“Plantas-remédios”: desnecessárias e perigosas
A manipulação genética é utilizada há um quarto de século para produzir, em laboratório, insulina, vacinas e outros medicamentos. Cultivar as plantas na natureza não traz nenhum benefício novo, e introduz o risco de contaminaçãoChristian Vélot
“Plantas-medicamento” são plantas geneticamente modificadas (PGM) nas quais é introduzido um gene, com o fim de se produzir uma proteína de interesse farmacêutico. Há um quarto de século, a tecnologia de manipulação genética é utilizada em laboratório para a produção de diversas proteínas com fins terapêuticos (insulina, hormônio de crescimento, vacinas, etc.), empregando células em cultura (bactérias, levedos) e também células de insetos, de ovários de hamster e de vegetais, em fermentadores fechados.
Dois argumentos sem consistência
Os argumentos utilizados para justificar a súbita “necessidade” de se recorrer a plantas cultivadas em campo são de duas ordens: técnica e econômica. O argumento técnico sustenta que, freqüentemente, as proteínas só são funcionais após modificações químicas (como a adição de açúcares), que as plantas seriam mais aptas a realizar. Ocorre que o levedo, por exemplo, tem um resultado tão bom, ou até melhor, que a planta. Mesmo que os vegetais constituíssem o sistema ideal, as culturas de células de plantas geneticamente modificadas poderiam ser feitas em em espaço confinado – como já é o caso de 23 proteínas medicamentosas. O desempenho das culturas de células vegetais independe de clima, solo e estações do ano, além de eliminar qualquer risco de contaminação do medicamento por pesticidas.
Por outro lado, o argumento econômico, de que a cultura em campo requereria menor investimento, não considera os custos ambientais e sociais que uma contaminação por produção em campo acarretaria. Aliás, com células de raízes, a proteína produzida é freqüentemente excretada no meio de cultura. Cultivar tais plantas geneticamente modificadas em campo provoca risco de consumo descontrolado, tanto por animais quanto por humanos, de moléculas cujo consumo exigiria prescrição médica. Por sinal, em 2004, a Academia Norte-americana de Ciências emitiu um parecer crítico sobre essas PGM (Biological confinement of genetically engineered organisms). Por que não nos serve, neste caso, o exemplo dos EUA, ao jamais deixamos de nos referir?