Para você que vai votar!
Esses acontecimentos, pouco divulgados por aqui, dizem alguma coisa. Que a cidadania, quando mobilizada, garante a democracia e faz prevalecer os interesses das maiorias.
Estamos às vésperas de escolher 5.570 prefeitos(as) e 56.600 vereadores(as). Na cidade de São Paulo são 14 candidatos(as) à prefeitura e 1.997 candidatos(as) à vereança, segundo o TSE. Disputam 55 vagas. Nas capitais são 24.133 candidaturas. Ao todo, são 545.036 pessoas inscritas até 28 de outubro de 2020 para disputar o pleito. É muita gente!
Como você vai escolher seu candidato ou candidata em meio a tanta gente? Pouco se conhece da posição dos partidos políticos nestas eleições e dos programas dos(as) candidatos(as) que agora estão defendendo educação, saúde, melhoria na mobilidade, e tudo o mais de que o povo precisa ou quer. Confunde, pois esse discurso aparece com a eleição e some depois dela. A questão não é fácil e merece uma reflexão.

Historicamente, as prefeituras e câmaras municipais têm sido controladas pelos interesses de grupos empresariais que não estão preocupados com a qualidade de vida da população. Encaram a cidade como uma oportunidade de negócios e atuam na prestação de serviços às prefeituras e/ou exploram o mercado imobiliário e de obras públicas.
Eles ajudam financiando as campanhas eleitorais e depois cobram dos eleitos que defendam seus interesses. São grupos econômicos fortes na área dos transportes coletivos, da coleta e destinação do lixo, do asfaltamento de ruas; são incorporadoras que querem mudar o zoneamento da cidade para facilitar seus empreendimentos imobiliários; são prestadores de serviços de manutenção da cidade etc. Controle de qualidade dos serviços, nem falar! A lógica é: se eu ajudo você a se eleger, você me ajuda a ganhar o dinheiro público. Esse “me ajuda” não tem nada de democrático ou republicano. É falcatrua. É crime. Em alguns casos, como a aprovação de leis, é legal, mas atende ao interesse privado, não ao interesse público. Tudo isso só aumenta a desigualdade entre os territórios e moradores e moradoras da cidade.
Para enfrentar a pandemia, a recessão, o desemprego e toda a crise social que se aprofunda, um governo precisa atender ao interesse público, formular novas políticas públicas e se preocupar em resolver os problemas das maiorias empobrecidas. Então não dá para colocar o lobo tomando conta das galinhas. Não pode ser mais do mesmo. É preciso mudar o que está aí e colocar gente nova no governo da cidade.
Mas então quais são os critérios para escolher seu candidato ou candidata?
Há novidades na conjuntura. Foram se constituindo ao longo dos anos atores coletivos que lutam contra as desigualdades sociais e discriminações impostas por esta sociedade dominantemente patriarcal, branca, machista, racista, homofóbica, fundamentalista, conservadora, destruidora do meio ambiente. É preciso reconhecer a importância desses atores que impulsionam as mudanças. É preciso delinear novas possibilidades de futuro, expressas nas candidaturas de jovens, mulheres, negros, sobretudo das mulheres negras, para que participem das decisões públicas.
Por esse raciocínio, cabe fazer algumas perguntas que talvez ajudem você a identificar o melhor candidato ou a melhor candidata.
Quais candidatos ou candidatas se propõem a enfrentar a desigualdade social, a orientar as políticas públicas para beneficiar os mais pobres, a aumentar os tributos dos mais ricos? A defender os direitos das mulheres? A lutar contra o racismo e o genocídio dos jovens negros e pobres? A defender a diversidade sexual e a liberdade de ser o que se quiser? A defender o meio ambiente, o verde, o manejo dos resíduos sólidos e ser contra a poluição nas cidades? A enfrentar a violência e a segregação nas cidades? A valorizar as múltiplas e diversas expressões da cultura em nosso meio? A respeitar e valorizar todos os tipos de religião?
Há poucos dias assistimos à vitória eleitoral do MAS, na Bolívia. Uma vitória dos interesses das maiorias – no caso, dos povos originários, como eles se definem. Mas essa vitória eleitoral só foi respeitada pelos que deram antes o golpe no governo de Evo Morales porque a organização e a mobilização popular garantiram isso. Antes mesmo das eleições havia mais de 150 bloqueios de estradas pressionando por eleições limpas.
O mesmo está acontecendo no Chile. Dezenas de milhares de chilenos e chilenas se mantiveram mobilizados e se concentram há um ano em praças públicas. Pressionaram durante todo ano – e também agora na reta final – para que fosse respeitada a consulta popular que, afinal, decidiu que haverá uma Constituinte independente, especialmente eleita para fazer a nova Constituição democrática.
Esses acontecimentos, pouco divulgados por aqui, dizem alguma coisa. Que a cidadania, quando mobilizada, garante a democracia e faz prevalecer os interesses das maiorias.