O desenvolvimento predatório do agronegócio
No Brasil das últimas décadas, erigimos um altar profano para o agro, no qual são imolados a natureza e os trabalhadores em nome de uma religião abstrata do dinheiro, insensível ao sofrimento e à destruição, mesmo diante da morte e devastação em escalas industriais
A ideia de agronegócio foi criada pelos professores John H. Davis e Ray A. Goldberg, da Universidade Harvard, em meados do século passado. Suas leituras se limitaram a compreender o funcionamento integrado do conjunto de sistemas: agrícola, pecuário, industrial, mercantil e financeiro. Essa opção reducionista em definir o agronegócio desde o paradigma do capitalismo agrário evitou incorporar os impactos predatórios, porque procurava atender aos interesses das grandes corporações em defender a ideia de que o agronegócio é bom para todo mundo. Foi assim que o conceito “harvardiano” de conjunto de sistemas contribuiu para a criação de um modelo de desenvolvimento hegemônico global. Esse modelo está baseado na produção monocultora convencional ou transgênica com uso intensivo de venenos, produzindo predominantemente alimentos ultraprocessados. Agrotóxicos e ultraprocessamento produzem poluição e doenças nos territórios corpo-terra-água. Esses impactos predatórios acontecem no fim do conjunto de sistemas; no início desse conjunto, porém, há a desterritorialização dos…