Mulheres e Olimpíadas: reflexo da desigualdade de gênero cotidiana
A presença de Flávia Maria de Lima nas Olimpíadas de Paris, apesar de todas as adversidades, é um ato de resistência e coragem. Ela está lá por ela e por sua filha, demonstrando que, mesmo diante de tantos desafios, não desistirá de seus sonhos
Mesmo tendo alcançado o “sonho olímpico”, já que está em Paris para representar o Brasil na prova dos 800m rasos, a velocista brasileira Flávia Maria de Lima se vê às voltas com uma batalha judicial pela guarda de sua filha. É um conflito fomentado por seu ex-marido, que utiliza as Olimpíadas como uma arma para desestabilizá-la.
Essa situação evidencia uma triste realidade: em qualquer espaço, inclusive os mais competitivos e desafiadores, os obstáculos são sempre maiores e mais ameaçadores para as mulheres. Sejam eles impostos por homens já estabelecidos nesses ambientes ou por aqueles em seu convívio pessoal, há uma constante tentativa de impedir que as mulheres acessem e permaneçam nesses lugares. No caso de Flávia, o que deveria ser um momento de celebração e realização pessoal e profissional, transformou-se em um palco de angústia e luta por seus direitos como mãe, mulher, e atleta.

Créditos: Wagner Carmo
Num relato compartilhado em suas redes sociais, Flávia destaca a pressão psicológica e emocional que sofreu ao longo do último ano. Ela revela que seu ex-marido tentou, por meio de ações judiciais, tirar a guarda de sua filha, utilizando suas competições como justificativa. Essa perseguição sistemática é uma tática cruel, que visa não apenas a desestabilizar a atleta, mas também desencorajá-la a seguir seu sonho olímpico.
Essa perseguição, que levou Flávia a abrir mão de diversas competições para permanecer próxima à filha e evitar mais conflitos judiciais, é mais uma prova de como as mulheres são constantemente forçadas a escolher entre suas carreiras e suas vidas pessoais e sua indivodualidade. É inaceitável que, em pleno século XXI, mulheres como Flávia ainda tenham que lutar contra adversidades que vão além das barreiras esportivas e pontuações, mas invadem o campo pessoal e judicial.
A presença de Flávia Maria de Lima nas Olimpíadas de Paris, apesar de todas as adversidades, é um ato de resistência e coragem. Ela está lá por ela e por sua filha, demonstrando que, mesmo diante de tantos desafios, não desistirá de seus sonhos. Sua determinação é um exemplo inspirador para todas as mulheres.
Devemos lutar por um ambiente onde as mulheres possam competir, trabalhar e existir em condições justas, sem o constante temor de retaliações pessoais e judiciais. A história de Flávia é um lembrete doloroso e urgente de que a luta pela igualdade de gênero está longe de ser uma prova vencida. É nosso dever, como sociedade, apoiar e proteger essas mulheres corajosas, garantindo que possam seguir seus sonhos e talentos sem medo de represálias.
Ana Pimentel é Deputada Federal pelo PT-MG, médica defensora do SUS, professora universitária e pesquisadora de saúde pública. Possui mestrado em Saúde Pública pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2014) e doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (2018). Na Câmara dos Deputados, é vice-líder do PT e presidenta da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. É membro titular da Comissão de Saúde e de Legislação Participativae preside a Frente Parlamentar da Vacina. Além disso, atua como vice-presidenta na Frente Parlamentar Mista da Educação e é uma das coordenadoras da Frente em Defesa das Universidades Públicas.