Um pas de deux com a política
O que viria a se chamar arte coreográfica nasceu no século XVII. O poder pretende opô-la à tradição popular, instaurando, assim, uma divisão e uma hierarquização duradouras. Nos anos 1980, foi a dança contemporânea que se tornou a norma de distinção, enquanto a arte era vista como um meio de remediar os males do capitalismo
Ao contrário do que aconteceu na música ou nas artes plásticas, as elites culturais francesas pouco se interessaram pela arte coreográfica durante boa parte do século XX. Foi na Alemanha (Mary Wigman, Rudolf Laban) e nos Estados Unidos (Isadora Duncan, Martha Graham) que emergiu a dança “moderna”, e não na França, onde a dança clássica exercia sua hegemonia, encarnada pelos corpos de baile dos teatros de ópera. Isolados da intelectualidade, dominados estética e politicamente, os bailarinos perderam seu encontro com a modernidade. E, quando, em 1961, o ministro da Cultura, André Malraux, criou uma diretoria de teatro, música e ação cultural, a arte coreográfica ainda era sinônimo de balé clássico. Essa situação remete à história. No fim do século XVI ocorreu um deslocamento em direção à arte coreográfica. Uma dança erudita se formalizou na corte.[1] Juntamente com a esgrima e a equitação, sua função era afirmar o corpo civilizado adequado…