Quando a vida dos negros nos Estados Unidos era mais dura que na escravidão
Foi para “garantir a democracia no mundo” que os Estados Unidos se envolveram na Primeira Guerra Mundial, enquanto a segregação racial dos negros do sul era mais meticulosa do que as futuras leis nazistas de Nuremberg. Nesta segunda parte dos excertos publicados pelo Diplô de seu novo livro, Loïc Wacquant analisa esse sistema político e repressivo que sobreviveu até os anos 1960
Para contestar os abusos econômicos dos quais eram vítimas como arrendatários e os maus-tratos pessoais infligidos ao acaso pelos brancos nos encontros do dia a dia, o primeiro recurso lógico dos negros nos Estados Unidos teria sido exercer pressão eleitoral sobre as autoridades. Entretanto, se no papel os afro-americanos haviam conquistado o direito de voto em 1870 graças à 15ª emenda à Constituição federal, na realidade eles foram sistematicamente banidos das urnas em todo o sul. Um labirinto de regras de inscrição bizantinas, condições de residência, taxas de participação, testes de capacidade de leitura, perda automática dos direitos civis em caso de condenação penal e simplesmente a trapaça e a coerção dos funcionários locais os transformaram em cidadãos zumbis, desprovidos de qualquer capacidade política.1 Toda contestação dessas restrições era sufocada, pois “não votar e não reclamar por não poder fazê-lo era parte integral do ‘lugar’ de casta dos negros”.2 À…