As intuições do marxista Mariátegui
Parte da esquerda latino-americana considera que a influência da obra de intelectuais ocidentais é uma forma de colonialismo. Não é o caso do socialista José Carlos Mariátegui, nascido no Peru em 1894. A ele devemos a introdução do marxismo na esquerda regional, sem “decalque” nem “cópia”, mas também sem a busca por uma originalidade excessiva
A articulação da luta de classes e do antirracismo divide o campo progressista. Para alguns, a classe parece ser o fator determinante em todas as relações de dominação. Para outros, as formas contemporâneas de racismo resultam de uma cultura, ou seja, de representações pelas quais uma comunidade define sua identidade e o indivíduo, seu pertencimento ao grupo. Na maioria das vezes, o debate reativa uma polêmica estéril opondo os proponentes de uma “abordagem econômica” aos proponentes de uma “abordagem cultural”, como se a noção de classe recaísse exclusivamente no universo econômico, e a de raça, na esfera cultural. Esse debate muitas vezes omite a história do marxismo em um contexto colonial. Entre os pensadores que estudaram as condições econômicas da dominação racial e as condições culturais da dominação de classe, destaca-se uma das mais importantes figuras revolucionárias do continente sul-americano: José Carlos Mariátegui1 (1894-1930). Marxista heterodoxo, pouco conhecido na França,…