O dia em que as finanças tremeram
O Estado sempre vem em socorro de um grande banco ameaçado de falência: “too big to fail”. Mas esse preceito – “grande demais para quebrar” – não vale para os países em desenvolvimento, que, coletivamente, contraíram US$ 29 trilhões em dívida em 2023. Seus credores trabalham arduamente para que a lei os favoreça. Não sem ter alguns calafrios
Março de 2023. O mundo das finanças globais é subitamente tomado pelo pavor. Surge no horizonte uma ameaça de proporções inéditas. Paradoxalmente, ela vem do coração da própria capital financeira. Três propostas de lei podem alterar a legislação vigente em Nova York, jurisdição que regula mais da metade dos contratos de dívida do mundo, para facilitar os acordos de renegociação entre credores privados e devedores soberanos. Para o universo financeiro, isso é um pesadelo. Para entender por que, é preciso retornar aos anos 1980. Naquela época, ansiosos por conquistar a confiança dos credores internacionais e acessar crédito a custos mais baixos, os países emergentes emitiram seus títulos de dívida em moeda estrangeira, na maioria das vezes em dólar. Na verdade, não havia muita escolha, já que o mercado impunha taxas próximas da usura para empréstimos em moedas consideradas “arriscadas” – isso quando não se recusava simplesmente a emprestar. Além dos…