O massacre de Santa Cruz no Timor-Leste completa 30 anos
O massacre aconteceu em 12 de novembro de 1991, quando, durante uma procissão vários jovens foram mortos a tiros pela polícia indonésia, que encurralou o grupo leste-timorense no cemitério de Santa Cruz
Num longo processo histórico, que compreende entre 1513 a 1975, Timor-Leste foi mantido como colônia portuguesa. Contexto este, iniciado no período das Grandes Navegações.
Em 28 de novembro de 1975, a associação política Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente (FRETILIN) proclamou, unilateralmente, a independência do país perante a invasão portuguesa. No entanto, dias depois, esse processo de independência foi interrompido pelos invasores indonésios em 7 de dezembro de 1975, apoiados pelos EUA, Reino Unido e Austrália (no contexto de Guerra Fria), objetivando a dominação espacial do lado leste da ilha de Timor.
Esse domínio, que começou com os portugueses, pretendendo a exploração econômica do território do país leste-timorense, ocorreu não apenas por meio da violência física contra os timorenses, mas também através da violência cultural e humana. Como exemplos desse processo de violência, é possível destacar o massacre de um terço da população do país, a apropriação do petróleo e das terras de Timor, até a imposição linguística praticada pelos governos de Portugal e Indonésia.
Cabe destacar que dentre as manifestações de violência, mais especificamente no que se refere ao período em que Timor-Leste esteve sob o domínio indonésio, como fruto de um regime ditatorial, mais de 300 pessoas, sobretudo jovens, foram mortas pela polícia indonésia no cemitério de Santa Cruz, localizado na capital Díli.
O massacre aconteceu em 12 de novembro de 1991, quando, durante uma procissão, que tinha como origem a igreja de Motael e destino o cemitério de Santa Cruz, vários jovens começaram a levantar faixas e a proferir gritos de ordem em alusão a um Timor-Leste livre e independente. Nisso, quando os manifestantes já se encontravam próximos ao cemitério, a polícia indonésia começou a atirar a sangue frio, encurralando os leste-timorenses no cemitério de Santa Cruz.
O jornalista britânico e timorense Max Stahl – que infelizmente faleceu no dia 27 de outubro de 2021 -, que se encontrava no interior do cemitério, filmou grande parte do massacre. Em seguida, escondeu a câmera em um dos túmulos e dias depois foi ao local buscar o equipamento que continha a prova de toda a situação desumana promovida pelo governo indonésio. A fita com a gravação do massacre foi levada para a Austrália.
E foi assim que as atrocidades proporcionadas – diretamente pela Indonésia e indiretamente pelos Estados Unidos, Austrália e Reino Unido – foram denunciadas ao mundo. É inegável que os países membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) não soubessem o que estava acontecendo no Timor, apenas ficou difícil esconder o genocídio.
Assim, no ano de 1999, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução para a criação da Missão das Nações Unidas em Timor-Leste, com o intuito de realizar o referendo naquele mesmo ano e instituir o subsequente governo transitório para a independência deste país. Através da consulta popular, votaram 98,6% dos recenseados, tendo como resultado 21% da população contra a independência e 78,5% a favor.
Por fim, após décadas de resistência por meio de guerrilha, somadas à denúncia realizada pelo jornalista Max Stahl, é que Timor-Leste conquista a restauração de sua independência em 2002, sendo a primeira democracia a se estabelecer como tal no século XXI.
Samuel Penteado Urban é professor da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pesquisador associado da Coordenadoria de Estudos da Ásia/UFPE e membro da Anistia Internacional Natal/RN.