África do Sul, os judeus e o apartheid
Trinta anos após o fim do apartheid, a pequena comunidade judaica da África do Sul está mais dividida do que nunca. Uma parte aproveitou o sistema racista, enquanto a outra resistiu. Duas lições contraditórias do Holocausto se opõem: a do “nunca mais” universalista, que leva alguns a apoiar Gaza, e a da singularidade da tragédia judaica, que inspira outros a um sionismo conservador
Depois de contemplar as paredes cinzas de uma cela de prisão por 22 anos, Denis Goldberg cercou-se das cores das pinturas africanas. Quadros que celebram a vida, o prazer e o desejo e agora podem ser vistos na House of Hope [Casa da Esperança]: um prédio sóbrio e funcional na periferia da Cidade do Cabo constitui o legado do mais famoso judeu que lutou contra o apartheid. As crianças podem pintar e fazer teatro ali. No jardim onde as cinzas de Goldberg foram espalhadas, pássaros bicam a grama. É um lugar pacífico, mas sem nenhum caráter idílico no qual o passado poderia encontrar repouso. Três décadas após o fim do apartheid, o mar de telhados das townships de onde vêm as crianças paira sobre a paisagem ondulante da Cidade do Cabo com uma desolação revoltante. E as questões levantadas pelo legado de Goldberg estão muito presentes, questões sobre o que…