Artista, eu sou um luxo…
Como é a vida profissional de um artista festejado pela crítica e por seu público, mas que é ignorado pelas rádios e pela televisão? Quais questões – íntimas, sociais, políticas – são suscitadas pelo sucesso limitado? Um cantor estampado como “de qualidade” procura responder a essas questões
Eu me chamo Pascal Bouaziz. Sou cantor. Tenho 49 anos. Vou falar de mim. É o único assunto sobre o qual considero ter certa competência. Digo que sou cantor, mas desde meus 30 anos fui muitas outras coisas paralelamente. Nem sempre é fácil ser apenas cantor. Na verdade, para a maioria dos músicos, é muito complicado. Há poucos anos, graças à minha banda, pude novamente me dar ao luxo de voltar a ser um verdadeiro artista em tempo integral: um intermitente do espetáculo.1 Já tinha sido, quando jovem, um trabalhador temporário, esporádico – um ano empregado e meses sem emprego, períodos intermináveis na miséria, endividado e sem um tostão... com o banco que suga seu sangue com juros exorbitantes (todos os parasitas decidem viver, de preferência, em corpos doentes). E vem a angústia, cada vez que você insere seu cartão no caixa eletrônico. Ser cantor é complicado.2 Recentemente, consegui acumular…