O bobo da corte
Trânsfuga da esquerda, Bernard-Henry Lévy tornou-se o agressivo ideólogo de um novo centro, que se aproxima cada vez mais da direita. Ao contrário dos antigos truões, que usavam seu talento para criticar o status quo, BHL só faz atacar as idéias progressistas e adular os poderosos
Em 17 de setembro último, Bernard Arnault ofereceu uma simpática recepção por ocasião dos sessenta anos de Dior. Champanhe Dom Pérignon, caviar, 75 maîtres para 25 mesas, 14 cozinheiros, 300 cadeiras “medalhão” especialmente encomendadas, 4.000 rosas para os centros das mesas e a decoração floral, 8.000 lírios-do-vale, 3.800 pipetas d?água para regar: não se pouparam despesas. Mas os 270 convidados também não deixavam a desejar: a ministra da Justiça Rachida Dati, o ministro do Interior Brice Hortefeux e esposa, vestindo Dior, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë, Claire Chazal, vestindo Dior, Hubert Védrine e Jean-François Copé, o cantor Elton John, Frédéric Mitterand e a baronesa Ernest-Antoine Sellière, a imperatriz Farah, Christine Ockrent, vestindo Dior, à mesa de Hélène Arnault [1]. Igualmente presente, o primeiro-ministro François Fillon confessara, quatro dias antes da recepção: “Encontro-me à frente de um Estado em situação falimentar. Isso não pode continuar”.
O fausto exibicionista dos miliardários não é de hoje. Mas a significação social desses banquetes transcende atualmente o mundo das revistas de celebridades. Com a eleição presidencial de Nicolas Sarkozy, parece se introduzir uma nova configuração do poder que estabelece em definitivo a fusão de determinados componentes da elite francesa: dirigentes econômicos, formadores de opinião, políticos de direita e de esquerda ? contanto que sejam liberais.
Chefe do grupo de bens de luxo LVMH, Arnault é dono da maior fortuna da França (17,2 bilhões de euros em 2006). É amigo do presidente da República, que assistiu, há dois anos, às bodas de sua filha Delphine. Foi um belo casamento, em que mais seis outros membros do governo foram convidados, entre eles Copé, atual presidente do grupo majoritário na Assembléia Nacional, e Védrine, antigo ministro socialista dos negócios estrangeiros e membro do conselho administrativo do LVMH. Um caminhão comprido recebeu permissão de transportar o vestido da noiva sem dobrá-lo.
Arnault é dono de um jornal de economia, La Tribune, do qual pretende abrir mão para comprar outro, ainda mais influente, Les Echos. Os funcionários dos dois jornais são contra a idéia, mas o chefe de Estado apóia o amigo. Em 2006, o LVMH conferiu 1.789.359 de stock options, sendo que 450 mil para o presidente diretor-geral (PDG) do grupo, ou seja, 25,15% [2] Finalmente, o Parlamento acaba de “lhe” votar pródigas vantagens fiscais, talvez em retribuição por seu combate à inflação, permanecendo sempre vigilante no front salarial de seus trabalhadores, que em geral ganham salário mínimo.
Se o primeiro-ministro trabalhista britânico Gordon Brown solicita os conselhos de Arnault, este por outro lado se vê como um pária em seu próprio país: “O problema dos empresários na França”, explica, “é que a França tem uma certa dificuldade com relação à economia de mercado. [?] Creio que a influência marxista existe sempre. Após vinte anos, ela chegou mesmo a se desenvolver no nível do discurso político” [3].
“Influência marxista”? Decididamente, não moramos no mesmo país que Arnault: seu amigo está no Palais de l?Elysée, a oposição de esquerda, por sua vez, fala, como na Grã-Bretanha, em reabilitação do liberalismo, do indivíduo, do mérito, do dinheiro. Enfim, e isso não é pouco, Bernard-Henry Lévy, amigo dos miliardários, liberal, pró-americano, gestor equilibrado de sua própria (imensa) fortuna e macaco velho do show business intelectual, está prestes a se tornar um pensador do Partido Socialista.
Sente-se na França um cheiro de oligarquia. O dinheiro vem em primeiro plano. O novo governo põe sob os holofotes os advogados de negócios; deputados influentes como Copé manifestam sua ambição de cumprir simultaneamente sua missão pública e de fazer fortuna no domínio privado. Os escândalos da bolsa e das finanças, o deslumbramento que cerca os miliardários, a banalização do lobby nos fazem pensar no principado de Mônaco, suas vedetes e seus cassinos. O casamento de um deputado socialista, Henri Weber, tornou-se um acontecimento mundano de grande importância, assistido por antigos esquerdistas que se tornaram, como Bernard Kouchner, ministros sarkozystas [4]. Colocado pelo presidente da República na chefia de uma Comissão para a Liberação do Crescimento Francês, o socialista Jacques Attali se transmudou em devoto da livre concorrência e em subalterno dos hipermercados. A Restauração sente-se à vontade [5].
Em 13 de junho de 1971, no Congresso de Épinay, François Mitterrand denunciou perante a tribuna “todo o poder do dinheiro, o dinheiro que corrompe, o dinheiro que compra, o dinheiro que mata, o dinheiro que arruína, e o dinheiro que apodrece a própria consciência dos homens”. Hoje, Bernard-Henri Lévy propõe ao Partido Socialista (PS) “um Congresso refundado, um anti-Épinay”. No dinheiro, ele não mais enxerga a morte, a corrupção, a ruína, mas “a virtude que ele possui de substituir a guerra pelo comércio, os universos fechados pela fronteira aberta; o tempo da negociação, da transação, do compromisso, que sucede, graças a ele, o da impaciência, da violência, do escambo, da rapina, do tudo ou nada, do fanatismo” [6].
Uma muralha contra o fanatismo: essa definição do capital, furiosamente presente no ar destes tempos, não constituirá demasiado incômodo para aqueles que o detêm. Não o chefe do grupo LVMH e da Dior mencionados no começo, não Arnaud Lagardère, tampouco François Pinault ? estes dois últimos, bons amigos de Bernard-Henri Lévy, que em nenhum momento hesitou em orientar suas tribunas de imprensa em prol de seus interesses de industriais.
Alguém pode dizer que, em última análise, Bernard-Henri Lévy ? ou BHL, como é chamado ? pouco importa. Depois de trinta anos, seu cordão de aduladores pode muito bem gritar urras de aclamação e a mídia aglomerar-se em torno dele, não passa pela cabeça de ninguém reclamar uma de suas obras, uma vez concluído o bombardeio totalitário de seu último produto [7]. O título de sua autobiografia, Comédie, sugere que ele tem consciência disso.
Em 1979, o filósofo Cornelius Castoriadis admitia sua perplexidade diante do “fenômeno BHL”: “Sob que condições sociológicas e antropológicas, em um país de cultura antiga e rica, um ?autor? pode se permitir escrever seja lá o que for, a ?crítica? lhe tecer loas, o público segui-lo docilmente ? e aqueles que denunciam a impostura, sem de modo algum ver-se reduzidos ao silêncio ou aprisionados, não encontrar nenhum eco efetivo?” [8]. Otimista, Castoriadis entretanto acrescenta: “Que essa bugiganga deva cair de moda, não resta dúvida: ela é, como todo produto contemporâneo, a obsolescência encarnada”. Mas, quase trinta anos depois, a “bugiganga” ainda vende.
O comércio que ela enseja é duplamente revelador dos tempos que correm. De uma parte, o excesso freqüentemente injurioso dos textos de Bernard-Henri Lévy e de seus milhares de subprodutos audiovisuais não provoca mais reação, como se os alvos habituais (a “esquerda da esquerda” e os intelectuais menos submetidos ao cabresto da mídia) houvessem renunciado. Simultaneamente, as idéias liberais e pró-americanas do ensaísta estão em consonância com as de um número crescente de dirigentes do PS. Menos resistências de um lado, mais impacto do outro.
Mas uma cena cultural ? e, por extensão, um debate público ? que consente que se acusem sonsamente Jacques Derrida, Pierre Bourdieu, Etienne Balibar, Noam Chomsky, Slavoj Zizek e outros de anti-semitismo, e até mesmo que se suspeite de que alguns dentre eles estejam “a reboque” de um “pensador nazista”, vai mesmo muito mal. Quanto à esquerda que se inspira nas análises de BHL, ela confirma não valer mais que um “grande cadáver de costas”.
O ensaísta, ao qual os amigos acabam de reservar seu tratamento de favorecimento habitual (entrevistas com Jean-Pierre Elkabbach e Jean-Marie Colombani, crítica imediata no Le Monde, a Paris Match a seus pés, cobertura do Nouvel Observateur), recrutou igualmente novos comparsas, tanto mais entusiasmados em servi-lo por serem mais alertas que os antigos. Pois como reage o (culto) jornalista Nicolas Demorand na rádio France Inter, ou Philippe Val, o (erudito) diretor de Charlie Hebdo, quando algumas personalidades notáveis da esquerda intelectualizada contemporânea são tratadas como fascistas, anti-semitas ou nazistas? Muito simples: não dizem nada. Melhor ainda, depois de ter encorajado seu convidado BHL a manipular injúrias e vulgaridades, Demorand permite que encerre a conversa com um “Nós somos os guardiães das palavras nesta transmissão”. A carreira de Demorand está assegurada.
Após a terceira derrota à presidência, o Partido Socialista está tentado a dar uma guinada à direita. Sua pelagem “realista” ficou completa depois de um quarto de século, a idéia de uma “ruptura com o capitalismo” já não corresponde mais a nenhuma de suas práticas políticas [9]. Entretanto, a mídia e o empresariado vivem lhe pedindo para ir um pouco mais além, ser ainda mais liberal. A ponto de, em agosto último, o deputado socialista Henri Emmanuelli mostrar-se revoltado: “Como alguém ousa exigir, sem medo do ridículo, de um partido do qual é oriundo o diretor da Organização Mundial do Comércio [Pascal Lamy] e amanhã talvez o do Fundo Monetário Internacional [Dominique Strauss-Kahn], que aceite enfim a economia de mercado?” [10].
Em 1986, depois em 1993, depois em 2002, as derrotas eleitorais do PS haviam levado a uma pequena inflexão à esquerda na linha do partido. Pois como seria possível imputar a políticos exageradamente socialistas os reveses sofridos nas urnas pelos governos de Laurent Fabius (1984-1986), Pierre Bérégovoy (1992-1993) ou de Lionel Jospin (1997-2002). Mas não é o radicalismo ainda mais de esquerda que caracterizou a campanha de Ségolène Royal, à qual Lévy ficou permanentemente associado. Nessas condições, e levando em conta a política de combate de Sarkozy, um retorno, por cosmético que fosse, aos discursos militantes do PS poderia ter sido considerado.
É contra um tal perigo que, fazendo eco às comichões “ojeristas” de inúmeros líderes socialistas, Bernard-Henri Lévy pretende organizar sua máquina de guerra midiática. Ele pretende ditar a um futuro governo de esquerda a teorização definitiva para uma orientação ao mesmo tempo liberal e anti-revolucionária. Depois de ter apoiado em 1986 a privatização do audiovisual, combatido em 1995 os grevistas da SNFC e da RATP, denunciando a “irresponsabilidade” de um serviço público “que está reunindo todas as características disso que chamamos, em outros tempos, de economia à soviética” [11], fustigado “a demonização do dinheiro e daqueles que dele fizeram seu meio de vida” [12], ele escreve um livro dirigido à esquerda, para livrá-la “de seus venenos”. E tem gente que dá ouvidos.
A ruptura por ele proposta não é, a esse aspecto, diferente da que foi prometida por Sarkozy. “Por motivos que estão ligados a seu passado e à história de seu software nacional (sic), é a França toda que resiste ao liberalismo”, deplora por sua vez o ensaísta. E acrescenta: “A pergunta sobre se ?a revolução é possível?? deu lugar a uma outra, bem mais perturbadora e, principalmente, mais radical: ?a revolução é desejável?? [?]. A resposta a essa pergunta se revelou um ?não?, claramente ?não?, ou, em todo caso, para algumas pessoas”. Pierre Moscovici (alguém próximo de Dominique Strauss-Kahn) também fez eco a nosso escrivão a esse respeito: “Bernard-Henry Lévy encerra lançando um apelo à ?esquerda melancólica? contra a ?esquerda lírica?, a uma esquerda despojada da utopia revolucionária, esse ?sonho que se torna pesadelo?. [?] Essa esquerda é também a minha” [13].
Bernard-Henri Lévy será de fato o mais bem situado para imaginar “a resposta” à maioria das perguntas que formula? Seu livro quase em nenhum momento aborda economia, finanças, desigualdades, deslocalizações, doenças do trabalho, poder de compra. Exceto por um capítulo minguado de dez páginas sobre a “periferia”, a questão social está completamente ausente. Algumas idéias, que em geral se resumem à comparação de seus adversários com fascistas, flutuando no azoto, ou no formol, desconectados de qualquer liame com as condições sociais que os teriam levado aonde estão. Isso permite ao autor consagrar metade de um capítulo ao Khmer Vermelho, para explicar que seus integrantes teriam “farejado os trabalhos de Bettelheim, Althusser, Lacan”, mas omitindo o fato de que seu poder foi decuplicado pela guerra norte-americana, pelo menos tanto quando pelos intelectuais parisienses.
Como ninguém escolhe o próprio berço, é de se imaginar que o autor não tenha muitas vezes sentido na carne o peso das desigualdades (a não ser pelo título, pouco desconfortável, de amigo dos ricos e dos poderosos). Compreende-se ainda menos que o homem esteja a essa altura ausente de um manifesto endereçado “à esquerda”. Em 1984, é verdade, Bernard-Henry Lévy havia nos iluminado sobre as condições em que suas obras eram gestadas: “Não escrevo em cafés, mas em hotéis. Hotéis do mundo todo. Em Paris, um quarto do Pont-Royal, o 82, porque dá vista para os telhados e seu balcão domina a cidade, ou o do Georges V, o 911. [?] Meu perímetro vai do jardim do Luxembourg, onde moro, à rue des Saints-Pères, onde estamos, ou ao Récamier, onde muitas vezes almoço. Após o meio-dia, o Twickenham, ou então o Flore, a rua Madame” [14].
Depois, o “perímetro” do autor cruzou outros universos encantados, como a festa de gala de Lagardère ou o casamento de François-Henri Pinault, no qual nosso filósofo protagonizou, em 1996, “uma chegada assaz notável, descendo de helicóptero no gramado da propriedade” [15]. Uma vez que ele mesmo se casou com a atriz Arielle Dombasle, “foi necessário um avião para transportar os convidados para Colombe d?Or, o mítico hotel de Saint-Paul de Vence. A Paris Match havia ?negociado? a exclusividade do evento, uma reportagem digna de um casamento principesco, estampado ao longo de seis páginas, sem contar a ?um?, mostrando uma Arielle emocionada, em um vestido branco ?em crepe georgette, aberto nas costas, criado por Karl Lagerfeld para a Chanel” [16], conforme esclarece o hebdomadário. Na lista de convidados, Liliane Bettencourt (na época a primeira fortuna da França), Jack Lang, Alain Carrignon, Philippe Tesson, Hubert Védrine. Sem esquecer o jornalista Louis Pauwels e o industrial Jean-Luc Lagardère, para o qual, dez anos mais tarde, o escritor pronunciará a homilia fúnebre.
Bernard-Henri Lévy avalia que ignoramos quanto somos devedores do capitalismo. “Acreditamos atacar George Soros”, adverte, “e é Gavroche que assassinamos.” Não apenas Gavroche, aliás, pois o “liberalismo” seriam também “os Ateliês Nacionais de 1848”, “o apelo por uma imprensa emancipada”, “o liberal Guizot fazendo votar, perante a Comuna, a abolição do trabalho infantil nas fábricas”. Às vezes, Lévy nos lembra Sarkozy. Enquanto o segundo multiplica as “reformas” para deixar os adversários mais atordoados, incapazes de contra-atacar de todos os lados e ao mesmo tempo, o primeiro empilha nomes, aproximações ou anedotas históricas só para deixar os críticos com vertigem.
O historiador Pierre Vidal-Naquel frisava isso já em 1979: “Seja em história bíblica, história grega ou história contemporânea, Bernard-Henri Lévy demonstra, em todos os domínios, a mesma ignorância constrangedora, a mesma presunção embasbacante” [17]. Nessa época, Bernard-Henry Lévy escreveu que Himmler, que se suicidou em maio de 1945, havia testemunhado, seis meses depois, no Julgamento de Nurembergue! Aqui, ele vê em Guizot ? um pensador conservador e liberal da Restauração e da monarquia de julho ? um dos precursores da Comuna de Paris (cuja repressão sanguinolenta foi apoiada por Guizot).
O último ensaio de Bernard-Henri Lévy foi elogiado por Jack Lang ? “A esquerda a ser reinventada terá de se inspirar nesta obra, na qual nada me atrai mais que seu frescor, seu caráter juvenil, o sopro que a sustenta” [18] ?, bem como por Vincent Peillon, Pierre Moscovici e Manuel Valls, todos os três candidatos à direção do PS. Este último, que Sarkozy convidou a integrar o governo ? coisa que, mesmo não se concretizando (ou ainda não tendo se concretizado), em nada é reveladora da existência de divergências irredutíveis entre os dois homens ?, em diversas ocasiões saudou o discurso de política geral de Fillon “à altura das expectativas do país”, visando criar “um caminho mais curto com a maioria sob a condição de que ela nos escute” e apoiou a supressão dos “regimes especiais” de certos assalariados. Ele reivindica no momento que o partido mude de nome.
Em seu livro, Lévy presta-lhe uma homenagem a esse respeito: “Ainda que inúmeros socialistas continuem a se aferrar a seu socialismo como um velho ator a um papel de repertório, os mais lúcidos dentre eles ? penso no jovem deputado por Essonne, Manuel Valls ? sabem que não haverá salvação para a esquerda sem um ato de ruptura total e imediata com sua história, logo, com seu nome”. Sem mais tardar, o referido deputado escreveu em Les Echos uma crítica sobre a “defesa brilhante” do ensaísta, mas furtando-se pudicamente a explicar que seu elogio era, justamente, um “eco” ao cumprimento recebido. Valls achou admirável particularmente o trecho do livro que o elogiava: “Adorei a idéia segundo a qual não haverá salvação para a esquerda sem um ato de ruptura que a fará romper inteiramente com sua história, logo, com seu nome” [19].
O jogo de espelhos se amplia quando Valls, que alguns de seus camaradas suspeitam pender um pouco à direita, acrescenta: “Aqueles que porventura vierem a dizer que este livro não passa de uma celebração do liberalismo e de uma esquerda direitista é porque não quiseram enxergar que se trata de uma tentativa sincera de introspecção de um intelectual do qual não podemos duvidar, por um só instante, pertencer à família da esquerda”. O deputado de Evry voltou a lembrar entretanto que “se há um terreno que o filósofo mantém inculto é o do social”. Há não muito tempo, declarar-se, como BHL, “um pouquinho surdo à questão social” [20] teria apartado um intelectual da “família da esquerda”. Um ostracismo desses hoje passa por arcaico ? ou “marxista”, diria Arnaul
*Serge Halimi é o diretor de redação de Le Monde Diplomatique (França).