O fim de um modelo?
Criada em 1949, uma sociedade anônima francesa de assistência ao setor algodoeiro entrou em conflito com a política neoliberal adotada pelo Banco Mundial. Embora ainda forte na comercialização, a empresa não conseguiu impedir as privatizaçõesAndré Linard
Dagris (Desenvolvimento Agrícola e Industrial do Sul) é o novo nome da Companhia Francesa para o Desenvolvimento do Têxtil (CFDT). Esta sociedade anônima, com maioria de ações públicas, foi criada em 1949, ao mesmo tempo como instrumento de desenvolvimento das colônias do ultramar e de acesso a matérias-primas de que a metrópole necessitava. Depois das independências, “a CFDT tornou-se empresa de cooperação dirigida pelo Estado francês para complementar, auxiliar e assistir as empresas algodoeiras nacionais”. Por exemplo, a CFDT detinha 30% do capital da Companhia Marfiniana para o Desenvolvimentos dos Têxteis (CIDT) pouco antes da privatização parcial da empresa algodoeira.
Contrária ao esquema de privatização adotado pelo governo, por inspiração do Banco Mundial, ela entrou com um pedido de arbitragem em 1997 junto ao Centro Internacional para o Acordo de Conflitos Relativos a Investimentos (CIRDI), que pertence ao grupo do Banco Mundial. Seu argumento formal era um vício de procedimento, mas, na realidade, a CFDT defendia seu ponto de vista, segundo o qual somente a abordagem integrada do setor algodoeiro (explicitamente: um único operador se apropriando das diferentes etapas da produção) garante seu desenvolvimento sustentável1. Subdividir a estrutura de produção cria uma competição nefasta nos países produtores africanos, com proveito para os concorrentes estrangeiros.
O “sistema de concorrência”
A empresa fracassou na tentativa de impedir as privatizações, mas continua a deter uma parte do capital das empresas algodoeiras africanas
O Banco Mundial respondeu que a abordagem integrada é “um modelo sub-otimizado (leia-se, ineficaz) e priva o produtor de uma parte do valor agregado que deveria lhe caber num sistema de concorrência”. A CFDT fracassou na tentativa de impedir as privatizações, mas, com seu novo nome de Dagris, continua a deter uma parte do capital das empresas algodoeiras africanas e intervém no setor da assistência técnica. Controla ainda a comercialização do algodão, por intermédio de sua filial Copaco, no Mali, em Camarões, no Senegal e no Togo.
Por meio de uma rede de participações cruzadas, a Dagris detém partes importantes nas empresas algodoeiras dos principais países produtores da África.
(Trad.: Regina Salgado Campos)
1 – Ler, de Bernard Vinay, “La CFDT, outil de la coopération française”, ediçã