A teoria zumbi das leis do mercado
Confira a seguir entrevista com Alain Deneault, professor de Filosofia Política da Universidade de Montreal, doutor em Filosofia pela Universidade de Paris 8 e diretor de programas no Collège International de Philosophie em Paris. Ele esteve no Brasil no fim de 2016 para participar do seminário internacional “Capitalismo extrativista e a gestão empresarial do ‘social’”, na Casa da Ciência da UFRJ
O Brasil tem se defrontado com a realidade gritante de relações pouco transparentes entre grandes empresas e instâncias governamentais. O senhor identifica as condições históricas que poderiam melhor explicar essas relações? Quando se fala hoje em multinacionais, de forma implícita evoca-se um poder de novo tipo. Diante dele, os Estados que quiserem resistir encontrar-se-ão impotentes, quando não completamente cúmplices. Geopoliticamente, certos Estados favoreceram a emergência desse novo poder e, em seguida, do ponto de vista da cultura política, inventaram todo um novo vocabulário para pensar a vida em comum no interior de nossas sociedades para se adaptar a ele. Em 1918, com o fim da guerra, os Estados, preocupados em se abastecer com petróleo, permitiram que grandes grupos do setor – Standard Oil, Shell, British Petroleum e a Total, então Companhia Francesa de Petróleo – constituíssem, no Iraque, um cartel que fundaria esse modelo de empresa multinacional que, de um…