A urgência de trazer questões de gênero para o centro do debate climático
Reconhecer e integrar a perspectiva de gênero nas ações climáticas e de saúde não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para fortalecer a resiliência das comunidades
A 77ª Assembleia Mundial da Saúde, realizada em Genebra na última semana, adotou uma resolução histórica que une as dimensões da saúde e mudanças climáticas. Proposta por uma coalizão de países, incluindo o Brasil, essa resolução marca um reconhecimento crucial das mudanças climáticas como uma grande ameaça à saúde pública global, enfatizando a urgência de uma ação global para promover a saúde e construir sistemas de saúde resilientes e sustentáveis.
A resolução destaca pontos essenciais:
- Reconhecimento das mudanças climáticas como ameaça à saúde: Eventos climáticos extremos, perda de biodiversidade e deterioração da segurança alimentar e hídrica estão impactando negativamente a saúde humana em todo o mundo.
- Integração de dados climáticos e saúde: Dados climáticos devem ser integrados aos sistemas de monitoramento de saúde para orientar processos de tomada de decisão e respostas mais eficazes.
- Mobilização de recursos financeiros: A resolução recomenda a conscientização pública sobre a interconexão entre mudanças climáticas e saúde, além da mobilização de recursos financeiros de diferentes fontes para apoiar projetos de saúde e clima, especialmente nas nações em desenvolvimento.
Embora essas medidas sejam fundamentais, é preciso destacar a inclusão da perspectiva de gênero na construção dessas propostas, tanto global quanto localmente. As mulheres são as mais impactadas pelas mudanças climáticas por causa das desigualdades preexistentes em acesso a recursos, poder de decisão e vulnerabilidades sociais.
Eventos climáticos extremos, como inundações, secas e ondas de calor, agravam essas disparidades, resultando em consequências devastadoras para a saúde física e mental delas. Além disso, as mulheres frequentemente assumem o papel de cuidadoras em suas famílias e comunidades, colocando-se na linha de frente da resposta a desastres climáticos, com inúmeros efeitos na saúde.
Há uma significativa lacuna de gênero na saúde. Apesar de viverem mais anos que os homens, as mulheres passam quase dois terços de suas vidas em mau estado de saúde, conforme relatório do Banco Mundial. Essa situação resulta de fatores biológicos, científicos, de investimento e culturais, gerando um impacto de US$ 1 trilhão ao ano até 2040.
A resolução da OMS prevê em seu 9º ponto “assegurar que as considerações de gênero sejam integradas em todas as ações climáticas e de saúde, promovendo a igualdade de gênero e a inclusão social em todas as atividades relacionadas ao clima e à saúde”.
Reconhecer e integrar a perspectiva de gênero nas ações climáticas e de saúde não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma estratégia eficaz para fortalecer a resiliência das comunidades. As mulheres, além de enfrentarem maiores riscos e desafios, desempenham um papel crucial na prevenção e adaptação aos desastres climáticos. Elas trazem consigo um conhecimento valioso e uma capacidade de liderança fundamental para desenvolver soluções inovadoras e inclusivas.
Assegurar que as vozes das mulheres sejam ouvidas e suas necessidades atendidas é essencial para a construção de um futuro sustentável e equitativo. Essa é uma oportunidade para reafirmar nosso compromisso com a equidade de gênero e a justiça climática, promovendo um mundo onde todos possam prosperar em harmonia com o meio ambiente.
Marina Barros, Michelle Ferreti e Tauá Pires são diretoras do Instituto Alziras.