Voltamos a nos encontrar para prestigiar a nossa própria história
Filmes brasileiros carregam nossa essência, nossa diversidade, nossa luta. Eles nos ajudam a entender quem somos e a nos enxergar no outro
Nos últimos meses, o cinema brasileiro viveu momentos inesquecíveis. Ainda Estou Aqui fez história ao vencer o Oscar de Melhor Filme Internacional este ano, levando a cultura e as narrativas do Brasil para o palco mais prestigiado do mundo. Além disso, o longa O Auto da Compadecida 2 ultrapassou a marca de 4 milhões de espectadores no país. Como se não bastasse essa conquista, o longa Vitória, protagonizado por Fernanda Montenegro, teve sua estreia nos cinemas nacionais e destronou até mesmo grandes produções internacionais, como o filme Capitão América: Admirável Mundo Novo. Esses três acontecimentos não são apenas vitórias do cinema, mas também da nossa identidade, da nossa gente e das histórias que insistimos em contar, mesmo quando os holofotes parecem estar voltados para outro lugar.
Quando um filme brasileiro ganha um Oscar, ele carrega muito mais do que um troféu para casa, ele leva consigo a voz de milhares de artistas, técnicos e criadores que batalham para que nosso cinema tenha seu espaço e reconhecimento. É a indústria criativa trabalhando a todo vapor para levar a nossa cultura a lugares que ela, normalmente, não chega. Ainda Estou Aqui mostrou ao mundo que o Brasil sabe emocionar e provocar reflexões profundas. Já Vitória nos lembra que, muitas vezes, os heróis não usam capas, mas sim a força da resistência silenciosa do dia a dia. Uma mulher que, sozinha, desafiou o tráfico de drogas em Copacabana. Uma senhora idosa que, com coragem e persistência, fez a diferença em sua comunidade. E ver essa trajetória ganhar vida nas telas, com uma atriz do tamanho de Fernanda Montenegro, é um presente para o público e um lembrete da potência das histórias reais que nos cercam.
Nosso cinema sempre foi gigante, mesmo quando enfrentou dificuldades para se manter de pé. Mas o reconhecimento internacional e a força de produções como essas mostram que o mundo está pronto para ouvir o que temos a dizer. Filmes brasileiros carregam nossa essência, nossa diversidade, nossa luta. Eles nos ajudam a entender quem somos e a nos enxergar no outro. Quando um filme nacional emociona plateias dentro e fora do Brasil, ele reafirma que nossas histórias importam e que precisamos continuar contando cada uma delas.

O Desafio do acesso
Mas, para que essas histórias realmente cheguem a todos, ainda há um desafio enorme: o acesso. Para muitos brasileiros, ir ao cinema continua sendo um luxo. O preço do ingresso, a falta de salas de exibição em muitas cidades e a pouca divulgação de filmes nacionais fazem com que grandes obras fiquem restritas a um público pequeno.
O cinema precisa ser um direito, não um privilégio. É fundamental que iniciativas como ingressos a preços populares e festivais gratuitos continuem crescendo, para que mais pessoas possam se emocionar, se identificar e se inspirar com nossas produções.
A vitória de Ainda Estou Aqui no Oscar e a estreia de Vitória não são apenas marcos para o cinema brasileiro, são marcos para todos nós. São um lembrete de que o Brasil tem histórias incríveis para contar e que o mundo está prestando atenção. Agora, cabe a nós continuar valorizando, assistindo e incentivando o cinema nacional, porque cada vez que uma dessas histórias encontra seu público, todos nós ganhamos. E essa, sim, é uma vitória para celebrar.
Emiliano Zapata é natural de São Miguel, Zona Leste de São Paulo. Diretor de inovação e políticas audiovisuais na Spcine, o comunicólogo e cineasta é apaixonado por semiótica e busca inovação com justiça audiovisual.