O impasse da resistência palestina - Le Monde Diplomatique

ORIENTE MÉDIO

O impasse da resistência palestina

por Graham Usher
1 de setembro de 2003
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Fracassada em seu propósito de acelerar o fim da ocupação e corrigir os desvios dos acordos de Oslo, a Segunda Intifada fortaleceu Sharon e se atolou em uma guerra sem controle, que veio a acentuar a disputa entre facções pela liderança do movimento nacional palestino

CronologiaGraham Usher

Em 4 de junho de 2003, no encontro de Akaba, o primeiro-ministro palestino Mahmoud Abbas (Abu Mazen) foi muito elogiado pelo presidente americano George W. Bush, na presença do primeiro-ministro israelense Ariel Sharon: ele representa o “lado aceitável” do nacionalismo palestino. Esta vitória é o resultado de uma política que Mahmoud Abbas, e a corrente da direção palestina que ele representa, preconizam há pelo menos um ano. Segundo eles, tornou-se essencial pôr um fim à Intifada armada para salvar a Autoridade Palestina, obrigar Israel a retirar-se dos territórios re-ocupados e envolver novamente a administração Bush nas negociações. De fato, admitem que um levante nacional que custou cerca de três mil vidas palestinas foi efetivamente vencido e que os termos da rendição foram definidos no “mapa do caminho” adotado pelo Quarteto (Estados Unidos, União Européia, ONU e Rússia) em 20 de dezembro de 20021.

Esta derrota era previsível para um levante sem objetivo e sem estratégia, a não ser uma vaga consciência nacionalista de que as disposições de Oslo – como os dirigentes as negociaram – deviam ser revistas e corrigidas a qualquer custo. Mas o destino da Intifada será selado desde março de 2002, com o assassinato de 275 palestinos e 105 israelenses – incluindo, na data do 28, na noite da adoção em Beirute do plano árabe da paz, umas 30 pessoas celebrando a Páscoa judaica num hotel de Netanya. Esta última atrocidade oferecia a Ariel Sharon a oportunidade da “guerra contra o terrorismo” de que precisa para esmagar Yasser Arafat, a Autoridade Palestina e tudo que lembrasse os compromissos de Oslo.

Esperança aniquilada

Entre 29 de março e 4 de abril de 2003, num movimento maciço e cuidadosamente planificado, batizado de operação Muralha, o exercito israelense invade a Cisjordânia e ocupa todas as principais cidades, exceto Hebrom e Jericó: 250 palestinos morrem, milhares de outros são feridos e vastos arrastões permitem prender mais 8000. Sharon apaga tudo que possa parecer com autonomia e reinstala a autoridade militar israelense em cada cidade, vilarejo e campo de refugiados. Esta volta à situação de antes dos acordos de setembro de 1993, objetivo que perseguia há muito tempo o chefe da direita, é baseada na destruição sistemática das instituições da Autoridade Palestina e uma nova geografia da Cisjordânia, dividida em oito zonas separadas uma das outras por colônias e áreas de isolamento controladas pelo exercito.

A esperança persistindo entre os palestinos e em muitos países árabes de que o fracasso de Oslo precipitaria um plano de salvamento internacional será rapidamente aniquilada. Sharon não levará em consideração os apelos do presidente Bush exortando-o a retirar suas tropas das cidades reocupadas. Apesar disto, Colin Powell demora oito dias para chegar em Jerusalém, via Rabat, Riyad, Cairo, Aman e Madri. Quando chega, enfim, não impõe nenhum cessar-fogo nem retirada das tropas, porém negocia um nebuloso calendário: o exército deixaria algumas cidades da Cisjordânia em 21 de abril no mais tardar. A única concessão feita à sensibilidade árabe será uma visita a Arafat nas ruínas de seu QG.

Vitória diplomática de Israel

Os palestinos não demoram muito para perceber o tamanho de sua derrota, sobretudo aqueles que lideraram o levante no campo: a milícias do Tanzim, oriundas do Fatah de Arafat

Para os palestinos (e para Israel), este encontro tem apenas um significado: os Estados Unidos ainda não desistiram de Arafat ou, mais precisamente, ainda não preparam uma outra solução. Em troca do perdão pela ONU dos crimes de guerra israelenses cometidos nos campos de refugiados de Jenin, Sharon, a contragosto, autoriza o presidente palestino a sair de Ramallah, em 2 de maio.

Sharon não demora a receber os dividendos de seu “comedimento”, acrescentando uma vitória diplomática àquela que acaba de ganhar no campo. Em estreita consulta com o primeiro-ministro israelense, o presidente Bush, na ocasião de um discurso pronunciado em 24 de junho de 2002, complementa sua “visão” de uma Palestina que conviveria “lado a lado com Israel, na paz e na segurança”. Ele condiciona esta perspectiva à instalação de uma “direção palestina nova e diferente”. Ele pede “verdadeiras reformas “, acrescentando que estas “precisarão de instituições políticas e econômicas inteiramente renovadas, fundadas na democracia, uma economia de mercado e ações contra o terrorismo”. Uma vez estas condições preenchidas para satisfazer os Estados Unidos e Israel, um Estado palestino “provisório”, com fronteiras determinadas por Israel, poderia ser proclamado. Então, um acordo final – sobre o estatuto de Jerusalém, as colônias, os refugiados e as fronteiras definitivas – “poderia ser concluído depois de três anos”. Estas condições se tornarão os parâmetros básicos do mapa do caminho.

Desastre para causa palestina

Os palestinos não demoram muito para perceber o tamanho de sua derrota, sobretudo aqueles que lideraram o levante no campo: a milícias do Tanzim, oriundas do Fatah de Arafat. Seus quadros entendiam agora que a estratégia de Intifada armada – e particularmente os atentados suicidas dentro de Israel – fora desastrosa para a causa palestina. Ofereceu a Sharon, a seu eleitorado e a Washington, a carta branca de que precisava para perseguir suas ambições coloniais israelenses na Cisjordânia. Acabou esgotando as reservas de simpatia diplomática e popular dos palestinos, inclusive na Europa. Além disso, colocava em perigo a reivindicação do Tanzim de assumir a direção da Palestina.

Os atentados suicidas dentro de Israel ofereceram a Sharon, a seu eleitorado e a Washington carta branca para perseguir suas ambições coloniais israelenses na Cisjordânia

Entre os 6000 militantes palestinos presos por Israel durante a reconquista da Cisjordânia, muitos são quadros médios desta organização, núcleo da direção política e militar do movimento. Entre eles, a captura mais preciosa foi a prisão televisiva, em 15 de abril, do carismático secretario-geral do Fatah para a Cisjordânia, Marwan Barghouti. Dezenas de outros dirigentes locais do Fatah foram ou mortos durante os combates, ou assassinados. Aqueles que os substituem se parecem mais com “senhores da guerra”, além de mais jovens e inexperientes, acostumados a operar em bandos e mais leais com seu clã, distrito ou comunidade que com a direção nacional. Daí um movimento indisciplinado e confuso, onde se criam abismos não somente entre as alas militares e políticas, mas também dentro delas próprias.

As propostas democráticas da Tanzim

Para reverter este quadro, a direção política do Tanzim – na cadeia ou não – lança um apelo para a mudança em três pontos. Primeiro, a OLP precisa de uma direção nova e revigorada, dita de “urgência nacional”, responsável pela estratégia e por eventuais negociações com Israel. Depois, a Autoridade necessita um governo de técnicos, mais unido, reformado, tendo como tarefa única fornecer serviços eficazes, e que será responsável perante o povo. Enfim, é preciso chegar a um acordo que envolva todas as facções palestinas (e, sobretudo, o principal rival do Fatah, o Hamas) sobre “os meios e os espaços da resistência”.

Graças a estas mudanças democráticas, a organização pensava não somente em recuperar as perdas devidas à reconquista israelense, mas também em acelerar a substituição dos dirigentes do Fatah e da Autoridade, “os quais”, explica um dirigente do Tanzim, “precipitaram os palestinos na crise atual por falta de estratégia durante estes dois últimos anos”. Como era de se esperar, a direção na situação tomou medidas para fazer capotar esta “revolução dentro da revolução”.

O “silenciamento” da resistência

Há muito tempo lideres históricos do Fatah, como Abbas, pensavam que a “militarização” da Intifada significava a morte da Autoridade e do seu próprio papel dirigente

Há muito tempo lideres históricos do Fatah, como Abbas, pensavam que a “militarização” da Intifada significava a morte da Autoridade e do seu próprio papel dirigente. Mas sendo o altíssimo preço pago pelos palestinos pelo levante, nenhum deles podia abrir mão desta alternativa abertamente. A escapatória escolhida será um novo discurso “reformista” silenciando a resistência. Esta fórmula se enquadra perfeitamente dentro dos esforços diplomáticos internacionais do Quarteto que procura, no mesmo momento, extrair do discurso do presidente Bush um plano diplomático permitindo pôr um fim à Intifada. Estas iniciativas do Quarteto e de Mahmoud Abbas vão convergir, dando luz ao mapa do caminho e sua idéia de reforma imposta por cima, ao invés da transformação democrática preconizada pelo Tanzim.

“Reforma” vai, desde então, significar reorganização dos serviços de segurança quase que inteiramente destruídos e das instituições financeiras, conforme mandam a CIA e o FMI. Abbas não propõe uma estratégia de resistência coerente, mas um cessar-fogo unilateral em acordo com todas as facções, as forças de policia palestinas retomando o controle dos territórios reconquistados após a retirada israelense planificada área por área. Com o apoio do Comitê central do Fatah, ele assume também o compromisso de pôr um termo ao “fenômeno das milícias”, salientando que cabe apenas às forças da Autoridade “defender o povo palestino”.

Mudança de regime ditada pelos EUA e Israel

Consciente do desencantamento generalizado do povo em relação a estas forças, inclusive por causa do grande número de oficiais que fugiram quando da operação Muralha, Abbas promete “uma reforma radical de tudo”, mas se restringe a propor a organização de novas eleições e a designação de um novo primeiro-ministro para privar Arafat de alguns de seus poderes executivos. Fazendo isto, ele dá a impressão de atender a condição, posta por Bush e Sharon, de uma “direção palestina diferente” como condição prévia a qualquer novo processo político.

Para muitos membros do Tanzim, estas formulações desfiguram suas exigências democráticas e preparam uma “mudança de regime”, ditada pelos Estados Unidos e Israel, e aceita por uma direção falha que enxerga nesta estratégia o único meio de preservar sua legitimidade regional e internacional. O Tanzim sabe também que, sendo uma obsessão americano-israelense acabar com Arafat, seus apelos para a reforma não têm nenhuma chance de serem ouvidos pela população palestina.

Pressões sobre Arafat

As iniciativas do Quarteto e de Abbas convergem, dando luz ao mapa do caminho e à reforma imposta por cima, ao invés da transformação democrática preconizada pelo Tanzim.

Em 19 de setembro de 2002, o exército israelense retoma a sede do quartel-general de Arafat em Ramallah, após dois atentados suicidas em Israel que fizeram sete mortos civis. Temendo que esta ação signifique o exílio forçado de Arafat, ou pior ainda, os palestinos da Cisjordânia e de Gaza se unem na defesa do velho líder. Arafat vê nestas manifestações amplamente espontâneas um “plebiscito” a favor de sua manutenção, e faz pressão sobre o Conselho legislativo para afastar a designação de um primeiro-ministro “após a criação de um Estado palestino”. Ele apresenta com habilidade todos os pedidos de controle democrático de sua direção como complôs de inspiração israelo-americana visando afastá-lo, e mobiliza os militantes do Fatah para que espalhem esta versão para todos aqueles que teriam algumas veleidades de reforma.

É fazendo uso das influencias de sempre que o presidente palestino consegue matar no ninho as tentativas de reforma vindo de dentro. Porém esta recuada deixa um vazio, rapidamente ocupado pelos diplomatas do Quarteto. Nesta altura, os Estados Unidos condicionam a publicação oficial do mapa do caminho, não somente a uma reestruturação controlada dos serviços de segurança e das instituições financeiras da Autoridade, mas à designação de um primeiro-ministro cuja abordagem política seja diferente da de Arafat. E recorrem à intimidação para forçá-lo a aceitar esta redução de seus poderes.

Batalhas desgastantes

Arafat conseguiu matar no ninho as tentativas de reforma vindo de dentro, deixando um vazio ocupado pelos diplomatas do Quarteto, que exigiram que ele abrisse mão de seus poderes

Desde dezembro de 2002, a questão não era mais saber se os Estados Unidos iriam fazer a guerra contra o Iraque, mas quando. Ninguém ignorava também que muitos membros do governo israelense gostariam de aproveitar esta guerra para livrar-se Arafat de uma vez por todas. O Quarteto informa então a este que sua sobrevivência depende de sua aceitação de um primeiro-ministro dispondo de reais poderes. Submetido a enormes pressões, o dirigente palestino deve aceitar ao mesmo tempo a idéia e o homem, Abbas, único candidato aceitável seja por Washington ou pelo Fatah. Quatro meses depois, após desgastantes batalhas com o presidente palestino sobre cada um dos poderes de que o novo primeiro-ministro será dotado, o Conselho legislativo elege, em 9 de março de 2003, Mahmoud Abbas. O Sr. George W. Bush declara ver nele “o novo líder da Autoridade palestina”.

A tarefa de, segundo os termos do mapa do caminho, é tão simples quanto gigantesca: em troca do “compromisso” dos Estados Unidos de permitir a sobrevivência do regime palestino, a Autoridade deve “pôr um fim, por toda parte, a qualquer ato de violência contra os israelenses”, inclusive dentro dos territórios ocupados. Israel queria que isto ocorresse ao preço de uma guerra civil entre palestinos, mas Abbas optou por uma abordagem gradual: ele pretende começar com um cessar-fogo aceito por todas as facções palestinas, seguido do desmantelamento e do desarmamento de todas as milícias, se possível por vontade própria, senão pela força.

O fortalecimento do Hamas

Para a maior parte dos palestinos, o primeiro objetivo parece estar ao alcance da mão, sendo o impasse estratégico onde a Intifada se trancou. Mas poucos são aqueles que acreditam na viabilidade do segundo, sendo a força e a vivacidade da “resistência armada” palestina, e principalmente de seu componente mais mortífero, o movimento islâmico Hamas.

Desde o fim de 2002, este emergiu como a força dominante e cada vez mais independente nos territórios ocupados, preenchendo o vazio deixado pela derrota do Tanzim pelo exército israelense. As pesquisas mostram que seu nível de popularidade se iguala ao do Fatah. O Hamas deve esta popularidade à resistência que seus combatentes opuseram às invasões israelenses, ao desabamento das forças de polícia da Autoridade, à aliança militar e às vezes mesmo política que fez com o Tanzim e à popularidade de suas operações suicidas em Israel.

Mas a disciplina do movimento e seus programas sociais são de igual importância: o leque impressionante de serviços de ajuda social e de caridade do Hamas contrasta fortemente com a ineficiência e a deliqüescência dos ministérios da Autoridade, principalmente sob o impacto da política israelense de punição coletiva, que visava justamente o isolamento e a destruição das instituições palestinas. De movimento de oposição à Autoridade e do que foi sua política um dia, o Hamas se transformou numa possível “alternativa política, social, militar e ideológica à ordem palestina atual”, segundo o Sr. Ziad Abou Amr, ministro da cultura da Autoridade e especialista sobre islamismo palestino.

Nova relação de forças

Desde o fim de 2002, o Hamas emergiu como a força dominante e cada vez mais independente nos territórios ocupados, preenchendo o vazio deixado pela derrota do Tanzim

A nova relação de força é revelada à luz do dia quando o Hamas bloqueia as tentativas do Tanzim em chegar a uma “política comum” sobre a Intifada. Durante discussões entre facções palestinas em Gaza e no Cairo em agosto de 2002 e fevereiro de 2003, o Fatah formulou dois pedidos: um reconhecimento por todas as facções que a luta nacional tem o objetivo do estabelecimento de um Estado palestino em Gaza e na Cisjordânia, e que a resistência popular armada deve limitar-se a estes territórios. Também pediu para o Hamas se juntar a um governo de união nacional antes da realização destas novas eleições. A estas três solicitações, o Hamas – conforme explicava Abdel Aziz Rantisi, um dos principais dirigentes – opôs um não categórico. Este reivindicava um direito à resistência “sobre todas as terras da Palestina”, inclusive Israel. Irá participar de um governo de união nacional apenas se for baseado num “apoio à Intifada e à resistência”. E recusava aderir a uma política comum, “pois não há nenhuma política comum entre Al Fatah e Hamas “.

Porém o desacordo fundamental permanecia sobre os objetivos. Se o Hamas concorda em afirmar que o objetivo imediato dos palestinos é pôr um fim à ocupação dos territórios perdidos em 1967, ele se nega a renunciar à reivindicação nacional e religiosa sobre todo o território da antiga Palestina mandatária, inclusive a parte que hoje pertence a Israel. “A Intifada visa obrigar Israel a retirar-se dos territórios ocupados em 1967, mas isto não acaba com o conflito israelo-árabe”, complementa Rantisi.

A concessão máxima que os islamitas aceitam é um cessar-fogo temporário e condicional, em troca de “garantias” de que Israel se retire dos territórios reconquistados em 2002, libere os prisioneiros sem discriminação entre facções e ponha um fim à campanha de assassinatos focados sobre seus quadros políticos e militares. Após meses de barganha, estas condições serão a base da trégua anunciada em 29 de junho de 2003 pelo Hamas, o Jihad islâmico e pelo Fatah. Eles se comprometeram durante três meses, com a condição de que a Autoridade não proceda nem a prisão nem ao desarmamento de seus combatentes.

Três lideranças diferentes

O Hamas concorda que objetivo imediato dos palestinos é o fim da ocupação dos territórios perdidos em 1967, mas se nega a renunciar à reivindicação das terras da antiga Palestina

Antes do início da segunda Intifada, no fim de setembro de 2000, o movimento nacional palestino caminhava hesitante sob uma liderança inadequada, porém única. Agora este sofre com três lideranças diferentes.

O primeiro é o antigo regime, escondido debaixo da roupa da Autoridade. Ele se divide em dois grupos: os que, como Abbas, aceitam sem pestanejar o programa americano, considerado como único meio de permitir um salvamento da causa palestina pela comunidade internacional; os que temem que a marginalização de Arafat por Israel e pelos Estados Unidos anuncie sua própria liquidação e a erosão dos “fundamentos” do nacionalismo palestino (autodeterminação, retirada israelense e direito à volta). Mas todos estão de acordo para resignar-se ao mapa do caminho e renunciar ao terrorismo como condição sine qua non de uma volta ao caminho da Casa Branca.

O segundo expressa a geração emergente dos dirigentes hoje enfraquecidos, representada pelo Tanzim. Sua política nacional – e especialmente o fato de que, para eles, o objetivo da luta é o estabelecimento de um estado palestino sobre os territórios ocupados em 1967 – permanece majoritário entre os palestinos da Cisjordânia e de Gaza. Porém suas imensas perdas obrigaram o Tanzim a questionar a viabilidade a Intifada armada como estratégia de libertação. O ponto de vista que predomina entre eles é um apoio tático ao cessar-fogo, ao mapa do caminho e a. Abbas como primeiro-ministro, para libertar seus dirigentes e organizar a realização de eleições, onde “a jovem guarda do Fatah tentará afastar a velha e tomar o comando”, segundo a previsão do analista político Khalili Shikaki.

A terceira, é a “resistência” armada, liderada pela ala radical do Hamas e por dissidentes do Fatah como a brigada dos mártires de Al-Aqsa e os Comitês da resistência popular. Movidos por uma ideologia islâmica mais poderosa, a cada vez mais estreitamente aliados às forças nacionalistas através o mundo árabe e muçulmano, eles pretendem implicitamente forjar um novo movimento nacional sobre os destroços do antigo. A estratégia imaginada é a da “resistência sozinha”, que teve êxito para o Hezbollah no sul do Líbano. Na medida em que estes movimentos se fixam um objetivo a médio prazo, não é a paz, mas a retirada forçada de Israel, ou uma “separação unilateral” de quase todos os territórios ocupados.

Movimento clivado e estratégias excludentes

As eleições nacionais constituem o único campo onde as várias correntes do movimento podem se unir e onde a orientação futura da luta nacional pode ser decidida legitimamente

Esta cacofonia política, ideológica e organizacional é o fruto amargo de um levante que muitos, dentro do Tanzim, acreditavam que ia precipitar o fim da ocupação corrigindo os pontos mais desastrosos dos acordos de Oslo, mas que agiria como um catalisador de uma democratização do regime palestino, abrindo-lhes o caminho para o poder. Três anos depois, nenhum destes objetivos foi atingido, de maneira que a direção da Autoridade fique nas mãos de figuras desmoralizadas como Abbas e Arafat, a resistência entre as do Hamas e de todos aqueles que aderem às suas soluções militares. Isto resulta num movimento clivado entre duas, ou até três estratégias mutuamente exclusivas, uma realidade que tentam dissimular com cessar-fogo e outros acordos provisórios, ao invés de enfrentar o problema.

Para vários observadores palestinos, a única esperança de sair deste impasse é, para o povo(?), assumir a busca de uma estratégia comum de libertação para o período do pós-Oslo que envolveria todo o mundo, como tentaram fazer as facções em Gaza e no Cairo. Uma tal estratégia deveria obrigatoriamente ancorar-se no veredicto democrático do povo palestino, na ocasião de eleições locais, legislativas e presidenciais. As eleições nacionais constituem sem dúvida o único campo onde as várias correntes do movimento palestino podem se unir e onde a orientação futura da luta nacional pode ser decidida legitimamente, porque democraticamente.

A urgência de eleições nacionais

Desde sua prisão em Israel, Marwan Barghouti declarou que as eleições são “o meio legal e democrático” de forçar a saída de “muitos funcionários e dirigentes da Autoridade” que falharam “nos seus papéis e em suas responsabilidades neste momento decisivo da batalha”. Líderes do Hamas (inclusive Rantisi) afirmaram que seu movimento inclinar-se-ia frente “à decisão de uma maioria de palestinos, se as eleições forem livres e não sujeitas às restrições de Oslo”, e que aceitaria até uma interdição dos atentados em Israel – é inconcebível que os palestinos aceitem por um voto proibir ações armadas contra soldados e colonos dentro dos territórios ocupados.

No entanto, a realização desta eleição deverá ser arrancada pela luta contra a vontade israelo-americana de impedir qualq



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