O homem que enterrou Hitler
Confira resenha do livro O homem que enterrou Hitler, dos jornalistas Marcelo Netto e Aldo Gama
A vida imita a arte, a arte descobre-se na vida e ambas, de mãos dadas, podem reescrever a História da Humanidade. Em O homem que enterrou Hitler, os jornalistas Marcelo Netto e Aldo Gama armam-se dessas premissas para compor não uma mera obra de ficção, mas uma ficção que simplesmente não cabe apenas em um livro – ela transborda para a vida e, sobretudo, se debruça sobre as páginas da História como um raio de luz, tirando das sombras documentos e circunstâncias que têm o poder de demolir alguns totens de certezas. Em última instância, têm o poder de apresentar ao ser humano novas perspectivas de compreensão sobre si mesmo.
A teoria de que Hitler não se matou em um bunker de Berlim, em 30 abril de 1945, e de que ele teria vindo para a América do Sul, não é nova. É uma clássica “teoria da conspiração”? Sim. Mas ao contrário de se postular que a terra é plana, há indícios materiais e documentais suficientes para se propor novos estudos sobre o final da Segunda Guerra. A começar pela própria morte de Hitler. Quando os então soviéticos chegaram ao bunker, em 2 de maio, encontraram dois corpos carbonizados, que seriam do führer e de sua mulher, Eva Braun. Ao serem tocados, os corpos viraram pó. Para Moscou, levaram apenas um pedaço do que seria o crânio de Hitler. Há análises refutando que o crânio seja de Hitler e outras, confirmando. A incerteza sobre a morte, aliada à documentação variada – por exemplo, um relatório do FBI, dando conta da possível entrada de Hitler na Argentina, por submarino, em 28 de junho de 1945 (reproduzido no livro), depoimentos ao longo dos anos, uma forte presença não só alemã, como nazista, na América do Sul, com alguns “lumiares” do regime tendo comprovadamente se refugiado aqui – tudo isso alimenta e justifica a dúvida. E a dúvida é a base da ciência.
Em O homem que enterrou Hitler, mais uma peça vem se juntar a esse vasto mosaico: o relato de uma testemunha do segundo enterro de Hitler, em 1973, em Assunção, no Paraguai. Antes de se descartar uma hipótese por absurda – e de aceitá-la sem questionamento – é preciso virá-la do avesso. Como afirma um dos autores, “Dá pra se perguntar o que é fato e o que é ficção. E muitas vezes o absurdo é o que de fato aconteceu”. Assim se constrói – ou reconstrói – o conhecimento.
Ronaldo Abreu Vaio é jornalista, editor de cultura e colunista do jornal A Tribuna, em Santos-SP.
