Uma reabilitação indecente
Em agosto, o mundo inteiro viu, leu e ouviu a glorificação dos 100 anos de Leni Riefenstahl. Nas entrelinhas da celebração unânime da cineasta do nazismo, percebia-se: “Esqueça a política. Valorize a estética.” Só que, enquanto artista, Riefenstahl é muito pobreLionel Richard
No dia 22 de agosto de 2002, Leni Riefenstahl fez 100 anos de idade. Acontecimento tão importante que teve repercussão nos meios de comunicação de massa internacionais em todo o mundo. Essa marcha foi orquestrada com a projeção nas telas de cinema de sua última obra: Impressionen unter Wasser (Impressões submarinas). E eis-nos bombardeados por expressões estereotipadas circunstanciais, em que a novíssima centenária foi apresentada como “uma jovem eterna”, um “mito”, uma “lenda viva”, uma “fabulosa aventureira”!…
Nas inúmeras entrevistas que ela deu após a guerra, assim como em suas Memorien (Memórias) de 1987, a ex-inspiradora de Hitler cansa de se auto-justificar. Certamente, era fascinada pelo Führer, desde 1932, e acreditava na política nacional-socialista. Mas jamais foi racista, jamais fez propaganda nazista, ignorou toda a repressão contra os antifascistas, os judeus, os ciganos, e sua única preocupação sempre foi com a Beleza.
“Judeus” caem fora dos créditos
Riefenstahl é direta: jamais fez propaganda nazista, ignora a repressão a antifascistas, judeus e ciganos: sua única preocupação foi sempre com a Beleza
Felizmente, em certos momentos, as comemorações tiveram algo de bom. Seu centenário teve a oportunidade de publicar sobre ela, na Alemanha, dois livros de autores jovens1. Com as devidas provas, eles quebram a credibilidade de seu apolitismo e de suas aspirações exclusivamente artísticas. No que se refere às suas infâmias, as congratulações que dirige a Hitler e seus pedidos de dinheiro a Goebbels. Mas eles relatam duas de suas desventuras, que testemunham seu arrivismo de maneira ainda mais sugestiva.
Para a realização de Das blaue Licht