Por que a inteligência artificial vê Barack Obama como branco?
O que há de mais neutro, dizem, do que um computador? Engano: por trás de seus veredictos frios, algoritmos e autômatos encapsulam todos os vieses dos humanos que os projetam. Baseada no modelo do indivíduo calculador e herdeira de uma história permeada por escolhas ideológicas, a inteligência artificial é uma máquina política. Colocá-la a serviço do bem comum implica, antes de mais nada, desconstruí-la
A empresa OpenAI, famosa por seu produto principal, o ChatGPT, foi, em novembro de 2023, o cenário de um curioso conflito de governança. O comitê de direção, liderado por Ilya Sutskever, cientista da computação e cofundador da empresa, destituiu o diretor-geral, Sam Altman, também cientista da computação e cofundador. Altman acabou recuperando sua posição, mas o episódio revelou uma cisão interna entre duas ideologias opostas na superfície, mas, na realidade, não tão distantes: o altruísmo eficaz (effective altruism) e o aceleracionismo eficaz (effective accelerationism). Os adeptos do primeiro tentaram – sem sucesso – afastar os partidários do segundo, temendo que levassem a humanidade à ruína. Desenvolvido nos Estados Unidos nos anos 2000, o altruísmo eficaz visa responder à questão do uso ideal dos recursos para o bem comum. Os defensores dessa corrente de pensamento se consideram designados por suas capacidades intelectuais, financeiras e técnicas superiores para hierarquizar e resolver os…