A arte do golpe de Estado
Em 19 de maio, o ministro do Interior da França participou de uma reunião de policiais que, diante da Assembleia Nacional, exigiam o endurecimento da legislação penal. Essa anomalia democrática foi precedida de duas petições de militares de extrema direita. Alegando indignação com uma suposta moleza do poder, eles inscrevem-se na longa tradição dos golpes de Estado
É mais fácil montar um golpe midiático do que um golpe de Estado, como demonstrado em artigo publicado em 21 de abril pela revista Valeurs Actuelles: um apelo assinado por duas dezenas de generais da reserva basta. Sobretudo em plena comemoração da morte de Napoleão (autor do mais célebre dos golpes de Estado) e do dia do aniversário do último golpe de Estado na França. A ambiguidade do texto, que sintetiza boa parte das obsessões paranoicas da extrema direita (sobre a “guerra racial”, o islamismo, as “hordas das periferias” e os vândalos), garantiu a polêmica. E, ao exigir que o governo impedisse a “guerra civil”, os signatários ameaçavam com meias-palavras um golpe militar por meio de uma formulação sutil que autoriza qualquer interpretação: “a intervenção de nossos camaradas da ativa em uma missão perigosa de proteção de nossos valores civilizacionais e de salvaguarda de nossos compatriotas sobre o território nacional”.1…