A dívida que enlouquece os credores
Os discursos sobre a dívida utilizam o vocabulário dos manuais de moral. De um lado, a culpa associada ao empréstimo; de outro, a virtude, encarnada na poupança. O credor correria assim para socorrer o próximo; o devedor expiaria seus erros com reembolsos. A fábula é bonita, mas funciona apenas no plano das ideias. É hora de trazê-la para a realidade
Há alguns anos, grandes países como França e Alemanha conseguem se endividar a taxas negativas.1 Em outras palavras, ganham dinheiro tomando emprestado e, o que é ainda mais surpreendente, os investidores concordam em perder dinheiro para emprestá-lo a eles. Como explicar uma situação tão absurda? Sem dúvida pelo fato de que os títulos do governo constituem um recurso essencial para os mercados financeiros. Mesmo antes do aparecimento das taxas negativas, a dívida pública desempenhou papel fundamental em seu desenvolvimento. A perspectiva, portanto, poderia ser revertida: a dívida pública seria menos um favor concedido a Estados pobres por credores generosos do que o “alimento terreno de que os mercados precisam”, nas palavras do diretor do diário financeiro La Tribune.2 Nas décadas de 1970 e 1980, a dívida pública de início permitiu o excesso de poupança, que ameaçava a economia mundial. Os países exportadores de petróleo acumulavam então montanhas de dólares que…