As ruas foram eleitas, e agora?
Para enterrar o legado de Pinochet, a maioria dos 6 milhões de votantes chilenos escolheu deputados constituintes alternativos ao sistema e conectados com as agendas por direitos sociais. Mas ainda restam armadilhas
Quando o pinochetista Jaime Guzmán foi assassinado em frente à Universidade Católica do Chile, em Santiago, no dia 10 de abril de 1991, ele já tinha cumprido uma missão política duradoura para as famílias mais ricas de seu país, que coincidem em sobrenome com a classe política conservadora. Guzmán foi o arquiteto da Constituição de 1980, imposta pela ditadura de Augusto Pinochet. Considerado um gênio do mundo jurídico da extrema direita, foi ele que formulou os mecanismos de autoblindagem neoliberal da Constituição, como o quórum de dois terços para reformas constitucionais, a subsidiariedade do Estado e o sistema eleitoral binomial, destinado a criar duopólios e emperrar as maiorias reformistas. Tais mecanismos eram uma espécie de trava “anti-Allende”, que bloqueavam a repetição de experiências semelhantes à Unidade Popular. A eleição de deputados constituintes do Chile, ocorrida nos dias 15 e 16 de maio de 2021, foi o começo da segunda morte…