A presidência abalada de Erdogan
Em outubro, a Turquia comemora cem anos da república fundada por Mustafá Kemal. O presidente Recep Tayyip Erdogan pretende ser reeleito na próxima primavera para comandar essa celebração e se tornar igual ao “Ataturk” dos livros de história. Reveladoras das disfunções do Estado, as consequências dos terremotos de 6 de fevereiro poderão, entretanto, contrariar suas ambições
Segundo o chefe de Estado turco, foi “a catástrofe do século”. Com dez províncias afetadas, dezenas de milhares de mortos, entre os quais milhares não identificados, cerca de 2 milhões de desabrigados, muitos deles sem ajuda durante vários dias, bairros inteiros destruídos e numerosas infraestruturas públicas pesadamente avariadas, o duplo terremoto de 6 de fevereiro é de fato um cataclismo de grandes proporções. No entanto, independentemente da urgência humanitária, esse desastre levanta a questão da responsabilidade política do presidente, bem como da influência diplomática futura de seu país. A poucos meses das eleições legislativa e presidencial, que são cruciais, esses pleitos assumem outra dimensão. No poder desde 2003 e candidato à sua própria sucessão, Recep Tayyip Erdogan tem tudo a temer de uma derrota. Mais que nunca, ela obrigaria o líder e seus próximos a responder por acusações de fraudes e corrupção e por numerosas violações do Estado de direito…