Tanzânia: o povo massai expulso pelo turismo – e pela caça
Em 1968, os Beatles zombavam de “Bungalow Bill”, um ocidental adepto da meditação e da caça ao tigre na Índia. Hoje, seus herdeiros vêm dos Emirados Árabes Unidos, que caçam grandes animais nos vales e pastagens da África Oriental – em detrimento das populações locais, forçadas a fugir pelas autoridades que cuidam muito bem desses afortunados predadores
Envoltos em seu tradicional shuka vermelho, com o cajado de pastor nas mãos, Abel1 e sua família nos recebem em seu boma, uma aldeia massai composta de cabanas redondas e um curral, rodeada de espinhos e urtigas para proteger o gado dos leões. Atualmente, porém, os massai de Loliondo, no noroeste da Tanzânia, têm menos medo dos predadores – o ataque ao gado é raro, já que os herbívoros que vivem na savana são mais fáceis de alcançar – do que das autoridades: “Não fotografem nosso rosto”, implora o anfitrião, “nem nada que permita reconhecer aqui”. Abel tem boas razões para se mostrar prudente: ele e outros vinte massai acabam de passar cinco meses na prisão de Arusha. “Éramos setenta detentos amontoados em uma cela que devia abrigar 25. Eles pegaram pessoas influentes, chefes tradicionais, aqueles que estudaram ou que têm contato com associações ocidentais” de defesa dos direitos dos…