‘Achados & Perdidos’: uma viagem pela solidão e identidade com Mario Oshiro
O roteirista mistura humor, drama e representatividades amarela e LGBTQIAPN+ em sua HQ young adult, lançada junto com a ilustradora Dominic Amaral
Em Achados & Perdidos, Mario Oshiro nos leva a uma jornada sensível e emocionante pela mente de Kenzo, um jovem que, sem memória de quem é ou de como chegou ali, é encontrado em um metrô de São Paulo. Este enredo distópico, com arte de Dominic Amaral, mistura humor e drama para tratar de questões profundas como saúde mental, solidão e identidade, tudo isso no contexto urbano e acelerado da capital paulista. A obra, voltada para o público jovem-adulto, traz personagens LGBTQIAPN+, com protagonismo amarelo, e convida o leitor a refletir sobre o pertencimento e os desafios da vida moderna.

Achados & Perdidos marca sua estreia nos quadrinhos. Como essa história evoluiu de um argumento cinematográfico para se tornar uma HQ? E o que te motivou a escolher justamente esse formato para dar vida ao projeto?
Desde pequeno, eu sonhava em escrever um livro. Sempre quis criar páginas que fossem um reflexo das minhas inquietações, dos meus sentimentos, mas que nem sempre conseguia colocar em palavras. E foi esse sonho que, aos poucos, começou a tomar forma.
A história de Achados & Perdidos surgiu em 2016. Na época, era um argumento cinematográfico que, inclusive, foi premiado e, por muito pouco, não saiu do papel para as telas. Mas quem já tentou tirar um projeto audiovisual do papel sabe que é uma montanha-russa — especialmente em tempos incertos. Entre orçamentos apertados, interferências criativas e aquele discurso de que “um romance gay não se encaixa ao grande público”, a ideia original foi se perdendo. E, de repente, o que eu tinha nas mãos já não parecia mais meu.
Então, decidi que era hora de retomar a história, mas dessa vez no formato que sempre admirei: uma HQ. Um caminho mais direto até o público, em que eu pudesse contar essa história do meu jeito, sem amarras criativas ou temáticas. Foi assim que transformei o argumento e roteiro audiovisual em um projeto pensado para os quadrinhos (essa decisão veio somente em 2023).
Em 2023, inscrevi o projeto no Programa de Ação Cultural – ProAC de São Paulo, na linha de Criação e Publicação de Histórias em Quadrinhos, e tive a alegria de ser contemplado. O apoio do ProAC foi essencial para viabilizar a obra e, mais do que isso, permitiu que eu reunisse uma equipe talentosa, como a ilustradora Dominic Amaral, que deu vida à história com sensibilidade e poesia. Achados & Perdidos é, então, a realização de um sonho que se reinventou ao longo do tempo.
Os temas de Achados & Perdidos — como pertencimento, identidade, saúde mental e representatividade — são muito potentes e contemporâneos. Como essas escolhas temáticas se relacionam com sua vivência pessoal e por que foi importante trazê-las para o centro da narrativa?
Escolhi os temas de Achados & Perdidos porque eles estão profundamente conectados com minha vivência e as inquietações que sempre carreguei. Como um homem gay de ascendência asiática, criado em uma metrópole como São Paulo, eu cresci em um ambiente onde tudo parecia frágil, descartável e acelerado, sempre moldado pelas expectativas dos outros. Essas questões, de certa forma, marcaram minha trajetória e se refletem nas histórias que crio.
Por isso, quis trazer para a HQ temas como pertencimento, identidade e saúde mental. São reflexões que dialogam com a complexidade de se encontrar em um mundo que constantemente tenta definir quem você deve ser. Acho que essas são experiências muito comuns, especialmente para os “jovens adultos” — pessoas entre 16 e 35 anos — que também vivem a pressão de atender expectativas, seja da família, do trabalho ou da sociedade como um todo.
Além disso, senti a necessidade de abordar questões como representatividade LGBTQIAPN+ e o protagonismo amarelo, porque são temas que historicamente foram negligenciados ou estereotipados. Quis contar uma história na qual essas vivências são centrais, mas também humanas e universais. Não é só sobre ser gay ou asiático, é sobre como essas camadas se entrelaçam com o amor, a conexão, a solidão e os recomeços.
O cenário de São Paulo e a ideia de uma distopia social também foram escolhas conscientes. São Paulo é um lugar caótico, que molda seus habitantes e, muitas vezes, os engole. Quis mostrar como esse espaço impacta a jornada dos personagens, transformando a cidade em um personagem por si só. Ao mesmo tempo, a distopia social surge como uma crítica às estruturas que tratam as pessoas como peças substituíveis, reforçando a sensação de isolamento e desconexão.
Por fim, os temas de redes sociais, encontros e desencontros e a fragilidade das conexões refletem o mundo contemporâneo. Vivemos hiperconectados, porém, mais distantes do que nunca. Quis explorar como isso nos afeta emocionalmente, criando histórias que toquem em algo familiar para todos nós.
Esses temas são minha forma de transformar experiências pessoais em algo maior, que dialogue com quem também já se sentiu perdido ou fora do lugar.
Achados & Perdidos traz uma série de mensagens tocantes — algumas explícitas, outras no subtexto. Quais ideias ou reflexões você espera que fiquem com o leitor depois da leitura? E como você trabalhou essas camadas simbólicas ao longo da narrativa?
Eu acho que essa pergunta pode ser respondida a partir de alguns trechos do livro, que trazem mensagens no subtexto. Aliás, amo essas frases de impacto: “A vida não é sobre encontrar alguém. É sobre se encontrar.” / “Não dá pra se encontrar se você nunca se perder.” / “Você acha que, em algum lugar lá em cima, tem um alien se perguntando se nós existimos?” / “Dá pra imaginar quantas voltas que o universo deu pra nos encaixar neste instante?” / “Às vezes, a maior aventura é atravessar a rua e começar uma nova conversa.” / “No final, a maioria de nós será esquecida, e isso nos liberta para viver plenamente.”
Mesmo se passando em uma realidade distópica, a HQ dialoga com questões muito humanas e cotidianas. Acho que uma das mensagens centrais é a importância de se perder para se encontrar — a jornada de Kenzo e Pedro mostra que a gente precisa se desviar do caminho esperado para descobrir quem realmente somos. Perder-se pode ser doloroso, mas também é um processo necessário para redescobrir a própria identidade.
Outro ponto forte são as conexões humanas. Em um mundo tão solitário e desconectado, a HQ mostra como os laços improváveis podem trazer sentido e transformar nossas vidas. Mesmo em meio ao caos, a empatia e o amor têm o poder de nos resgatar de certa forma.
Também quis trazer para a história reflexões sobre representatividade e aceitação. Ela fala sobre pertencimento, diversidade e a importância de se aceitar, especialmente para quem se sente à margem ou fora dos padrões. É um convite para celebrar a complexidade das nossas identidades.
Há ainda uma crítica à sociedade moderna, que aparece de forma sutil, mas presente. A história sugere como o sistema atual pode nos transformar em peças descartáveis, reforçando a necessidade de resgatarmos nossa humanidade em meio a essa lógica impessoal e caótica.
A obra parece carregar muito mais do que uma narrativa ficcional — ela nasce de vivências pessoais profundas. O que significou para você escrever esse livro e como esse processo impactou sua relação com sua própria história e identidade? Você acredita que a escrita do livro te transformou de alguma forma?
Esse livro representa muito para mim. Ele carrega não só uma história, mas também um pedaço da minha vida, das minhas dores e das minhas reflexões. Sempre fui uma criança fora dos padrões: gay, de ascendência japonesa, cresci num ambiente onde eu nunca me encaixei completamente. Era uma criança muito solitária, e, como muita gente da minha geração dos anos 80 e 90, não tive acesso a histórias com protagonistas LGBTQIAPN+ ou que refletissem a diversidade racial. Tudo girava em torno de protagonistas brancos, héteros, dentro de um padrão que, na época, parecia inquestionável.
Cresci com essa sensação de deslocamento, carregando a solidão e as dúvidas sobre quem eu era e onde eu me encaixava. Hoje, vejo como a sociedade evoluiu em termos de representatividade e fico imensamente feliz por ver histórias mais diversas ganhando espaço. Mas penso que, se lá atrás eu tivesse tido acesso a uma obra como Achados & Perdidos, talvez minha relação comigo mesmo tivesse sido diferente. Talvez a aceitação tivesse vindo com menos dor.

Por isso, este livro é tão significativo. Ele é, em parte, uma forma de colocar essas questões pra fora, de falar sobre juventude, medos e as interferências externas que nos moldam, às vezes de formas que nem percebemos. Mas ele também é provocativo, um convite à reflexão sobre quem somos e quem podemos ser.
Escrever esta obra foi, no clichê máximo, libertador. Eu a escrevi do meu jeito, sem concessões, pensando nas minhas próprias dores e questionamentos — questões que, acredito, têm apelo universal. Mais do que isso, pensei muito nas pessoas que vão ler essa história. Quero que elas encontrem nas páginas do livro um lugar seguro, uma história que as acolha e as faça sentir menos sozinhas.
Embora a HQ seja sua estreia literária, você já traz uma longa trajetória como roteirista. De que forma essa experiência prévia influenciou a construção do livro?
Achados & Perdidos é o meu primeiro livro publicado, mas não a primeira história que escrevi. Meu primeiro livro nasceu quando eu tinha apenas 10 anos — era um hobby, algo que me fazia feliz, mas que não tinha grandes pretensões. Anos depois, escrevi outros textos que nunca foram publicados, incluindo um livro infantil que pretendo lançar em breve (este escrevi durante a pandemia da Covid-19).
Embora esta seja minha estreia no mundo literário, minha bagagem de 15 anos como roteirista audiovisual foi essencial no processo de criação. Contar histórias sempre fez parte de mim, e essa experiência ajudou muito a estruturar a narrativa de Achados & Perdidos. Apesar de literatura e audiovisual serem mídias diferentes, ambas compartilham um elemento fundamental: o poder da narrativa. Tanto no cinema quanto na literatura, uma boa história precisa engajar, emocionar e manter o público preso até o final.
Uma das lições mais valiosas que aprendi no processo foi adaptar conceitos do audiovisual para o universo das HQs. Por exemplo, no cinema e na TV, usamos ganchos entre blocos ou episódios para manter o espectador engajado. Na HQ, percebi que a virada de página funciona como esse gancho — é ali que você precisa criar aquele momento irresistível que faz o leitor querer continuar.
Adaptar a história para os quadrinhos foi um processo divertido, especialmente porque a HQ, assim como o audiovisual, é muito visual. Toda a minha experiência com cinema e TV me ajudou a pensar no ritmo, na composição das cenas e na forma como as imagens poderiam complementar a narrativa. Foi um aprendizado constante, mas também uma oportunidade de explorar minha criatividade de novas maneiras.
Resumindo, “Achados & Perdidos” reflete tanto minhas experiências como roteirista quanto minha paixão por contar histórias, independente do formato.
Seu livro mistura comédia romântica, tragédia e distopia de um jeito muito próprio. Por que você sentiu que esse tom tragicômico era o mais adequado para contar essa história?
Escolhi trabalhar com comédia romântica — ou, melhor dizendo, uma tragicomédia ambientada em uma distopia urbana — porque é um gênero que me permite explorar diferentes camadas de emoção. Achados & Perdidos transita entre momentos leves e reflexivos, entre risadas e questionamentos existenciais, e eu acredito que essa mistura reflete muito o que é a própria vida: um constante equilíbrio entre caos e conexão.
Como contador de histórias, sou muito versátil. Já escrevi drama, terror, e histórias para públicos infantis e adultos. Não costumo me prender a um único gênero, porque acredito que cada história pede uma abordagem diferente. A escolha do gênero, para mim, é sempre muito intuitiva e natural. Otom tragicômico foi o que mais me permitiu explorar os temas que queria abordar — pertencimento, solidão, saúde mental, entre outros.
A tragicomédia, em especial, é um terreno onde me sinto confortável. É um espaço que me permite rir das coisas mais difíceis e, ao mesmo tempo, provocar reflexões mais profundas.
Quais referências dialogam diretamente com sua HQ e de que forma elas ajudaram a moldar o tom e a narrativa da obra?
Minhas influências artísticas e literárias são absurdamente amplas e diversas. Cresci sendo muito impactado por telenovelas, desenhos animados, livros de terror e filmes dos mais variados gêneros. Sou capaz de adorar reality shows e, logo depois, assistir a um filme da Sofia Coppola e chorar por horas. Assim como posso mergulhar em Dostoiévski e Stephen King ao mesmo tempo, sem nenhum problema. Acho que essa pluralidade reflete muito quem eu sou como criador: alguém que encontra inspiração em diferentes universos e formatos.
Especificamente para Achados & Perdidos, as referências também são bastante variadas, transitando entre literatura e audiovisual. Algumas obras que me influenciaram diretamente foram Heartstopper, de Alice Oseman, uma HQ que conquistou o público jovem adulto ao tratar de amadurecimento, amizade e amor LGBTQIAPN+; Oblivion, de Fabrício Martins e Laura Jardim, uma HQ brasileira que aborda temas como solidão, com uma narrativa que conversa muito com a realidade urbana e emocional; Fleabag, de Phoebe Waller-Bridge, pela mistura de humor ácido e reflexões sinceras sobre a vida moderna, algo que inspira o tom tragicômico da HQ; I May Destroy You, de Michaela Coel, uma série corajosa que trata de temas como consentimento e trauma com uma profundidade que admiro; Medianeras, de Gustavo Taretto, um filme argentino que traduz muito bem a sensação de busca por conexão em um cenário urbano; Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola, cuja sensibilidade ao explorar alienação e conexão em um ambiente estrangeiro me marcou profundamente; e Meia-Noite em Paris, de Woody Allen, pela forma como mistura nostalgia, arte e reflexões sobre pertencimento.
Como você descreveria seu estilo de escrita e a estrutura adotada para Achados & Perdidos?
Gosto de criar histórias que fazem as pessoas encontrarem algum tipo de significado, que seja transformador, de modo que não se pareça com uma dissertação acadêmica (risos) ou coisa do tipo. Minha escrita é provocativa, ácida e, muitas vezes, debochada — mas sempre com o objetivo de criar narrativas que transformem e toquem o público. Quero que minhas histórias deixem aquela “pulguinha atrás da orelha”, às vezes até um gosto amargo, mas que tragam também identificação e inspiração.
Embora Achados & Perdidos seja uma distopia, ela dialoga muito bem com a realidade contemporânea. A HQ tem 7 capítulos, e cada um foi pensado como se fosse um episódio de uma série. A estrutura que adotei é a clássica de três atos, com seus pontos de virada, quebras de expectativa e alguns plot twists que surpreendem. O final é agridoce, trazendo um equilíbrio entre esperança e melancolia.
Desde quando você começou a escrever e o que te motivou a criar histórias? Como essa paixão por contar narrativas se manifestou ao longo da sua vida?
Eu escrevo desde muito jovem, praticamente desde sempre. Sempre fui uma criança solitária, os livros e a TV eram minhas grandes companhias. Além disso, ouvir as histórias de terror e os “causos” que meu avô e meu tio contavam também me inspiravam. Comecei a escrever em cadernos, mas tinha muita vergonha de mostrar para as pessoas. Guardava tudo para mim, como um segredo. Meus brinquedos também eram parte desse universo. Eu criava novelas, personagens, e cada brinquedo virava um “ator”, mudando de papel conforme a história. Usava tudo que tinha à mão: desde comandos em ação e pokémons até as Barbies da minha irmã, caroços de manga, massinhas de modelar e surpresinhas de Kinder Ovo. O Pikachu de plástico que eu tinha, por exemplo, já foi de porteiro de prédio a vilão da trama. Nada escapava da reciclagem criativa. Com o tempo, comecei a brincar com meus primos. A gente fazia os “filminhos”, e eu criava as histórias e dirigia tudo, só faltava a câmera. Tinha ketchup para o sangue falso e até a vizinhança envolvida nas tramas, geralmente histórias de terror. Era tudo muito improvisado, mas extremamente divertido. Eles amavam e eu me realizava.
Eu não me tornei um contador de histórias, eu sempre fui. Essa paixão por criar narrativas me acompanha desde a infância e, de certa forma, moldou quem eu sou hoje.
Você tem algum ritual ou hábito específico para se preparar para a escrita? Como organiza seu processo criativo e lida com os bloqueios durante o desenvolvimento das suas histórias?
Eu sou muito camaleão, me adapto facilmente para escrever qualquer tipo de história e formato, então não tenho um grande ritual. Sou o contrário do procrastinador, sou uma pessoa muito produtiva que consegue trabalhar em vários projetos ao mesmo tempo. Não quero romantizar a produtividade, porque muitas vezes eu acho que deveria ser mais ocioso, mas não sou.
Talvez meus rituais sejam mais simples: acordar, tomar banho, tomar um bom café e começar a escrever. Quando bate um bloqueio, gosto de ir pra varanda e olhar para o nada, para o horizonte, à procura de inspiração (ou tomar um bom banho).
Não posso esquecer também das minhas playlists musicais. Cada projeto tem sua própria playlist que me ajuda muito a criar. E eu sou um pouco maluco, pois gosto de encarnar meus personagens, falar como eles, sentir as emoções durante o processo de criação.
Quais são os seus projetos atuais de escrita e audiovisual? O que podemos esperar de novos lançamentos e iniciativas nos próximos meses?
Atualmente, estou com alguns projetos de escrita em andamento. Tenho um livro infantil já pronto e também estou planejando iniciar outro, cuja história já está completamente definida na minha mente.
No audiovisual, estou para lançar o curta documental NEON, dirigido por Daniel Petrilho. Fui o roteirista desse documentário, que conta a vida da ativista Neon Cunha. Sua trajetória foi marcada por diversos tipos de preconceito, como racismo, LGBTfobia e preconceito social, além de uma constante sensação de não pertencimento. Neon foi pioneira no Brasil ao conquistar o direito de retificação de nome e gênero para pessoas trans, sem a necessidade de laudos médicos e psiquiátricos, algo que abriu portas para muitas outras pessoas.
Outro projeto que estou finalizando é Tarântula, no qual estou dando os últimos retoques no tratamento do roteiro para começar a filmagem. Além disso, estou participando do lançamento do reality show Próximo Hit, que será exibido no Canal E!. E, para 2025, estou envolvido em mais três projetos de séries que prometem trazer novidades empolgantes.
Veriana Ribeiro é jornalista e escritora acreana com mais de 15 anos de experiência na área da comunicação, formada pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo (USP). Publicou o livro Coletânea dos Amores Partidos (autopublicação, 2021) e participou da coletânea Antes que eu me esqueça \ 50 autoras lésbicas e bissexuais hoje (Quintal Edições, 2021), além de escrever projetos literários independentes como zines e newsletters.