Na Espanha, a esquerda e o moinho de vento da identidade
Depois das eleições legislativas que não deram maioria a nenhum partido, em julho de 2023, os socialistas espanhóis esperavam contar com a sorte de o líder dos conservadores, Alberto Núñez Feijóo, não conseguir formar um governo – uma ambição que depende do apoio de grupos preocupados com a explosiva questão identitária. A que preço?
As negociações políticas iniciadas após as eleições gerais espanholas de 23 de julho de 2023 (que não concederam maioria a nenhum partido) parecem dividir o país em dois blocos. De um lado, os conservadores e a extrema direita, liderados respectivamente pelo Partido Popular (PP) e pelo Vox, caracterizam-se pela defesa de uma concepção centralizadora do poder e de uma forma de nacionalismo “unitário”: a ideia de que a Espanha seria constituída por uma nação única e indivisível. Do outro, um bloco nascido de uma aliança entre partidos representativos da esquerda em sentido amplo e de outra forma de nacionalismo: um nacionalismo “periférico”, proveniente de algumas comunidades autônomas do país (Catalunha, País Basco, Navarra etc.), e segundo o qual a Espanha seria composta de nações diferentes, linguística e culturalmente distintas. Na esperança de formar um governo, os líderes do Partido Socialista dos Trabalhadores Espanhóis (Psoe) e da coligação Sumar¹ abordaram, nessa chave,…