Um panfleto contra a guerra
Autor de um texto proibido em 1917, o escritor Lucien Descaves, da Academia Goncourt, só publicou seu panfleto antibelicista, Ronge-Maille vainqueur, em 1920. Como La Fontaine, Descaves utiliza-se de ratos para instruir os homens. Abaixo, alguns aforismosLucien Descaves
* O cadáver de um homem, esteja ele do lado da trincheira que estiver, sempre cheira bem.
* Quando se pensa que é o homem que se eleva acima dos animais nocivos! Nocivos, nós? Não mais do que ele.
* Já não basta ao homem destruir-nos: agora, devoram-se entre eles. Não os imitemos: limitemo-nos a devorá-los.
* Eles dizem que nós propagamos a peste, mas são eles que a declaram.
* Até agora, eles não empregavam líquidos inflamáveis senão contra nós… e eis que os estão usando em suas relações internacionais. É como os gases asfixiantes… Há muito tempo que tivemos esse tipo de presente! Eles sopravam sulfato de carbono dentro das nossas galerias e depois tampavam as saídas. E vibravam com a idéia de que nós iríamos sufocar lá dentro, como moscas. Mas nunca se é bárbaro pela metade… As experiências que fizeram conosco só poderiam conduzir a essas aplicações in anima vili.
* Quando cai um obus sobre um abrigo, esmagando-o, nunca são mencionados os ratos enterrados sob os escombros. E, no entanto, também são vítimas, e as mais inocentes.
* Nós somos, ao que dizem, um dos flagelos da agricultura. A guerra certamente é outro, pois toma da terra braços que lhe seriam indispensáveis. Então, de que se queixa o homem? Quem se excita demais, pode durar menos. Portanto, que ele nos deixe tranqüilos: os estragos que fazemos são pouca coisa, comparados aos deles.
* O homem não inventou coisa alguma: nós escavamos galerias subterrâneas bem antes que ele. E agora ? quem sabe? ? à custa de vivermos juntos, talvez acabemos por confraternizar.
* Essa história de morte-aos-ratos… Vocês ainda verão que eles vão acabar por utilizá-la, um povo contra o outro, após o terem desbatizado.
* Há trincheiras em que não é possível dar uma dentada sem que se quebre ou rache um dente num estilhaço de obus. Mas o autor da fábula tem razão quando diz que sem um pouco de dificuldade não há prazer.
* Um pouco de paciência, homens exigentes! Cada coisa a seu tempo: nós limpamos hoje o campo de vossas chacinas; mais tarde roeremos a História que as recordará. É um trabalho e tanto…
* É verdade que depois da guerra haverá enormes espaços abandonados, estéreis…; mas, por outro lado, a propriedade fundiária alcançará preços exorbitantes. Não estão já dizendo, em alguns lugares onde se travaram furiosas batalhas, que um terreno de 300 metros quadrados vale mil homens?
* E agora, que conseguiram a paz, a que carestia de vida irão nos reduzir, para que tenhamos saud