Miscelânea
ROSA LUXEMBURGO: CRISE E REVOLUÇÃO
Rosa Rosa Gomes, Ateliê Editorial
Rosa Rosa Gomes não só fez um estudo inédito em arquivos, como também relacionou os debates do Partido Social-Democrata alemão com a formação do pensamento econômico de Rosa Luxemburgo por meio da leitura de seus manuscritos.
A primeira contribuição da autora consiste em religar o que diferentes correntes teóricas separaram. Não passa despercebido para ela o quanto a ousadia de Rosa Luxemburgo em não se limitar às discussões feministas do partido, adentrando o debate teórico “masculino”, contribuiu para a marginalização de seu pensamento econômico, enquanto ela era mitificada como mártir e sua obra era reduzida a algumas brilhantes intervenções políticas conjunturais.
Uma segunda contribuição é demonstrar que no debate entre marxistas ortodoxos e revisionistas na Alemanha havia um acordo de fundo: a disputa entre reforma e revolução em nada afetaria a prática realmente existente do partido. Ambos compartilhavam uma ideologia que justificava a situação material e os limites políticos da burocracia.
É verdade que Rosa Luxemburgo escreveu sua obra econômica com um objetivo bem específico: comprovar a ideia do Zusamenbruch (quebra conjunta do capitalismo) como um argumento político contra os revisionistas, já que Eduard Bernstein dizia que o capitalismo se perpetuaria e, assim sendo, os socialistas deveriam se contentar em reformá-lo.
Daqui deriva uma terceira ideia importante de Rosa Rosa Gomes: apesar disso, Rosa Luxemburgo não produz uma leitura ortodoxa com a qual teria rompido depois. Ela não vinculou a tendência ao colapso econômico com a inevitabilidade do socialismo. O capital busca áreas externas e aumenta os gastos militares do Estado, o que lhe dá uma sobrevida. E a barbárie é sempre uma possibilidade. Ela não está no passado, assim como a chamada acumulação primitiva não foi só um momento da história do capital – é seu elemento constitutivo e permanente. A autora nos lembra que, à crise de nossa época, Rosa Luxemburgo opôs uma única saída: a revolução.
[Lincoln Secco] Professor de História Contemporânea da USP.
DROGAS: A HISTÓRIA DO PROIBICIONISMO
Henrique Carneiro, Autonomia Literária
Um livro não começa quando os olhos correm as primeiras linhas, mas quando qualquer elemento mínimo alcança um campo da percepção. Em Drogas: a história do proibicionismo, é assim que o livro começa. São as cores vibrantes, seu laranja psicodélico e a textura invertida da capa (a frente e o fundo fora de seu lugar tradicional) que chamam a atenção ao primeiro toque. A forma do livro, antes de seu texto, nos leva para o que talvez seja o tema central quando se fala sobre drogas: a percepção.
Desde o século XVIII, com a publicação de Confissões de um comedor de ópio, do britânico Thomas De Quincey, o Ocidente iniciou uma tradição de se valer da linguagem literária para descrever toda uma gama de experimentações com drogas diversas; a literatura como tecnologia de escrita mais aberta, capaz de se conectar com um campo da percepção deslocado do juízo como centralidade da razão.
O livro de Henrique Carneiro se insere nessa tradição de algum modo, mesmo se valendo de uma abordagem historiográfica e de uma linguagem mais acadêmica. Apresentando os capítulos divididos pelas regulações de algumas drogas em países diferentes, o livro passa pelos Estados Unidos, pela China, pelo Canadá e pela Rússia, em uma análise que concatena o que foi a regulação das drogas em termos planetários com uma análise política do capitalismo, essa urgente mas escassa conexão nas pesquisas e movimentos antiproibicionistas.
As drogas e a produção de seu “problema de saúde” aparecem como parte de um acontecimento mais amplo, de um capitalismo adictivo que imprime uma velocidade que adentra nas esferas da vida mais subjetivas. Nossas sociedades são dependentes de muitas coisas, desde o petróleo até uma espiral expansiva de mercados especulativos. Não é fortuito que as drogas que vingaram majoritariamente nesta forma de mundo – que é também um jeito de triturar mundos outros – sejam as estimulantes. O café é a droga mais consumida, e chamamos nosso próprio despertar de café da manhã.
[Wander Wilson] Doutor em ciência sociais formado pela PUC-SP e acolhedor no programa de orientação e atendimento ao dependente na Proad-Unifesp.
INTERNET
Novas narrativas da web
Sites e projetos que merecem seu tempo
Finalmente o Google inventou uma espécie de máquina do tempo. Ou quase. Lançou um tour virtual guiado pelo museu nacional mais antigo do Brasil, aquele que foi destruído num incêndio em 2018. Sem poder visitá-lo ao vivo, você pode ao menos observar as salas pelo especial criado no site Arts and Culture. Lá, verá a sala com o crânio de Luzia, o meteorito de Bendegó, o maior do Brasil, que ficava na entrada do prédio, um gato mumificado, o titanossauro de Minas Gerais. Quase tudo que desapareceu nas chamas e algumas coisas que resistiram, mas vão demorar a serem expostas novamente.
Há dez anos, a Escola de Jornalismo da Énois capacita jovens das periferias de São Paulo para contar as histórias de suas comunidades. O projeto recebeu o maior prêmio de literatura brasileiro, o Jabuti, pelo projeto Prato Firmeza: Guia Gastronômico das Periferias de SP. Fizeram um censo, que resultou na questão “Por que as redações do Brasil são tão brancas?”. Em 2015 lançou a primeira plataforma on-line a ensinar jornalismo gratuitamente, a Escola de Jornalismo, hoje com mais de 5 mil alunos cadastrados.
Igrejas deveriam pagar impostos? Inteligência artificial um dia poderá ter direitos? Existe limite para a liberdade de expressão? Se você queria um lugar para observar todos os pontos de vista de uma questão, argumentos contra e favor, com um sistema de visualização em infográfico, esse é o lugar. Kialo é uma plataforma de debates, sobre qualquer assunto. Você propõe e comenta, e os comentários são organizados e votados. Você pode ler e tirar suas próprias conclusões. Será que é importante ouvir a opinião dos outros? Essa é uma pergunta retórica, tá ok?
[Andre Deak] Diretor do Liquid Media Lab, professor de Jornalismo da ESPM, mestre em Teoria da Comunicação pela ECA-USP e doutorando em Design na FAU-USP.