Terrorismo nuclear, mitos e realidades
A política de não-proliferação é essencial na luta contra a ameaça – real – do terrorismo nuclear. Se faz necessária uma nova política para o Oriente Médio e um maior combate ao tráfico, mas os esforços da Europa e dos EUA permanecem modestosGeorges Le Guelte
Nunca um avião caiu sobre uma central nuclear ou sobre uma usina de tratamento. Mas até onde podemos prever, o número de vítimas provocado pela radioatividade seria provavelmente insignificante. Com a condição de que o incêndio provocado pelo querosene contido nos paióis seja rapidamente controlado e que a instalação seja dotada de meios de combate contra o fogo comparáveis àqueles que são utilizados nos aeroportos.
Se um criminoso utilizasse uma “bomba radiológica”, seria de fato seu explosivo clássico – e não a irradiação radiológica – que provocaria a maioria das mortes. Os estragos materiais seriam igualmente consideráveis. E, principalmente, o atentado teria conseqüências psicológicas muito grandes, com riscos de pânico na população mal informada, muito sensibilizada com o nuclear (tanto militar quanto o civil) e um pessoal de serviço hospitalar pouco preparado.
Uma convenção internacional
Tais atentados teriam, em todo caso, conseqüências que não podem ser comparadas com as de uma agressão que utilizasse uma ogiva nuclear explosiva. Esta faria dezenas de milhares de vítimas; abalaria por muito tempo as estruturas sociais e os equipamentos públicos. Seus efeitos psicológicos, sociais e políticos seriam de natureza e amplitude bem superiores, aliás, dificilmente previsíveis. Este perigo é infinitamente mais grave que qualquer outro.
Há meios de reduzir a probabilidade de tais atentados? Há anos, os especialistas sugeriram técnicas para evitar os seqüestros de avião. Algumas começam a ser utilizadas, mas na verdade foram necessários anos para que estas propostas fossem seriamente estudadas. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) reclama da mesma maneira, há muito tempo, uma convenção internacional que obrigasse cada país a condicionar a fins médicos ou industriais todas as fontes radiotivas utilizadas em seu território. Os Estados Unidos se opôem, mas nada impede que os europeus tomem a iniciativa de uma tal convenção, ignorando Washington, como fizeram com o protocolo de Kyoto ou com o Tribunal Penal Internacional.
Matéria físsil ao alcance da mão
Os russos têm 500 toneladas de urânio enriquecido e 50 toneladas de plutônio estocadas em instalações insuficientemente protegidas e em péssimas condições de segurança
Nos termos dos acordos “Start” de redução dos armamentos nucleares estratégicos nos Estados Unidos e na Rússia, um grande número de ogivas foram retiradas de serviço. Mas ninguém sabe quantas delas foram desmanteladas nem que quantidade de matéria radiotiva foi recuperada. Sabe-se somente que os russos dispõem de, ao menos, 500 toneladas de urânio muito enriquecido e 50 toneladas de plutônio que” não são mais utilizadas para as necessidades de defesa”. Estas matérias físseis bastariam para fabricar milhares de artefatos explosivos e, além disso, estão estocadas em instalações insuficientemente protegidas e em péssimas condições de segurança.
Eis um dos únicos meios que, um dia, os “terroristas” terão para fabricar um engenho explosivo. Para afastar este perigo bastaria diluir o urânio enriquecido no urânio natural. Mas por questões financeiras ou comerciais, somente 200 toneladas foram diluídas desta maneira após o fim da Guerra Fria. A neutralização do plutônio é mais complicada, mas não impossível tecnicamente: desde 1991 somente 180 gramas de matéria fissil foram neutralizadas.
Esforços modestos
Outra maneira de conseguir um explosivo: aproveitar-se da disseminação das armas, principalmente em países como o Paquistão, o Irã ou a Coréia do Norte. A política de não-proliferação constitui, portanto, um elemento essencial da luta contra o terrorismo nuclear. Mas ela foi combatida por muito tempo pelos neoconservadores norte-americanos e os países europeus nem sempre a tratam como uma de suas prioridades.
O “terrorismo” não é uma fatalidade. Uma outra política no Oriente Próximo e na Ásia – e não somente medidas exclusivamente militares – poderia reduzir o número de kamikazes. Uma cooperação internacional intensa contra o tráfico de todo tipo, começando com medidas eficazes contra a lavagem de dinheiro, limitaria os meios materiais de que dispõem as organizações criminosas. No entanto, os esforços permanecem modestos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos.
Um risco real
O “terrorismo nuclear” constitui um risco real. Os dirigentes têm o papel de reduzir a probabilidade e não de fazer dele um instrumento de governo pelo medo
O risco de terrorismo nuclear não é novo: tomamos consciência dele a partir de 1943, mas, até hoje, o consideramos como pouco provável demais para tomarmos medidas enérgicas. Se avaliamos a partir de agora que ele representa um perigo iminente, então é preciso tomar, com urgência, medidas draconianas de prevenção. Mas o presidente George W. Bush e sua equipe utilizaram o terrorismo nuclear como um espantalho – sem citar o menor fato reconhecido que justificasse este súbito alarme nem tomar nenhuma disposição séria para enfrentá-lo.
Na verdade, querem, principalmente, tetanizar a opinião americana e lhe fazer aceitar a defesa anti-mísseis, a guerra no Afganistão como no Iraque e, mais amplamente, o conjunto do programa dos neoconservadores pelo qual os eleitores não lhe tinham dado nenhum mandato. O “terrorismo nuclear ” constitui um risco real, cujas conseqüências poderiam ser catastróficas: os dirigent