Praça Tahrir, um símbolo sitiado
Epicentro da revolução egípcia há dez anos, a Praça Tahrir, no Cairo, esteve no coração dos confrontos e da mobilização que levaram à queda do presidente Hosni Mubarak em 11 de fevereiro de 2011. Desde o golpe de Estado militar perpetrado em 3 de julho de 2013, o regime se reapropriou do lugar, limpando-o de qualquer vestígio da revolta popular
Todas as vezes que Nader Fahmi1 cruza a Praça Tahrir, no centro do Cairo, seu coração acelera. O motivo não é nem a emoção nem a nostalgia da revolução de 2011 e seu fervor, mas o medo. “Se a polícia me para e pede que eu desbloqueie meu celular, posso ser preso”, sussurra o ativista pelos direitos humanos. Em 2011, então na casa dos 30 anos, ele participou das mobilizações populares que começaram no dia 25 de janeiro e levaram à renúncia do presidente Hosni Mubarak, em 11 de fevereiro. Ele se lembra das fileiras cerradas de manifestantes unidos, das palavras de ordem entoadas incessantemente, como “El-cha’ab yourid isqat el-nizam” [“O povo quer a queda do regime”] ou “Irhal!” [“Fora!”], e dos debates políticos improvisados nos acampamentos que floresceram na praça. Hoje ele sabe que qualquer suspeita pode mandá-lo para junto dos 60 mil a 100 mil prisioneiros de consciência…