O imaginário ‘gore’ de Javier Milei
Javier Milei tem pouca simpatia pela cultura, suas instituições, suas subvenções – “um setor parasitário, um meio progressista”… Ainda que sua ofensiva se baseie em números, ela não é fundamentalmente ditada por escolhas econômicas, e sim por uma visão política. Um messianismo obsessivamente “antivermelho” o leva a brandir sua motosserra
Desde sua posse como presidente da nação, em 11 de dezembro de 2023, Javier Milei mostrou qual era seu verdadeiro e talvez único projeto no campo da cultura: liquidá-la. Sua primeira decisão foi reduzir o ministério a uma secretaria e entregar sua direção a um produtor de teatro privado. A segunda foi enviar ao Congresso uma lei gigantesca, conhecida como Lei de Bases (ou Lei Ómnibus, por causa de seus 664 artigos), cujo capítulo 3, dedicado às questões culturais, propunha enxugar, desmantelar e, em alguns casos, eliminar algumas das instituições mais dinâmicas e fecundas do país: o Instituto Nacional do Cinema e das Artes Audiovisuais (Incaa), do qual pretendia suprimir duas das fontes autônomas de financiamento; o Fundo Nacional das Artes (FNA) e o Instituto Nacional do Teatro (INT), que sugeria simplesmente fechar; e a rede de 1.800 bibliotecas públicas, cujo modesto programa de serviços a tarifas subsidiadas queria interromper.…