Lumumba, a história de um complô
Sob a proteção de soldados da ONU, Lumumba seria entregue a seus inimigos e deportado para Katanga, onde Moisés Tchombé, a soldo de companhias mineradoras européias, o mandaria assassinar. O nome de Lumumba seria apagado da históriaPhilippe Lafosse
Final da década de 50, onde ainda se chamava Congo Belga, o colonialismo vivia seus últimos estertores. Um ex-empregado dos correios, Patrice Lumumba, é particularmente incômodo para as autoridades: orador de talento e independentista convicto, ele atrai cada vez mais partidários. Em 1958, cria o Movimento Nacional Congolês (MNC), primeiro partido formado numa base nacional, e não étnica. Com 36 anos, Lumumba é preso. Trancafiado numa cela, onde os carcereiros o maltratavam, ele é de repente retirado e conduzido a Bruxelas, para participar da mesa-redonda que iria definir as condições de passagem à independência. Na realidade, após as revoltas de Leopoldville (Kinshasa), o jovem rei Balduíno queria pôr fim a 80 anos de dominação belga.
Após a vitória do MNC nas eleições legislativas, a independência do Congo foi proclamada, em 30 de junho de 1960, na presença do rei Balduíno. Findas as festividades, logo se sucederiam conspirações, traições e manobras estrangeiras. Com uma fé a toda prova, Patrice Lumumba se batia por uma independência sem concessões ao tribalismo, aos interesses das mineradoras e às ingerências externas. Seria deposto por dois amigos seus, Joseph Kasavubu, que se tornaria presidente da República, e Joseph-Désiré Mobutu, que se proclamou comandante-em-chefe das forças armadas e se tornaria mais tarde ditador do Zaire.
A história das independências
Detido sob a proteção dos soldados das Nações Unidas, Lumumba acabaria sendo entregue a seus inimigos e deportado para a província de Katanga, onde o líder local, Moisés Tchombé, a soldo de companhias mineradoras européias, o mandou assassinar juntamente com dois de seus companheiros. O nome de Lumumba seria apagado da história.
Para quem conhece pouco a história dos movimentos independentistas africanos, o filme de ficção Lumumba, de Raoul Pecq, traz valiosos esclarecimentos. Contribui também para explicar os desafios atuais, mostrando que se os acontecimentos e tragédias que afetam o continente negro parecem por vezes incompreensíveis, é porque a África foi e continua sendo o campo de batalha das grandes potências que se lançam em guerras por lucros, enlouquecidas e inescrupulosas, por Estados e pessoas interpostas.
A sombra de Mobutu
Ex-ministro da cultura do Haiti, após a saída dos militares golpistas que derrubaram o presidente Jean-Bertrand Aristide, Raoul Pecq prolonga aqui suas reflexões sobre os destinos políticos. No entanto, este projeto louvável peca por uma vontade exagerada em erigir um monumento hagiográfico em glória a Patrice Lumumba, “herói trágico” e legendário. O roteiro, que nem sempre evita a armadilha de um romantismo fácil, opta — correndo o risco de provocar um sentimento de asfixia — por uma sucessão de cenas significativas, numa demonstração inelutável. Além do mais, falta incontestavelmente à realização do filme sobriedade.
Paradoxalmente, ao final deste afresco com toques de thriller hollywoodiano, não é tanto a onipresença de Lumumba que impressiona, mas um papel secundário que se percebe vez por outra: um homem lacônico, reservado, de uma inquietante delicadeza, e que sentimos na espera, como uma fera à caça: Joseph-Désiré Mobutu…