anos 2000 e do fracasso do processo de Oslo, a juventude carece de balizamentos. Estamos com raiva. Não houve nenhum ganho político para o nosso povo. A divisão entre o Fatah e o Hamas nos deixa indignados. A ocupação é uma realidade permanente. Vivemos sua violência no dia a dia. Nossa situação social e econômica permanece precária. Todas as condições estão reunidas para que nasça uma mobilização em grande escala”.
Focinheira na contestação
Os jovens são “as primeiras vítimas da luta contra a ocupação [israelense] em termos de mortos, feridos, prisões e detenções”, indica um recente estudo,2 e, dos 95 palestinos mortos pelo Exército israelense ou pelos colonos em 2017, cinquenta tinham menos de 25 anos.3 Mas também são afetados duramente pelas dificuldades enfrentadas pela economia, com uma taxa de desemprego estimada em 27% (18% na Cisjordânia, 42% em Gaza), ou seja, uma das “mais elevadas do mundo”, “de uma amplitude raramente atingida […] desde a Grande Depressão”, segundo as Nações Unidas.4
Houda A., de 20 anos, estuda Jornalismo na Universidade de Belém. Originária de Jerusalém Oriental, onde os estabelecimentos de ensino superior palestinos são proibidos por Israel, ela leva três horas por dia para fazer o trajeto de ida e volta entre a universidade e a Cidade Santa, distante 6 quilômetros, em razão dos bloqueios israelenses. Ela descreve uma situação que não para de se deteriorar. “A ocupação pesa sobre nossa vida de estudantes. Ela dita nossas escolhas, como a da universidade em que queremos estudar. Se moramos em Jerusalém, vamos pensar duas vezes antes de nos inscrevermos em Birzeit ou Nablus, simplesmente por causa das restrições da liberdade de movimento impostas por Israel.5 Mas a universidade permanece um casulo que não nos forma no plano político para enfrentar essa situação. Para nossos irmãos mais velhos, entrar aqui significava escolher um partido e se engajar no ativismo. Não é mais o caso hoje em dia.” Muitos alunos e professores entrevistados lamentam que nem o Fatah nem o Hamas tenham um projeto político que possa mobilizar a juventude e favorecer a emergência de elites capazes de assumir a liderança de um movimento nacional exaurido.
Ouvimos essa reclamação repetidamente. Por exemplo, na Universidade de Belém, onde assistir a uma manhã de atividades livres permite tomar a medida da ambiguidade da situação. De um lado, num pátio sombreado, cerca de duzentos estudantes joviais e barulhentos participam de um jogo de perguntas e respostas anunciadas ao som de canções ocidentais ou de músicas pop libanesas. Do outro lado, num anfiteatro pouco ocupado, com um ar de local voltado para os estudos, cerca de trinta pessoas acompanham um debate sobre a controversa Lei de Crime Eletrônico, adotada pela Autoridade Palestina em junho de 2017. Destinado oficialmente a regulamentar o uso da internet e das redes sociais, esse texto permite prender qualquer cidadão cujos escritos atentem contra “a integridade do Estado, a ordem pública, assim como a segurança interna ou externa do país”, ou ameacem “a unidade nacional e a paz social”.6 Considerada contrária aos direitos fundamentais por uma ampla parte da sociedade civil, a lei visa calar e punir os jornalistas adversários do regime e os opositores, mas também os ativistas e os jovens, muito ativos nas redes sociais, em que chovem críticas contra o poder. Exemplo disso é a interpelação pelos serviços de segurança palestinos, em setembro passado, de Issa Amro, líder da Juventude contra as Colônias, movimento sediado em Hebron (Al-Khalil), que tinha denunciado no Facebook a prisão de um jornalista que havia pedido a demissão de Mahmoud Abbas. Amro já havia sido preso pelo Exército israelense em fevereiro de 2016, após organizar uma manifestação pacífica contra a colonização…7
Movimento contra a ocupação e a colonização
Yassir D., de 23 anos, inscrito no curso de Jornalismo, é um dos iniciadores desse debate. Ele também pouco se surpreende com a falta de interesse dos estudantes por um tema que, no entanto, tem tudo a ver com eles, nem com a ausência de mobilização contra uma legislação que desrespeita tanto a liberdade de expressão como a privacidade. “Nossos pais são incentivados pelo governo a contrair dívidas para consumir8 e, por esse fato, hesitam em contestar a ordem estabelecida. Quanto aos jovens, suas condições de vida são tais que também querem se divertir. Então, é oferecida a eles a ilusão de que podem fazer isso como em qualquer outro lugar. Isso não quer dizer que eles não tenham consciência política, mas é justo que não se reconheçam em nenhuma dessas forças existentes.” Segundo um estudo, 73% dos palestinos de 15 a 29 anos afirmam não ser afiliados a nenhum partido e exprimem grande desconfiança em relação às instituições.9
Manal J., de 22 anos, aluna de Ciências da Comunicação, acompanha todo o debate. Sente-se pronta para se envolver no plano político? Constrangida, ela dá uma resposta: “Estou decidida a fazer isso, mas não é simples. Há uma regra que todos os jovens conhecem: fazer política é, cedo ou tarde, ir para a prisão, seja israelense ou palestina. Para uma mulher, isso pode ter efeitos drásticos. Além das consequências físicas e morais do encarceramento, corremos o risco de jamais encontrar um marido, porque nossa sociedade permanece sendo muito conservadora, e todo tipo de boato pode prejudicar a reputação de uma mulher que esteve na prisão”. Desde 1967, cerca de 800 mil palestinos dos territórios ocupados foram encarcerados pelos israelenses, ou seja, dois homens adultos em cada cinco – com frequência sob o regime de prisão administrativa, sem acusação nem processo. Nesse total, contam-se 15 mil mulheres.
Próximo da extrema esquerda, Wissam J., de 26 anos, na faculdade de Sociologia em Birzeit, também foi preso. Ele foi liberado em 2015, após ter passado três anos nas prisões israelenses – o que lhe custou um atraso equivalente em seus estudos. Por que motivo ele foi preso? “Fui preso e condenado por ‘ativismo’”, responde com um sorriso tímido, sem entrar nos detalhes. Como seus companheiros Rami e Youssef, Wissam milita no Nabd (“Ritmo”, em árabe), um movimento de jovens em luta contra a ocupação e a colonização israelense, “mas também contra a Autoridade Palestina, a divisão política interpalestina e a “normalização” com Tel Aviv promovida por certas ONGs e por autoridades do regime”, dispara Youssef. Nascido em Ramallah em 2011, na esteira do movimento de protesto popular lançado pelo Coletivo de 15 de março para chamar à unidade nacional diante de Israel, o Nabd se proclama “independente dos grandes partidos”, nos explica ele, acrescentando: “mas não agimos contra eles, mesmo que estejamos fora do quadro político tradicional, que mostrou seus limites”.
Marcado “à esquerda”, como nos diz Rami, o movimento do qual alguns membros são igualmente oriundos da corrente islâmica espalhou-se por várias cidades da Cisjordânia e tenta estabelecer laços com os jovens de Gaza. Ele também se centra na educação popular e trabalha com a “reapropriação da identidade, da história e da memória coletiva palestinas, ameaçadas pela atomização da sociedade que favorece a política neoliberal da Autoridade Palestina, sob influência do Banco Mundial e dos ocidentais”. Os ativistas do Nabd também têm a intenção de lutar contra a fragmentação do território e evitar que a separação entre as grandes cidades da Cisjordânia – sem esquecer o isolamento de Gaza – firme definitivamente a imagem de “arquipélago de cidades autônomas” no imaginário palestino. “Oferecemos ainda atividades culturais e artísticas. Por exemplo, um grupo de teatro foi criado nos campos de refugiados para insuflar nova vida na cultura popular do país”, acrescenta Wissam.
Um horizonte coletivo para a “geração Oslo”
“Esses ativistas parecem fazer política de ‘outro jeito’”, analisa Sbeih Sbeih, sociólogo palestino e professor da Universidade de Aix-Marselha, que acompanha de perto a evolução desse movimento. “Ao discurso de nossos líderes sobre o ‘desenvolvimento da economia’, a ‘construção do Estado’ e a ‘paz’, eles opõem um modelo de resistência – contra Israel, mas também no plano econômico, político, educacional e cultural – em nome de um objetivo supremo, a libertação da Palestina. Essa é razão pela qual eles estão na mira das autoridades israelenses, mas também na dos serviços de segurança da Autoridade Palestina, como todos aqueles que questionam a ordem estabelecida.” Os israelenses não se enganaram em relação a isso: um dos fundadores do Nabd, preso no ano passado, continua a sete chaves, com o status de “preso administrativo”. Basil al-Araj, por sua vez, uma das figuras do movimento, foi abatido pelo Exército israelense em Al-Bireh (Ramallah) em 6 de março de 2017, ao final de uma longa caçada. Esse farmacêutico de 33 anos originário de Al-Walajah (Belém), muito ativo no campo da contestação, mas também em oficinas de educação popular, tinha sido libertado pouco tempo antes pelas forças de segurança palestinas, que o haviam acusado em abril de 2016 de “preparação de ação terrorista”, depois encarcerado durante seis meses. Para muitos, sua morte é fruto da coordenação de segurança entre os serviços de informação palestinos e seus equivalentes israelenses, muito criticada pela população dos territórios…10
O Nabd está longe de ser a única organização de jovens ativa na Palestina. Cerca de 40% dos que têm de 15 a 29 anos fazem parte de um movimento semelhante. Eles viram surgir vários coletivos, comissões e associações cuja palavra-chave é “a unidade do povo palestino”, como o Gaza Youth Breaks Out (Gybo) e o Jabal al-Mukabir Local Youth Initiative. Criado em 2011 por blogueiros de Gaza, o primeiro denuncia ao mesmo tempo a ocupação israelense, a corrupção dos líderes políticos e a negligência dos principais partidos. O segundo, baseado em Jerusalém Oriental, tornou-se conhecido por organizar, em 16 de março de 2014, uma corrente humana em torno das muralhas da Cidade Santa para protestar contra a colonização judaica e reafirmar a identidade palestina. “Nossa geração quer inovar. Ela pretende repensar o discurso político tradicional, e isso explica a profusão de iniciativas que misturam cultura, aspecto social, envolvimento político e artes”, analisa Karim Kattan, pesquisador e escritor originário de Belém. Membro do projeto El-Atlal (“As ruínas”), que convida jovens artistas, pesquisadores e escritores, palestinos ou estrangeiros, para trabalhar e viver em Jericó, está convencido de que o recurso à criação “faz parte de novos modos de mobilização”. Isso permite também, segundo ele, repensar os laços de solidariedade entre ocidentais – mais particularmente franceses – e palestinos. “O tempo das ONGs que vêm passar três meses entre nós e vão embora com o sentimento de dever cumprido acabou. Os estrangeiros não devem mais vir ‘tomar conta’ de nós, mas trabalhar conosco. E aprender conosco como aprendemos com eles.”
Mas qual é a influência desses movimentos, seu peso na sociedade? Como diz Abaher el-Sakka, professor de Sociologia em Birzeit, “com certeza não se pode supervalorizar sua influência, relativamente limitada tendo em vista o espaço restrito no qual eles podem agir, os bloqueios ligados às estruturas de poder e, é claro, a repressão israelense. Mas movimentos como o Nabd podem criar uma nova dinâmica e preparar o terreno, a longo prazo, para importantes mudanças no plano sociopolítico. O que é certo é que eles oferecem uma solução em matéria de envolvimento coletivo aos jovens palestinos, vítimas do desencanto diante da falta de perspectivas de futuro e da impossibilidade de desempenhar um papel de decisão na sociedade. Muitos desses jovens, sentindo que foram postos de lado, rejeitam todos os partidos em bloco e se recolhem em si mesmos, com o risco de que alguns se voltem para a ação violenta”. Esse foi o caso, sobretudo, da revolta de 2015-2016, em que se multiplicaram os ataques isolados, muitas vezes com uma simples faca, contra os soldados israelenses e os colonos nos territórios ocupados. Esses ataques foram essencialmente obra de jovens de menos de 25 anos, independentes dos partidos e sem reivindicações.11 Eles deram origem a uma feroz repressão, com 175 mortos palestinos entre outubro de 2015 e fevereiro de 2016.
Muitos de nossos interlocutores dizem compreender esses atos desesperados e se recusam a condená-los. Anissa D., de 25 anos, vive no campo de refugiados de Jenin, onde 70% dos 13 mil moradores estão desempregados. Quando criança, ela conheceu a ofensiva israelense de abril de 2002 contra o campo, que fez oficialmente 52 mortos palestinos (pelo menos duzentos, segundo os moradores). Sem qualificação, ela trabalha como faxineira num complexo hoteleiro do norte da cidade cuja clientela é composta essencialmente de palestinos de Israel. Ela admite que muitas vezes pensa em recorrer à violência. “Eu penso um pouco, porque sei que os israelenses vão punir toda a minha família e que cada uma de nossas revoltas custou um alto preço, mas não suporto o destino do meu povo. Não posso me conformar. Admiro aqueles que deram a vida por nossa causa.” Para Houda, estudante de Jornalismo em Belém, “os ataques individuais dirigidos aos soldados nos bloqueios são um meio como outro qualquer de resistir à ocupação, de opor a força à violência exercida por Israel”. Youssef, de Birzeit, estima por seu lado que “essas ações extremas são fruto de uma imensa frustração diante da perpetuação da colonização, dos constrangimentos sofridos todos os dias nos postos de controle e de um horizonte completamente fechado” – ponto de vista que é expresso de maneira mais direta por um servidor de cerca de 20 anos empregado num café na cidade velha de Nablus: “Desde que nasci, os israelenses só me autorizaram a ir uma única vez a Jerusalém, e eu me sinto asfixiado aqui, trancado em meu próprio país. Não tenho poupança, não tenho mulher e não me formei. Sacrifiquei-me pela pátria ficando aqui, mas agora só quero uma coisa: ir embora para o estrangeiro. É isso, ou então me jogar sobre um soldado num bloqueio…”.
Muros de concreto, postos de controle
Outros escolhem uma via diferente, como Majdi A., uma figura do campo de refugiados de Dheisheh, em Belém. Esse campo, um dos mais importantes da Cisjordânia, onde vivem 15 mil pessoas, permite que se tenha uma boa ideia da ociosidade da juventude. “Dheisheh está na mira do Exército israelense, que o invadiu muitas vezes, como a maior parte dos campos de refugiados”, explica-nos Majdi. A maioria das pessoas detidas é jovem, acusada de apelar para a violência no Facebook ou de lançar pedras contra os soldados. Mais de uma centena foi ferida em confrontos ao longo dos seis últimos meses. Há também dois mortos de 21 e 18 anos neste ano, e cerca de 84 crianças aleijadas, que foram propositalmente atingidas nas pernas. Quando lhe perguntamos sobre as ameaças que pesam sobre os jovens que se opõem à ocupação ou à política da Autoridade Palestina, ele nos responde sem rodeios: “Não podemos protestar nem ter atividades políticas outras que não aquelas controladas pelo poder; sofremos pressões de um lado e de outro. A única solução é se envolver de maneira pacífica. Eu, por exemplo, escolhi ficar aqui, não ir para o estrangeiro e trabalhar em favor da comunidade por meio de ações sociais e culturais. Permanecerei aqui para defender nossos direitos, mesmo que tenha de aqui deixar minha vida”.
Se permanecer na Palestina é um ato de resistência que exige soumoud (“tenacidade”, em árabe), voltar também o é. É a opinião de Maher L., de 26 anos, comerciante na cidade velha de Hebron, perto do Túmulo dos Patriarcas (ou Mesquita de Ibrahim). Trinta e cinco mil palestinos moravam aqui em 1997. Hoje eles não passam de 8 mil, submetidos à pressão permanente de oitocentos colonos particularmente agressivos e de cerca de 3 mil soldados. Muros de concreto, postos de controle, catracas para filtrar as passagens, câmeras de vigilância e pórticos de detecção de metais instalados pelo Exército israelense, redes de malha colocadas pelos comerciantes para proteger as raras lojas ainda abertas de projéteis e de lixo lançados pelos colonos dos prédios, casas palestinas degradadas por estes últimos: viver aqui é um inferno. Com o rosto marcado, Maher reconhece, mas afirma que não quer mais deixar seu país depois de ter morado no estrangeiro por três anos. “Eu me exilei na Alemanha, mas o chamado de minha terra natal foi mais forte. Poderia ir embora de novo. Os colonos e as organizações que os apoiam nos estimulam a fazer isso: alguns até oferecem dinheiro. Seria uma vantagem: meu comércio está moribundo, porque são poucos os ousados que assumem o risco de vir fazer compras em nossas lojas. Mas não vou vender nunca e vou ficar aqui, aconteça o que acontecer. Eu espero. O tempo não é nosso inimigo.”
*Akram Belkaïd e Olivier Pironet são jornalistas do Le Monde Diplomatique.