A eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro tem o maior número de candidatos em vinte anos. Concorrem, pela esquerda, Benedita da Silva (PT), Renata Souza (Psol), Henrique Simonard (PCO) e Cyro Garcia (PSTU) e, ao centro, Martha Rocha (PDT), Clarissa Garotinho (Pros), Eduardo Bandeira de Mello (Rede) e Suêd Haidar (PMB). Este artigo apresenta as principais propostas dos seis candidatos mais à direita na disputa: Eduardo Paes, Marcelo Crivella, Paulo Messina, Glória Heloíza, Luiz Lima e Fred Luz. Vários deles anunciam que vão planejar e resolver problemas por meio de diálogo, revisar contratos e licitações, dar continuidade às obras paradas, fomentar os polos industriais e a economia criativa, fortalecer o turismo, tornar a gestão mais ágil e informatizada, integrar e valorizar as diferentes áreas da cidade e, claro, ser transparentes e rigorosos no combate à corrupção. Messina vê o armamento da Guarda Municipal ainda como possibilidade a estudar, enquanto todos os demais cinco candidatos pretendem dotar de armas de fogo ao menos parte do contingente. Por outro lado, mesmo as candidaturas mais alinhadas ao bolsonarismo ou ao conservadorismo de costumes mencionam a população LGBTQI+ em seus programas escritos.

O atual governador do Rio de Janeiro está afastado e foram presos os cinco governadores anteriores (não contando os vices que assumiram). Na mesma toada, metade dos candidatos da direita a prefeito na capital do estado é investigada. A situação mais grave é a do atual alcaide, Marcelo Crivella, que tenta a reeleição. Até o envio deste artigo, sua candidatura não estava deferida e aguardava julgamento de recurso, pois foi tornado inelegível pelo TRE por causa de condenação por usar funcionários e veículos da Comlurb, companhia de limpeza urbana, para transportar servidores públicos para a campanha de seu filho a deputado federal. O prefeito é alvo ainda na investigação de outros crimes. Paulo Messina, que foi o principal secretário municipal de Crivella, foi acusado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em setembro de 2020 de também participar de esquemas ilegais. Segundo o MPRJ, haveria na prefeitura uma disputa por recursos da corrupção entre dois grupos, um do qual faria parte Mauro Macedo, primo de Edir Macedo e tesoureiro de Crivella, e outro liderado por Messina. Já o ex-prefeito Eduardo Paes, líder nas pesquisas, está envolvido em acusações ou denúncias de caixa dois e de fraudes na contratação das empresas de ônibus e na construção do Complexo Esportivo de Deodoro, utilizado nos Jogos Olímpicos.
Eduardo Paes (Democratas) contraria a tendência recente do extremismo de direita e da negação da política. Busca se apresentar como o candidato experiente e bem avaliado que ocuparia o centro ideológico. Sua coligação de sete partidos se chama “A Certeza de um Rio Melhor”. Afirma que vai ampliar os recursos do programa Cartão Família Carioca e criar novos restaurantes e farmácias populares, oferecer tablets com internet móvel para todos os estudantes da rede pública e microcrédito para as pequenas empresas.
Crivella (Republicanos) apela diretamente ao eleitorado evangélico sem os pudores laicos da eleição passada: sua coligação de oito partidos se chama “Com Deus, pela Família e pelo Rio”. Segundo a Agência Lupa, Crivella descumpriu 80% das promessas da campanha, mas seu novo plano de governo também é ousado. A meta é 80% dos serviços oferecidos estarem acessíveis pela internet até 2023. Para transformar o Rio em uma smart city, quer instalar, via PPPs, pontos de wi-fi e câmaras com reconhecimento facial. Esse tipo de vigilância e coleta de dados se estenderia às crianças, em outra inovação: a Escola Digital. Esta utilizaria uma plataforma chamada Escola.Rio, em que o registro de entrada e saída das crianças, que receberiam notebooks, seria feito por reconhecimento facial. Crivella propõe ainda a criação do Banco Carioca de Fomento para pequenos empreendedores e muitos incentivos fiscais para grandes empresas.
Paulo Messina foi líder da bancada de Crivella na Câmara Municipal e seu chefe da Casa Civil, chegando a ser chamado de “primeiro-ministro”. Em 2019, rompeu com ele e se tornou vereador de oposição. Nas duas últimas legislaturas, Messina trocou sete vezes de partido, só entrando no MDB em abril de 2020. Segundo seu programa, promete novos concursos públicos, mas realizará controle digital do ponto dos funcionários de todos os órgãos municipais. Quer revisar a concessão da Cedae, estatal de capital misto, citando o exemplo de Niterói, que privatizou os serviços de fornecimento de água e saneamento. Prevê a coleta seletiva de lixo pela Comlurb e a cessão de terreno para empresas privadas de reciclagem, com isenção de IPTU e linhas de crédito para aquisição de equipamentos.
Glória Heloíza parecia seguir os passos de Wilson Witzel em sua eleição para governador. Em março de 2020, ela pediu exoneração como juíza e filiou-se ao mesmo partido dele, o PSC, em cerimônia com o presidente da legenda, pastor Everaldo. Entretanto, este foi preso sob acusação de liderar esquema de desvio de recursos da saúde destinados ao enfrentamento da pandemia. Denunciado como cúmplice, Witzel foi afastado do cargo e sofre processo de impeachment. Ainda assim, o programa de Glória Heloíza adota o discurso contra o “toma-lá-dá-cá da velha política” e propõe como alternativa a instituição de emendas impositivas dos vereadores no orçamento, para deixar de existir a troca de emendas dos parlamentares municipais por apoio automático deles aos projetos da prefeitura. Em seus discursos, a candidata enfatiza a necessidade cultural e para o turismo de valorização das identidades de cada bairro.
O ex-nadador Luiz Lima (PSL), que ingressou na política como secretário nacional de Esportes de Alto Rendimento de Michel Temer e é vice-líder do governo Bolsonaro, tem histórico de atleta e disputa com Crivella a condição de candidato bolsonarista. Seu programa de governo prevê um “choque fiscal na máquina pública”, ou seja, a demissão de funcionários do município até “eliminar ineficiências e atingir o tamanho ideal para a força de trabalho”. Pretende privatizar a Cidade do Samba e o Sambódromo. Curiosamente, quer incentivar ensaios técnicos das escolas de samba nesse mesmo Sambódromo que pretende vender. Também visa privatizar a Cedae.
Bandeira de Mello não é o único ex-dirigente do Flamengo a disputar a eleição. O candidato do Novo, Fred Luz, foi diretor-geral do clube. No partido, coordenou a campanha presidencial de João Amoêdo e participou da equipe de transição de Romeu Zema no governo de Minas Gerais. Fred Luz propõe descentralizar a gestão, fortalecendo subprefeituras. No mesmo estilo do recrutamento dos candidatos de seu partido, a escolha dos administradores regionais seguiria critérios empresariais. Faria o mesmo com os secretários municipais, vedando esses cargos aos vereadores. Zema, no entanto, fez o inverso no governo mineiro, indicando vereador do Novo para chefe da Secretaria Geral.
*Guilherme Simões Reis é professor da Escola de Ciência Política da Unirio.