O caso malinês
O Mali, acostumado com os franceses, descobriu os americanos logo depois da guerra do Golfo, em 1992. Desta primeira incursão americana, surgiram programas e investimentos que fizeram do Mali um grande aliadoPierre Abramovici
Os primeiros contingentes norte-americanos chegaram ao Mali pouco depois da guerra do Golfo, durante o ano de 1992. Uma unidade da Guarda Nacional1 do Tennessee veio inicialmente para fornecer tratamento médico aos habitantes de dez aldeias da região de Sevaré, no centro do país. Durante a segunda fase desse programa, os integrantes da Guarda Nacional aérea do Alabama reconstruíram um jardim de infância numa base militar da mesma região. O Mali, habituado sobretudo aos franceses, descobria os norte-americanos. Era apenas o começo.
A partir de 1993, foi implantado o primeiro programa de formação (Joint Combined Exchange Training – JCET) especificamente dirigido pelas forças especiais norte-americanas, seguido a cada ano por exercícios de infantaria leve e de treinamento em “manutenção da paz”. Posteriormente, o programa foi estendido a outros países. O auxílio civil continuou, via a Secretaria da Defesa, fornecendo, sobretudo ao ministério maliano da Saúde, um hospital de campanha completo e equipado com instrumentos de radiografia. Em 1995, um outro programa de ação civil foi lançado pelas forças armadas norte-americanas durante o qual trinta integrantes da Guarda Nacional de Minnesota levaram tratamento médico aos habitantes de dez aldeias da região de Sénou, perto de Bamako. No mesmo ano, a Guarda Nacional de Arkansas cooperou com a Força Aérea do Mali na construção de um dispensário na base aérea de Sénou.
Formação e assistência
O engajamento norte-americano no Mali aumentou em 1997 com a organização de três exercícios de formação
Em 1995, os Estados Unidos também realizaram com sucesso as três primeiras fases de formação do exército maliano em justiça militar, no âmbito de um programa elaborado pelo Instituto de Estudos Jurídicos Internacionais do Departamento da Defesa (DIILS). Uma equipe médica, composta por médicos do Exército, da Força Aérea e da Marinha de Guerra, provenientes do quartel general do Eucom, foi ao Mali, em 1996, para um exercício batizado de Medflag, destinado a preparar os médicos militares locais “para enfrentar casos de urgência médica e de crise”.
O engajamento norte-americano no Mali aumentou em 1997 com a organização de três exercícios de formação: dois exercícios JCET e o primeiro exercício Flintlock. Este último tem por principal objetivo “incrementar a cooperação regional entre as forças de defesa” e a presença de unidades norte-americanas fora dos Estados Unidos sob a coordenação do 96o batalhão dos negócios civis de Fort Bragg, na Carolina do Norte.
Conquista de um aliado
Em sete anos, o Mali tornou-se progressivamente um aliado dos Estados Unidos
Uma unidade do exército senegalês participou desse treinamento. Observadores vindos da Guiné, da Gâmbia, de Gana, da Costa do Marfim, da Guiné-Bissau, do Benin e do Togo participaram do exercício Flintlock, que durou dois meses no Mali.
No mesmo ano, a Força Aérea norte-americana forneceu os meios de transporte necessários à presença na Libéria de 680 soldados malianos e o envio de 450 toneladas de material. O Mali, além disso, recebeu 350 mil dólares, no âmbito do programa norte-americano de auxílio financeiro militar no exterior, para a formação dos pilotos e dos mecânicos designados para dois aviões DC3 inteiramente reformados, comprados pela Força Aérea local de uma empresa norte-americana. No ano seguinte, o Mali aderiu à Acri. Um cargo de adido militar da embaixada norte-americana em Bamako foi criado em 1999. E foi assim que, em sete anos, o Mali tornou-se progressivamente um aliado dos Estados Unidos, somente por intermédio da Secretaria de Estado da Defesa e de diferentes programas associados.
(Trad.: Regina Salgado Campos)
1 – As Guardas Nacionais